Presidente Jair Bolsonaro e Sergio Moro trocam farpas sobre Lava Jato

Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter afirmado que a Lava Jato acabou, instaurou-se um clima de tensão entre ele e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, com os dois tendo trocado farpas desde a noite desta quarta-feira (7), continuando ao longo do dia de ontem (8).
Imagem de divulgação da Web
Moro afirmou, ainda na noite de quarta, que tentativas de interromper a operação “representam a volta da corrupção”. “As tentativas de acabar com a Lava Jato representam a volta da corrupção. É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?”, escreveu nas redes sociais o ex-ministro, que, enquanto juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, proferiu algumas das decisões mais conhecidas da operação. Moro, que deixou o governo rompido com Bolsonaro, acusando-o de tentar interferir na independência da Polícia Federal, respondeu a uma declaração feita pelo presidente no mesmo dia. Em uma cerimônia sobre medidas de desburocratização do setor aéreo, Bolsonaro disse que a Lava Jato acabou porque, segundo ele, “não tem mais corrupção no governo”. “Eu desconheço lobby para criar dificuldade e vender facilidade, não existe. É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação”, afirmou Bolsonaro. O presidente tem sido criticado por tomar decisões que contrariam os defensores do conjunto de operações e investigações iniciadas em 2014. Entre elas, a nomeação de Kassio Nunes para o Supremo Tribunal Federal (STF), um juiz tido como garantista (ou seja, que dá mais atenção aos argumentos dos acusados). O núcleo garantista no Supremo costuma impor derrotas à Lava Jato. Além do mais, Bolsonaro adotou nos últimos meses um tom mais pragmático e tem priorizado uma boa relação tanto com o Judiciário quanto com o Congresso Nacional, em contraposição ao discurso crítico da chamada velha política que marcou sua campanha eleitoral. Nota Em nota divulgada nesta quinta-feira (8), a força-tarefa da Lava Jato no Paraná lamentou a fala de Bolsonaro e disse que “forças poderosas” atuam contra a operação. Para os procuradores, a declaração do presidente indica desconhecimento sobre o trabalho da Lava Jato e “reforça a percepção sobre a ausência de efetivo comprometimento com o fortalecimento dos mecanismos de combate à corrupção”. A força-tarefa de Curitiba destacou ainda que, para que o trabalho continue, deve haver apoio da sociedade e consequente adesão “efetiva e coerente” de todos os Poderes. Os procuradores afirmaram que, “apesar de forças poderosas em sentido contrário”, possuem compromisso no papel do Ministério Público, “de promoção de justiça e defesa da coisa pública”. Mais Na manhã desta quinta, Bolsonaro fez novas críticas a Moro, desta vez durante cerimônia de encerramento do curso de formação profissional de agentes da Polícia Federal. “Temos um compromisso de combate à corrupção. Eu tenho colaborado com a Polícia Federal, ajudando ao escolher ministros não por critério político ou por apadrinhamentos, mas por critério de competência, como temos o ministro da Justiça André Mendonça. Me desculpem, muito, mas muito melhor do que outro [Moro] que nos deixou há pouco tempo. A prova está aí: recorde de apreensão de drogas, de recursos e de prisões de bandidos, entre outros”, afirmou o presidente. “Eu não tenho dado motivo para a Polícia Federal ir atrás dos meus ministros, diferentemente do que acontecia no passado”, completou. Também na manhã desta quinta, Moro fez outra publicação nas redes sociais para defender a operação Lava Jato. “Importante iniciativa do STF de levar ao plenário os inquéritos e ações penais. Essa mudança dará mais homogeneidade às decisões da Corte”, escreveu. No dia anterior, o STF decidiu que as ações criminais em curso na corte voltarão a ser julgadas pelo plenário do tribunal. Assim, a análise dos processos da Lava Jato sairão da Segunda Turma, que tem imposto sucessivas derrotas à operação. O ministro Luiz Fux é um defensor da operação, e esta foi a primeira vitória dele na presidência do Supremo contra a ala da corte que critica os métodos da Lava Jato. Fonte: https://www.oestadoce.com.br/
Zeudir Queiroz

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