Aécio acorda para derrota iminente e chama Marina de aventureira

O pastor Marco Feliciano é o mais novo apoiador da campanha de Marina Silva, confirmando a tendência fundamentalista de sua campanha
O pastor Marco Feliciano é o mais novo apoiador da campanha de Marina Silva, confirmando a tendência fundamentalista de sua campanha
Pressionado pelas pesquisas de intenção de voto contra as cordas do ringue eleitoral, o candidato tucano à Presidência da República, senador Aécio Neves, lançou um ataque, na manhã desta quarta-feira, contra a candidatura da ex-senadora acreana Marina Silva (PSB/Rede Sustentabilidade), ao classificar a candidatura dela como “uma nova aventura”, referindo-se, de forma velada, ao período do ex-presidente Fernando Collor de Mello. A uma rádio carioca, Neves reforçou sua esperança de chegar ao segundo turno. Após a entrada de Marina Silva na disputa, o tucano passou para a terceira posição com uma perda considerável de pontos do seu eleitorado para a substituta do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, morto no mês passado em um acidente aéreo. A última pesquisa do Instituto Datafolha coloca a líder da Rede com 34%, empatada com a presidenta Dilma Rousseff, e Neves com 15%. Aécio Neves também manteve o ataque a Dilma, ao afirmar que ela “fracassou” em seu governo e que “vai perder as eleições”. Neves disse ainda que “existem duas alternativas aí: uma é a candidatura da Marina, a outra é a nossa”. O candidato fez então uma série de críticas à candidata do PSB/Rede, que contém “um conjunto de contradições muito grandes”. Para Aécio, Marina precisa explicar “com clareza” como seria um governo de Marina Silva. – A candidatura de Marina tem suas virtudes, eu as respeito, mas traz também um conjunto de contradições muito grandes, ela fez toda a sua trajetória política no PT (…). chegou o momento de ela dizer com clareza o que significaria o seu governo, em que direção o Brasil vai. O Brasil não aguenta uma incerteza no seu horizonte, uma nova aventura – disparou o senador mineiro. Neves repisou o que disse em entrevista coletiva, na véspera, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao reconhecer um novo cenário eleitoral depois da morte de Eduardo Campos. – A grande verdade é que nós estamos vivendo uma nova eleição. Há 30 dias, era um outro quadro, antes do falecimento do meu amigo, o ex-governador Eduardo Campos. E agora existe um outro quadro – disse. Em linha com as críticas do candidato tucano, quanto à falta de posicionamento ou o discurso errático da adversária, a candidata Marina Silva voltou atrás e agora diz que irá tratar o pré-sal como prioridade caso seja eleita presidente da República, após afirmar sua intenção de paralisar a exploração de petróleo no mar devido aos riscos de um acidente ecológico. – O pré-sal continua com a prioridade, mas também haverá outras prioridades – disse a presidenciável nesta quarta-feira, durante sabatina ao portal G1, das Organizações Globo. Segundo afirmou, os recursos para a exploração “serão mantidos”. No último debate presidencial, realizado por Folha, Uol, SBT e Jovem Pan, a presidente Dilma Rousseff questionou Marina sobre o fato de ela não tratar com prioridade essa “riqueza tão invejada pelo mundo”. Marina, nesta manhã, reafirmou que pretende investigar em outras fontes de energia, como etanol, eólica e de biomassa, mas que, para isso, não é necessário transferir recursos. – Não há necessidade de tirar recursos do pré-sal para investir no etanol. O pré-sal vai gerar riquezas para investir em educação, tecnologia e inovação para que possamos investir em outras fontes – disse Marina aos jornalistas Tonico Ferreira, da TV Globo, e Nathalia Passarinho, do G1. Ela também disse que, em um eventual governo, pretende “corrigir as políticas erráticas que foram tomadas em relação aos combustíveis”. Fundamentalista Outro aspecto que preocupa a sociedade brasileira foi abordado, nesta manhã, pelo bispo de Jales (SP), dom Demétrio Valentin, que vê com temor a possível vitória na eleição presidencial da ex-ministra Marina Silva (PSB), uma evangélica da Assembleia de Deus. – Agora, a gente tem medo do fundamentalismo que ela pode proporcionar. Existe na Marina uma tendência ao radicalismo, pela convicção exagerada ao defender seus valores e suas motivações, que pode derivar para o fundamentalismo – disse o religioso, em entrevista ao diário de economia Valor. Segundo o bispo, Marina traz o risco de fazer da religiosidade um instrumento de ação política. Ele vê sua ascensão nas pesquisas como uma situação “irreversível”. A não ser que haja uma reviravolta em que comecem a pesar as fragilidades de Marina, que não estão no fato de ela não ser católica. Estão em ela ter pouca articulação política e portanto existirem dúvidas sobre como ela vai governar. Dom Demétrio ainda lamentou o fato de a presidente Dilma Rousseff não ter estabelecido “muitas pontes” com a igreja. – A Dilma tem um estilo mais autoritário, ela pouco nos convocou. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o fazia com muita frequência – disse. O aspecto fundamentalista da campanha de Marina aparece com mais nitidez no apoio oficializado pelo pastor Silas Malafaia e, agora, do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), conhecido por suas posições polêmicas contra homossexuais e outros temas, como o aborto. Feliciano sugeriu, nesta terça-feira, que o Pastor Everaldo, candidato à presidência por seu partido, desista da corrida eleitoral e também declare seu voto a Marina. O presidenciável registrava 3% das intenções de voto nas pesquisas, mas depois da entrada de Marina na disputa, caiu para 1%. – Neste momento, dadas as circunstâncias, se eu estivesse no lugar do Pastor Everaldo, eu pensaria em declinar da campanha e migrar para Marina, para não haver divisão no meio cristão – disse Feliciano. O deputado ressalta, no entanto, que continuará apoiando o candidato de seu partido caso ele não mude de ideia. Feliciano disse a jornalistas, nesta quarta-feira, ter ficado chocado com a primeira versão do programa de governo de Marina Silva, que apoiava o casamento gay, mas que comemorou o recuo da candidata diante da pressão de Malafaia. – Marina quis dizer, na mudança do projeto de governo, que não vai influenciar as crianças na escola. Uma coisa é você ensinar a criança a não ser preconceituosa. Outra coisa é você doutrinar a criança e dizer a ela que tudo isso é tranquilo e que ela pode inclusive experimentar. Nesse quesito, Marina foi clara. A presidente Dilma, não – concluiu Feliciano.
Zeudir Queiroz

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