Tradição da cavalgada une fé e aventura em Canindé

Canindé. Em cidades como Quixeramobim, Mulungu, Aratuba, Canindé, Tejuçuoca e Paramoti, os tradicionais passeios coletivos de cavaleiros já fazem parte do calendário de eventos socioculturais. Aventura, fé, devoção, coragem, respeito e amizade formam a mistura dessa modalidade esportiva e de lazer que renasce nos sertões do Ceará, reunindo praticantes de diferentes gerações. Passeio atrai cavaleiros de todas as idades, com espírito esportivo fotos: antônio carlos alves A cavalgada é uma prática milenar, que surgiu na África e na Europa durante a domesticação dos cavalos. Nas últimas décadas, voltou a dominar o cotidiano dos criadores desses animais, como uma forma de confraternizar os apaixonados por equinos e muares. Fé e devoção Para Luciano Costa, um dos participantes que organiza a “Cavalgada da Fé”, de Quixeramobim a Canindé, essa modalidade é uma prática cultural e social muito importante. “Estamos no 7º ano da viagem que leva “de Quixeramobim de Santo Antônio a São Francisco em Canindé”. A cada nova aventura, aumenta o número de participantes. Vamos manter viva essa tradição. Não podemos deixar que essa prática milenar deixe de existir´´, defende. Só a partir das últimas décadas a cavalgada começou a fazer parte da cultura brasileira com vários objetivos: cívico, religioso, esportivo, ecológico ou simplesmente ocasião para o contato com o homem e, com a natureza. “O passeio é realizado por grupos de homens, mulheres, jovens e crianças que percorrem trilhas, estradas, campos, fazendas, riachos e plantações. É uma atividade alegre, descontraída e ocasião para a contemplação da fauna e flora local´´, diz Luciano. Aceitação “Tudo começou por iniciativa de amigos e hoje se tornou tradição. A cavalgada envolve pessoas de diversas idades. Na primeira edição, começamos com 16 pessoas. Hoje já estamos com 32. É uma prova de que nossa ideia foi bem aceita. Graças a Deus, estamos mantendo uma tradição milenar´´, comemora o Presidente da Associação Cearense dos Cavaleiros de Enduro Equestre, Raimundo José. São 140 quilômetros de cavalgada entre os dois municípios, com direito a três paradas até Canindé. “Só usamos apenas 22 quilômetros de asfalto. A última parada acontece na localidade de Jacurutu, na primeira casa de alvenaria construída em Canindé no ano de 1812, onde os animais tiveram o descanso para depois chegar à cidade. No Parque de Exposição Francisco Diassis Bessa Xavier, eles foram recepcionados pelo Presidente da Associação dos Vaqueiros de Canindé José Curdulino Filho. No Ceará, muitos municípios já estão organizando o evento por ocasião das comemorações municipais, como festas religiosas, eventos agropecuários ou passeios ecológicos. A reportagem acompanhou a viagem de um grupo de aventureiros com destino à cidade de Canindé, no Sertão Central, para conhecer de perto a saga de uma categoria que se reúne para fazer o bem e até praticar atos de solidariedade. Manuel Lacerda foi um dos integrantes da viagem. “Na primeira vez, vim em um cavalo emprestado. Gostei do esporte e hoje tenho meu próprio animal. Enquanto vida eu tiver, não deixo de viajar nesse grupo”, disse. Confraternização Outro que participa ativamente das cavalgadas é o empresário Ricardo Porto. “Todos os anos venho como participante. É uma confraternização gostosa e emocionante´´,diz. Seu Raimundo Evanilson de Oliveira Lima de 64 anos que recepciona os viajantes na sua casa construída em 1812, a residência de alvenaria mais antiga de Canindé, também participa da festa na Fazenda Jacurutu, a 17 quilômetros de Canindé. “Estou muito feliz, porque entendo que nossa categoria precisa estar mais unida”, salientou. Mais informações: Associação Cearense dos Cavaleiros de Enduro Equestre de Canindé Fazenda Parelhas Telefone: (88) 9411.0972 ENQUETE Qual sua avaliação da atividade? “A viagem de Quixeramobim para Canindé é hoje uma das grandes aventuras que realizamos todos os anos. Nosso grupo é muito unido em torno dessas cavalgadas, porque existe fé, religiosidade e aventura ” raimundo josé Presidente da Associação “Foi a primeira viagem e já estou pensando no próximo ano. Fiquei maravilhado com o que vi durante os dias que viajei montado em um cavalo. Espero que outras crianças possam manter a tradição” dagoberto Neto Participante Gosto pela modalidade esportiva de pai para filho Canindé. Quando iniciou a primeira cavalgada com destino a cidade de Canindé, em 2006, o presidente da Associação Cearense dos Cavalheiros de Enduro Equestre, Raimundo José, contou apenas com o apoio de amigos. No início era tudo muito acanhado. A Associação Cearense dos Cavaleiros de Enduro Equestre foi pioneira nas cavalgadas pelos sertões de Canindé. Começou entre familiares, seguindo-se para amigos agora conquistou uma legião inteira de aventureiros A dificuldade para conseguir simpatizantes era difícil, mas com o passar do tempo o vaqueiro viu que seu projeto já estava no caminho certo. Segundo ele, tudo começou com a ideia do Luciano Costa atual vice-presidente, mas que já presidiu entidade. “Em 2007, o número de aventureiros aumentou e comecei a pensar grande. Juntamos mais amigos de Quixeramobim e começamos a organizar a cavalgada de forma mais profissional. Graças a Deus, o sucesso é isso que todo mundo está vendo´´, comemora. Raimundo José sempre fala em tom de paixão. “Em 2013, meu filho Dagoberto Neto fez a sua primeira viagem montado em um cavalo” lembrou. Hoje, com 10 anos, Dagoberto faz parte de uma nova geração que traz no sangue o amor por cavalo, aventura e fé. Hereditário Vestido a caráter, com roupa de vaqueiro, o garoto não esconde a paixão pela cavalgada. Segundo o pai, ela tem um carinho muito grande pelo animal. “Comprei esse cavalinho para que ele possa dar sequência a nossa tradição. É como diz o ditado, é uma tradição de pai e filho”, brinca o Presidente. Crianças como Dagoberto se juntam a outras que viagem com um só objetivo: participar da festa. Exemplos para os empresários Ricardo Porto que também leva o filho menor. Um detalhe, é que todos já montam em cavalos e sabem o que lhe esperam no futuro: seguir os passos dos pais e garantir viva a tradição de unir, cavalo, homem e crianças, com um só sentimento: não deixar que a cultura popular perca sua essência. Na opinião de Elson Gaspari, professor de História que estuda a cultura popular nos Sertões de Canindé, essa integração entre as Associações de Vaqueiros dos Municípios do Ceará tem um grande diferencial. Gaspari avalia que a cada movimento religioso, cultural ou de aventura que reúne essas classes, a cultura popular renasce. “É como se, a cada dia, colocasse água numa planta. Agindo assim, ela jamais irá morrer. É a mesma coisa da categoria de vaqueiros. Todos os dias eles estão integrados num só pensamento. Manter acesa a chama da cultura´´, explicou o historiador. Imaginário Quanto à presença das crianças na viagem, ele diz que tudo faz parte da tradição popular. “Os pais herdaram dos avôs dos meninos e agora querem que eles sigam o mesmo caminho, como é comum na nossa cultura”, finalizou Gaspari. E assim os cavaleiros são vistos sertão a dentro, conversando, cantando, orando, mantendo a tradição pela fé e o espírito esportivo, que passa de pai para filho e a família inteira. ANTÔNIO CARLOS ALVES COLABORADOR Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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