Sertanejo reza a São José por mais chuvas no Ceará

Na comunidade de Baú, em Iguatu, os fiéis rezam um trinário, durante o mês de março ( Fotos: Honório Barbosa )
Na comunidade de Baú, em Iguatu, os fiéis rezam um trinário, durante o mês de março ( Fotos: Honório Barbosa )
Iguatu O sertão cearense vivencia quatro anos seguidos de chuva abaixo da média e a atual quadra invernosa dá sinais de que será mais um período de estiagem. Quando os anos ficam escassos de água, aumentam as preces e o sertanejo fortalece a sua fé, apelando para o pai adotivo de Jesus Cristo, São José. No Estado, em 19 paróquias e centenas de capelas, os devotos rezam até o próximo sábado, participando de novenários, caminhadas e missas, em louvor ao padroeiro do Ceará. > Catedral realizará celebração solene neste sábado Na localidade de Baú, zona rural deste município, na região Centro-Sul do Ceará, os devotos não se cansam de rezar e renovar preces a São José. Já são 120 anos de devoção. As celebrações começaram no dia 1º e se estendem até o fim do mês. No próximo dia 19, será celebrada missa campal, sob a sombra de fícus-benjamim, ao lado da capela centenária, pela manhã, atraindo devotos dos sítios vizinhos. É dia de festa na comunidade. História de devoção Cada devoção tem uma história de fé. No sítio Baú, nasceu da experiência de um agricultor, mas por razão particular que diferencia dos pedidos por um bom inverno. Em 1896, o agricultor José Alves de Oliveira, fiel às tradições da religiosidade popular, em um momento de muita aflição, por ocasião do nascimento de um dos seus filhos, fez promessa e com a graça alcançada ergueu a capela e dedicou o templo a São José. A neta, Zenalda Alves de Oliveira, conta que a avó, Clara Alves de Oliveira, enfrentava um parto difícil, sem possibilidade de sucesso e risco de morte para a mãe e a criança. “Naquele tempo, não havia recursos de Medicina, presença de médicos e os partos eram feitos por parteiras”, lembra. “Depois de ver esgotados todos os meios, num ato de fé e de confiança, meu avô invocou a intercessão de São José e, como gratidão pela graça alcançada, edificou a capela”, conta Zenalda. Desde então, a família e os moradores celebram novenas ao longo do mês dedicado ao santo. Não é um novenário. É um trinário, pois são 30 dias de celebrações. “A fé se mantém, passando dos pais para os filhos”, observa Zenalda Oliveira. É verdade. O agricultor, José Vieira, lembra que, ainda criança, participava do novenário, ao lado dos pais. “Sou devoto, acredito em Jesus e em São José”, disse. “A gente começa a rezar desde cedo e continua com a fé em nossa religião”. A dona de casa Vilena Vieira de Souza também diz que os pais e avós participavam das celebrações na comunidade. “É uma tradição que a gente segue e, no dia do santo, moradores de outros sítios participam da missa com alegria e fé”. Orações por chuvas Em sua experiência popular, o produtor rural sabe que os homens tardam em apresentar soluções, políticas públicas eficazes, para combater os efeitos da secura que se arrasta no sertão. Resta-lhes, portanto, dirigir preces ao céu para que derrame água com abundância e melhore a vida na terra. São muitas as demonstrações de fé, de celebrações de novenário, de missas, procissões em louvor a São José nas cidades, nos distritos e nas vilas rurais dos municípios cearenses. Monsenhor Afonso Queiroga separa a ocorrência de seca e de chuva da vontade dos santos e de Deus. “Há um forte sentimento de religiosidade popular entre os católicos, os sertanejos, que precisa ser compreendido e respeitado”, frisou. “Os mistérios de Deus, entretanto, são incompreensíveis e cada devoto carrega a sua fé, a sua experiência particular”, finalizou. Além de um extenso período de celebrações, que foge ao convencional das demais festas de padroeiro, as novenas no Baú mantém um rito tradicional, em que os homens cantam os versos de uma oração antiga de São José e as mulheres respondem, em estilo de benditos. “São José é o nosso guia para a boa aventurança”, diz um trecho da oração. A devoção se mantém firme e, a cada noite, mulheres que cuidaram da lida de casa e os homens que passaram o dia na roça ocupam os bancos da capela para agradecer, renovar preces, cantar e rezar para o santo padroeiro. No centro das orações, como é de costume, os pedidos de chuva, de um bom inverno. Os agricultores mantêm a fé e se distanciam das explicações científicas. “Deus e São José não vão nos abandonar porque, mesmo nos últimos anos de seca, veio chuva”, disse o agricultor Francisco Barbosa. Apesar do quadro adverso, alguns produtores rurais pensam em fazer um segundo plantio de milho e de feijão. As chuvas não vieram em fevereiro e o veranico destruiu a plantação. “Perdi a lavoura, mas vou plantar de novo”, afirmou José Vieira. A aposentada Zenalda Alves de Oliveira reafirma que os moradores expressam fé inabalável no santo, que é patriarca da Igreja Católica. O agricultor Raimundo de Brito é um deles. “Tenho o costume de plantar no Dia de São José porque acredito no santo”, disse. O agricultor Paulino Bezerra de Oliveira disse que a tradição religiosa veio dos avôs e a devoção se mantém viva até hoje. “Nós somos pecadores, mas Deus terá piedade de nós”. A realidade geográfica do Semiárido nordestino favorece uma forte crença nos santos para socorrer os que estão na terra. São José, padroeiro do Ceará, é popular, cheio de devotos pelo sertão adentro. Homens e mulheres que rezam dias e noites pedindo desde chuva até um bom casamento. Posição da ciência A ciência desmistifica a crença sertaneja ao afirmar que a data em que se celebra o Dia de São José, 19 de março, não tem relação com a quadra chuvosa, que vai de fevereiro a maio, no sertão cearense. O sertanejo acredita que, se chover nessa data, haverá boas chuvas nos meses seguintes. Daí a crença em se esperar até o dia dedicado ao santo padroeiro do Ceará para fazer o plantio dos grãos de milho e feijão. O meteorologista da Funceme, Raul Fritz, afirma que, nesse período do ano, os raios solares são mais intensos no Nordeste, e, principalmente, no Ceará, por estar mais próximo da linha do Equador. É o período que marca o Equinócio, mudança de estação nos hemisférios. No Norte, inicia a primavera; e no Sul, o outono. Além disso, é quando costuma ocorrer a aproximação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o principal sistema atmosférico causador de chuva no sertão cearense. Programação Iguatu – Missa, na Catedral, às 8h, ofício ao meio-dia, procissão com a imagem de São José às 17h e Missa Solene, com o bispo dom Édson de Castro Homem, às 18h Missão Velha – São 268 anos de celebração de novenário em louvor a São José. Haverá, às 5h, alvorada festiva; às 6h, missa; às 9h, liturgia solene; às 11h, batizados; às 12h, salva de fogos; às 16h, missa; às 17h, procissão e em seguida sorteio de prêmios e show pirotécnico Catarina – A caminhada com o andor e a imagem do padroeiro da paróquia ocorre pela manhã, a partir das 8h, em seguida será celebrada missa solene, às 9h Limoeiro do Norte – Haverá missa solene, às 17h; seguida de procissão pelas ruas da cidade, a partir das 18h Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
Zeudir Queiroz

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