Órgãos exigem retratação de Sindicato dos Médicos

Presidente do Simec, no entanto, afirma que protesto foi mal interpretado e não há motivos para se retratar Os Conselhos Estadual e Municipal de Saúde classificaram como intolerantes e xenofóbicas as demonstrações do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), em nota de desagravo aos médicos estrangeiros. Além disso, exigiu retratação da entidade, por conta das atitudes hostis praticadas contra os estrangeiros do programa federal Mais Médicos, na noite da última segunda-feira (26), na Capital cearense. Cerca de 150 integrantes de movimentos sociais entregaram flores brancas para os médicos cubanos, cantaram e aplaudiram os profissionais após o segundo dia de aula na Escola de Saúde Pública do Ceará Foto: Bruno Gomes Na ocasião, os cubanos foram chamados de “escravos” e “incompetentes”. No protesto organizado pelo Simec, os manifestantes também gritaram frases como “voltem para senzala”. Mais de 20 entidades assinaram a nota, tais como a Associação 64/68 da Anistia do Ceará, Comitê Ceará Memória Verdade e Justiça, Associação de Juízes pela Democracia, e outras. A nota também fazia um apelo a todas as entidades médicas para que respeitem os médicos cubanos e outros estrangeiros e os acolham como merecem. Dos 96 médicos que estão participando do curso em Fortaleza, 37 serão lotados no Ceará, destes 26 são cubanos e o restante são de outras sete nacionalidades. Durante entrevista coletiva, realizada na Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), o secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, reforçou que o governo federal dará toda a proteção aos médicos estrangeiros. Além disso, frisou que estes profissionais não irão provocar desemprego nem gerar concorrência aos brasileiros, e esclareceu que sua área de atuação se restringirá a atenção primária. “Eles vão trabalhar nos municípios onde os médicos brasileiros não estão. É preciso que fique claro também que estes profissionais não vão praticar nenhum ato de nível terciário ou secundário, não vão executar nenhum procedimento cirúrgico ou anestésico. Além disso não irão dar plantão em obstetrícia”, esclareceu Odorico Monteiro. Sobre a agressão física sofrida por ele na noite de segunda-feira, como tapas e empurrões, o secretário disse estar analisando a possibilidade fazer um Boletim de Ocorrência (B.O.). Esclarecimento “O dia foi de explicações”, desabafa José Maria Pontes, presidente do Simec sobre os acontecimentos na noite da segunda-feira. Pontes disse que não há motivos para se retratar: houve apenas uma má interpretação dos fatos. “Durante todo o ato, agimos de modo pacífico, sem violência. No fim, houve maior tensão. Mas, o foco das vaias não era os cubanos, mas sim os gestores”, avalia. O médico reforça que não houve excessos, mas um ato de protesto legítimo. “Gritamos palavras de ordem como ´escravos´. Não era para atingir os estrangeiros, mas para protegê-los. Não aceitamos o trabalho escravo de jeito nenhum”, garantiu José Maria Melo. Confirma que momento foi tenso, sim, regido pela emoção. “Mas, nenhum gestor sofreu violência. Gritar palavras de ordem e vaiar não é ofensa, é direito de manifestação legítimo contra as autoridades”, finaliza. Apoio Uma saída bem diferente foi registrada, na noite de ontem, na ESP-CE. Ao contrário do que aconteceu na última segunda-feira (26), os médicos estrangeiros deixaram o local sob palmas e cânticos após o segundo dia de aula do curso de formação do Programa Mais Médicos. A manifestação, desta vez, de apoio, contou com a participação de cerca de 150 pessoas de movimentos sociais, que formaram um corredor solidário para a passagem dos profissionais. “Cubanos amigos, o povo está contigo”, “esses médicos são nossos, esses médicos são do povo, é com saúde que se constrói um Brasil novo”, entoavam o grupo, que também entregou flores brancas aos médicos. Conforme Tales Leitão, um dos representantes do grupo, ainda está sendo analisado a hipótese de ser impetrada uma ação judicial contra o ato ocorrido na segunda. “Nós sentimos qualquer tipo de agressão, especialmente contra o povo cubano, que são um exemplo de solidariedade. Esse ato não representa os médicos nem muito menos o povo brasileiro”, afirma. Ministro: ´atitude foi truculenta´ O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lamentou a postura dos médicos de Fortaleza que vaiaram os médicos cubanos. “Foram atitudes truculentas, incitaram o preconceito e a xenofobia”, disse Padilha, que visitou ontem o líder do PR no Senado, Antonio Carlos Rodrigues (SP), para pedir apoio à medida provisória do Mais Médicos. Jornalista de Natal criticou a aparência dos profissionais cubanos em comentário em uma rede social e foi alvo da indignação dos internautas “Eles (os médicos de Fortaleza) participaram de um verdadeiro corredor polonês da xenofobia, atacando médicos que vieram de outros países para atender a população apenas naqueles municípios onde nenhum profissional quis fazer atendimento”, disse o ministro. Ele afirmou que o governo vai insistir no programa, tirando dele qualquer conotação ideológica e partidária. “Até porque o primeiro governo a buscar médicos em Cuba para atender no Brasil foi o governo do PSDB. Fernando Henrique era o presidente da República e o governador de Tocantins (Siqueira Campos, hoje no PSDB, que trouxe os médicos) era do PFL”. Segundo Padilha, o governo recebeu apelos de todos os prefeitos, de partidos do País todo por médicos que possam trabalhar em seus municípios. Padilha disse ainda que o governo apresentará ao Tribunal de Contas da União (TCU) todos os documentos que forem pedidos para esclarecer a situação legal do Mais Médicos. Quanto à situação trabalhista dos cubanos, ele disse que em 701 municípios do País nenhum médico se propôs a lá trabalhar, seja brasileiro ou estrangeiro. Então, disse o ministro, o governo recorreu à Organização Panamericana de Saúde, que ficará responsável pelos contratos. Destaque O caso repercutiu nas redes sociais durante todo o dia de ontem. O vídeo da TV DN, que mostrava o protesto dos médicos, publicado no site do Diário do Nordeste, teve 30 mil visualizações até o fechamento desta edição. A maioria dos internautas repreendeu a atitude dos manifestantes. Houve também quem se pronunciasse contra a vinda dos estrangeiros. Por exemplo, a jornalista de Natal (RN) Micheline Borges questionou em sua página na rede social Facebook a formação das médicas cubanas, por conta da sua aparência física que, segundo ela, “parecem empregadas domésticas”. O comentário foi duramente criticado e a jornalista, após pedir desculpas pelo “erro”, fechou o seu perfil. Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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