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Protagonismo na educação – Das cadeiras da escola pública para as bancas da universidade

Professor há 26 (vinte e seis) anos, hoje readaptado de função (cirurgia em corda vocal há 6 anos), com inenarrável experiência em sala de aula que levou-me por vários caminhos de superação, desafios, descobertas e grandes realizações nos âmbitos profissional e pessoal.

Hoje discorro nestas linhas uma das mais belas experiências que tive enquanto professor, quando acompanhei de perto a trajetória de um aluno guerreiro e vencedor, a quem, a partir de agora, tenho o privilégio de relatar.

Foi meu aluno em todo o período do fundamental II (6º ao 9º ano), hoje anos finais, em Caucaia/CE. Foram grandes os desafios enfrentados, mas ele nunca desistiu, nem tão pouco se curvou diante das primeiras dificuldades no seu árduo caminho. Pelo contrário, viu nela, a possibilidade de crescer e transpor a todos os obstáculos.

Enfrentou sol, desafiou chuva. Superou separação de seus pais. Driblou as mais diversas dificuldades, desde a escassez de recursos financeiros para se deslocar até a escola e mais tarde à Universidade, enfim…

Um garoto sonhador como tantos outros, mas com um diferencial, a vontade de estudar, de vencer, sempre com fé em um Deus Soberano que tudo pode.

Cheio de entusiasmo ele encarou inúmeros desafios, inclusive a carência de roupas, livros, e tantos outros materiais que qualquer aluno inclusive do ensino médio ou mesmo universitário precisasse.

Mas ele superou. Recordo-me que na 8ª série, hoje 9º ano, destacava-se pela curiosidade, na seguinte fala quase sempre na hora da saída: “professor Adalberto, só 5 (cinco) minutinhos, me tire aqui uma dúvida, por favor.” E lá eu ia. Amava tudo aquilo… (risos). Ou então assistir a um filme direcionado, mas ele sempre com livro aberto estudando Química, em pleno reflexo da luminosidade do filme; dos números quânticos à tabela periódica. Era de impressionar… Tudo isso seria como se fosse brincadeira para ele. Dessa forma, foi subitamente tomado pela curiosidade, pela pesquisa, pelo conhecimento, e tudo isso enchia-me o ego, confesso.

Incentivei, motivei, desafiei e aconselhei… Lembro-me também já no Ensino Médio, quando fazia o 3º ano, ao me fazer um pedido se dirigindo até a escola ao qual havia estudado; quando na carta escreveu: “Professor Adalberto, me deixe dar aula no seu lugar, pelo menos por um dia, meu sonho…” E eu? Parado pensei… “Meu Deus, vou permitir?” Cheguei até a direção, e ela consentiu, sob minha orientação é claro. Foi uma experiência marcante!!!

Respaldo ele tinha em excesso, pelo fato de sempre ter sido em toda sua trajetória escolar, um excelente aluno.

Foi tudo muito mágico. De forma espontânea, ele “deu conta do recado”, falando assim, numa linguagem bem popular. Ele foi dez. Impressionante. E enquanto a mim, ao voltar para a sala de aula à turma foi resistente, queria ele de volta… (risos)

Não foi preciso insistir muito para que o mesmo chegasse até o campus da Universidade Federal do Ceará – UFC, quando pela primeira vez foi aprovado no vestibular, claro, em Química.

Não foi fácil concluir naqueles quatro anos o referido curso.

Jovem e aos 17 anos de idade, encarar desafios do tipo; passar a semana na Universidade, preocupar-se com alimentação, sem ter nenhuma experiência ao sair de casa, mas ele superou.

Não se conformando com a graduação em Química, veio então o esperado e sonhado mestrado na mesma área de atuação e na mesma Universidade. Lá ele se revelou ainda mais…

Já amadurecido e com uma certa experiência, traçou planos e, incentivado por familiares, professores e amigos, novamente ele foi vencedor. E defendeu com maestria sua dissertação de Mestrado. E eu nos bastidores, saltitando de alegria, sempre torcendo por esse campeão nato. Nunca me enganei em relação ao seu potencial.

Durante essa fase ele solidificou amizades, construiu outras, viajou, pesquisou, palestrou, estudou e mais uma vez sua estrela brilhou.

Hoje me envaideço e me encho de orgulho de ter tido um aluno de escola pública com esse potencial, com essa desenvoltura. E mais, por ser um grande amigo e conterrâneo de um Doutor em Química, na área de concentração em Química Analítica, pela Universidade Federal do Ceará – UFC, cujo tema de sua tese foi: “Sensores e Biossensores Eletroquímicos: Ferramentas Versáteis para a Determinação de Contaminantes Ambientais.”

Sim, isso mesmo, falo de FRANCISCO WIRLEY PAULINO RIBEIRO, onde exatamente na data de 30/07/2017 foi celebrado 3 (três) anos que o mesmo traz consigo esse venerável título, Doutor. Como se não bastasse em 2016 titulou-se com Pós Doutorado no Instituto de Química da Universidade Federal de São Carlos fazendo parte da mais nova geração de eletroquímicos brasileiros. Quanta honra!!!

O “discípulo ultrapassou o mestre.” (risos). Isso tudo somente me alegra e muito me emociona em saber que, mesmo diante de tantas dificuldades, sendo aluno de escola pública como tantos outros que passaram por mim, provou para muitos que, quando se quer, sempre é possível com muito esforço e dedicação realizar os sonhos.

Digo que me envaideço no sentido de ele nunca ter perdido o foco, a esperança, a humildade, e o mais importante sua identidade, “suas raízes”, bem como todo um histórico de estudar em escola pública, levando para diversos lugares do mundo seu nome que construiu, o da Universidade que nele acreditou, das escolas pelos quais passou, dos professores e diretores que tanto o incentivou, de seus colegas que sempre o motivou e de sua família que mesmo na adversidade o apoiou.

Em particular me sinto lisonjeado quando em seu agradecimento de sua dissertação de doutorado, ter citado meu nome, isso para mim é gratificante e sem sombra de dúvida, uma linda homenagem de gratidão e reconhecimento, pois essas seriam as palavras-chaves. Como disse o grande educador Paulo Freire: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” E isso ele fez com louvor.

Diante de todo esse relato, chego a questionar: “Será que a escola pública não tem mais valor mesmo?”, “Ela realmente não prepara alunos para a vida?”, “O aluno de escola pública lamentavelmente “não quer nada mesmo com os estudos”, como tantos outros afirmam?”, “Os professores de escola pública não ensinam realmente nada?” Será? Percebo que corro risco de ser demagogo ao querer responder a esses questionamentos.

Acredito fielmente que a relação professor-aluno faz toda a diferença!!!

A motivação é o diferencial. Aqui se dá espaço para várias reflexões diante do exposto.

Precisamos de políticas públicas sim para uma educação mais eficaz, sobretudo precisamos também de profissionais que exerça o seu papel de professor motivador, aquela figura não mais “com ar de autoridade”, mas de facilitador no processo educacional.

Antes de tudo necessitamos sim, de resgatar valores humanos para uma educação prazerosa e desafiadora, onde ele, o aluno, é o foco, a razão, a relevância na educação de quaisquer forma que seja.

Indubitavelmente teremos uma educação saudável, prazerosa e com grande retorno para sociedade atual.

De nada adianta livros sofisticados, lousa digital e outros materiais de ponta se não tocarmos a alma dele, nosso aluno.

Parabéns à escola pública que apesar de toda sua dificuldade exerce de forma séria seu papel como instituição transformadora, parabéns aos professores que lutam pela uma educação de qualidade, parabéns aos pais que embora na maioria das vezes mesmo não podendo dar um maior suporte aos filhos, sempre acreditaram que a educação é o melhor caminho. Parabéns a Universidade Federal do Ceará por dar suporte e descobrir mais um pesquisador nessa área de difícil interesse, parabéns a Universidade Federal do Cariri – UFCA por constar no seu quadro de docentes um excelente professor.

Parabéns ao professor pesquisador Doutor Francisco Wirley Paulino Ribeiro, meu eternizado aluno, pelo título merecido, pela superação, pelo sonho realizado e ainda, por acreditar e comprovar que a escola pública é também responsável em formar homens, cidadãos, doutores, quebrando tabus e destruindo barreiras.

Finalizo meu relato de experiência manifestando meu carinho, respeito e admiração ao atual professor da Universidade Federal do Cariri – UFCA, Doutor FRANCISCO WIRLEY PAULINO RIBEIRO, confirmado após homologação do resultado final do concurso para professor adjunto logrando o 1º lugar publicado no Diário Oficial da União em 20/07/2016.

Fica minha homenagem de reconhecimento e sincera gratidão a todos nós professores, tomando seu exemplo de garra e determinação, representando muito bem a nós que fazemos Educação.

Meus Sinceros Parabéns!!!

Professor Adalberto Anjos

Adalberto Anjos – Pedagogo, professor readaptado (por voz), Especialista em Psicologia das Relações Humanas (UVA), Pós Graduado em Ensino de Matemática (UECE), Graduando em Psicologia (FATE) e Assessor Técnico em Educação no Conselho Municipal de Educação de Caucaia – CMEC

Zeudir Queiroz