Segue encoberto o nome de um segundo brasileiro; além do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo Robson Marinho, que teria recebido parte dos US$ 2,7 milhões depositados por empresários a título de propina para o fechamento de contratos de energia, durante o governo do tucano Mário Covas. As autoridades suíças e brasileiras encobrem o nome do suspeito, que ocupa uma posição estratégica no PSDB nacional, “para seguir adiante com as investigações”, afirmou um agente judiciário à reportagem do Correio do Brasil, nesta segunda-feira, na condição de anonimato. O esquema teria se prolongado durante as gestões dos também tucanos José Serra e Geraldo Alckmin.
Os dados sobre a conta bancária secreta foram divulgados nesta terça-feira, na página do Tribunal Penal Federal da Suíça, na internet, e a movimentação completa com os pagamentos realizados pela multinacional será enviada à Justiça brasileira nas próximas horas. Na semana passada, a Justiça suíça já havia identificado outra conta de Robson Marinho, pela qual passaram depósitos na ordem de R$ 1,9 milhão, realizados por Sabino Indelicato, suposto pagador de propinas do caso Alstom.
Chances reduzidas
O conselheiro – que exerce alta influência na cúpula do PSDB no Estado de São Paulo – teria recebido suborno, segundo os investigadores, para liberar um contrato entre a Alstom e a Eletropaulo, então estatal de energia paulista. A Justiça suíça apurou que a conta de Marinho chegou a movimentar US$ 2,5 milhões, dos quais R$ 2,3 milhões estão bloqueados. Marinho segue como um dos principais suspeitos no Ministério Público Estadual. A identidade daquele segundotucano suspeito “estaria prestes a ser revelada”, segundo afirmou o funcionário público ao CdB.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também foi citado no escândalo. Ex-diretor da multinacional alemã Siemens, outra empresa acusada de pagar propina a políticos tucanos paulistas, Everton Rheinheimer revelou, em depoimento à Polícia Federal, manter relações com o lobista Arthur Teixeira, indiciado sob acusação de intermediar propinas no cartel, com quem o parlamentar tucano se relacionaria.
Nunes Ferreira nega o envolvimento com Teixeira mas, na semana passada, perdeu o controle ao ser questionado sobre o caso e gritou impropérios a um blogueiro de Brasília. Cotado para ser vice de Aécio Neves, ele viu suas chances ficarem reduzidas ao xingar Rodrigo Grassi, que mantém uma página de notícias e comentários na internet.
Nesta terça-feira, o deputado Carlos Giannazi, líder do PSOL na Assembleia, voltou a pedir a convocação de Marinho para depor, na tentativa de apurar o grau de envolvimento de líderes tucanos com o propinoduto. Ele aponta para a “injustificada inércia desta Casa Legislativa na tomada de qualquer providência, diante do poder-dever fiscalizador inerente ao Legislativo”.
Esquemão
O esquema de corrupção criado pela Alstom, segundo apura a Justiça suíça, pode ter sido mais abrangente. A multinacional francesa teria criado empresas-laranjas, com sede em Genebra, e que funcionariam para repassar propinas a agentes públicos brasileiros. Os suíços acreditam que o segundo suspeito, ligado à alta cúpula dos governos Serra e Alckmin e que tem sua identidade mantida em segredo “também estaria implicado nos demais esquemas de corrupção”. A conta recebeu, entre 1998 e 2005, um montante total de mais de US$ 2,6 milhões.
O dinheiro, segundo a investigação, foi depositado por uma empresas criada pela Alstom. O titular da conta, que também não teve sua identidade revelada, seria uma pessoa envolvida no esquema de pagamentos de propinas no Brasil. Os suíços constataram uma transferência no mesmo dia, 17 de março de 1998, pela empresa da Alstom a duas pessoas relacionadas com as investigações no Brasil. A conta identificada recebeu US$ 146,4 mil. A empresa depositou exatamente metade desse valor para uma pessoa citada apenas com a letra L e que seria “secretária” de um funcionário público brasileiro de alto escalão.
O advogado Celso Vilardi, que defende Marinho, afirma que as provas do caso Alstom são nulas porque derivadas de uma investigação em Genebra que foi declarada nula pela Justiça suíça.
– No Brasil não existe possibilidade de se utilizar esse tipo de documento derivado de provas ilícitas – disse a jornalistas.
A Alstom, institucionalmente, manifesta-se contrária ao pagamento de propinas.
Fonte: Correio do Brasil
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