O “Hypsolebias lulai” faz parte de um grupo chamado “peixe das nuvens”, que está entre os mais ameaçados no Brasil. A descoberta e a homenagem foi feita pelos cientistas da UFPB, UFRN, UEPB e da Unitau
Uma nova espécie de peixe foi descoberta na bacia do rio Trairi, no Rio Grande do Norte, região onde predomina o bioma Caatinga, e batizado de Hypsolebias lulai, em homenagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A descoberta e a homenagem foi feita pelos cientistas do Instituto Peixes da Caatinga, das universidades federais da Paraíba (UFPB) e do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade de Taubaté que publicaram um artigo na revista Neotropical Ichthyology, nesta sexta-feira (20/10).
A espécie em questão foi vista pela primeira vez por um agricultor em um assentamento no Rio Grande do Norte em agosto de 2022. O homem fotografou o peixe e enviou as imagens para Telton Ramos, biólogo do Instituto Peixes da Caatinga e da UFPB.
Após receber o material, o pesquisador reuniu uma equipe e organizou uma expedição financiada pelos seguidores das redes sociais do Instituto Peixes da Caatinga para coletar amostras da espécie na região.
A espécie descoberta em questão pertence a um dos grupos mais ameaçados do Brasil. Conhecido popularmente como “peixe das nuvens”, o gênero Hypsolebias possui 34 espécies (35 com a nova descoberta), pertencentes à família Rivulidade. A espécie representa os peixes mais ameaçados de extinção no Brasil, devido ao seu caráter endêmico (restrito a um único ambiente) de lagoas temporárias na caatinga.
O peixe descoberto mede cerca de cinco centímetros e apresenta um número maior de raios na nadadeira dorsal e de listras no corpo, além de uma coloração azul metálica, diferente dos parentes. Ele surge em poças ou lagoas temporárias formadas após a chuva, que é quando os seus ovos enterrados eclodem e sua população se restabelece. Esse ciclo de vida leva os ribeirinhos a associarem o aparecimento desses animais aos pingos de chuva das nuvens, por isso, peixes das nuvens.
O estudo revelou que os Hypsolebias lulai possuem um ciclo de vida de apenas três meses para crescimento e reprodução antes da poça ou lagoa temporária secar e toda a população de peixes morrer. “Devido a isso, espécies de peixes das nuvens estão sendo utilizadas em estudos sobre envelhecimento humano”, explica Ramos.
O lugar onde os Hypsolebias lulai foram encontrados chamou a atenção dos pesquisadores devido à distância de peixes semelhantes. O parente mais próximo da nova espécie está no Ceará, a cerca de 500 quilômetros de distância, o que fez os pesquisadores questionarem como a nova espécie surgiu no Rio Grande do Norte.
“Todos os aparentados dentro do grupo estão relacionados aos rios Tocantins-Araguaia, São Francisco e Pacoti”, diz Ramos. A presença de uma espécie do mesmo grupo tão longe de outras levantam suspeitas em relação às mudanças dos cursos de rios, especialmente do São Francisco, ao longo de milhares de anos.
“Este rio já mudou de curso várias vezes, o que explica a existência de espécies parentes em lugares diferentes. É possível que ele já tenha se conectado ao rio Piranhas, que é o mais próximo de onde a nova espécie foi encontrada, mas ainda é preciso que mais estudos sejam realizados na região”, comenta Fábio Origuela, co-autor do estudo, do Instituto Peixes da Caatinga.
Os pesquisadores revelaram ainda que a nova espécie reforça a ideia de que a Caatinga é um bioma diverso. “Falamos pouco de Caatinga. Existe a ideia de que é um local pouco diverso, seco, mas ela é riquíssima em biodiversidade”, aponta Ramos. A escolha do nome do peixe que faz referência ao presidente Lula foi escolhido para dar mais visibilidade aos grupos de peixes das nuvens.
“Estamos aquém do que deveríamos no conhecimento da diversidade e conservação desse grupo de peixes, sabemos muito pouco ainda, e o que não tem nome, não é protegido”, afirma Ramos. O grupo de pesquisadores pontuou que pretendem prosseguir monitorando a população do Hypsolebias lulai com a ajuda de moradores da região onde foi encontrado e continuar preservando as poças para avaliar melhor o estado de conservação da espécie.
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/
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