Na atual configuração do tabuleiro político nacional, no qual pequenos partidos podem se tornar o fiel da balança na disputa entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus adversários na oposição, hoje o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o legado do ex-governador gaúcho Leonel Brizola é disputado por ambos os lados. Mas, hoje, pende para a candidatura da presidenta Dilma Rousseff à reeleição, segundo revelou o ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Manoel Dias, em entrevista exclusiva ao Correio do Brasil.
O Partido Democrático Trabalhista (PDT), que encerrou um seminário em Brasília, na semana passada, embora tenha uma área considerável de apoios fechados à direita, busca afirmar-se como uma legenda no campo trabalhista.
– Somos uma legenda que existe por que é ideológica, e de esquerda. Com essas mudanças todas que aconteceram, com a criação de partidos e a liberação para transferências de parlamentares entre as legendas, muitos deixaram o PDT. Mas isso não é novidade para um partido histórico que, após a morte de Brizola, disseram estar fadado a desaparecer. Não só continua aqui, como se fortalece ideologicamente – disse o ministro Dias.
O pedetista histórico, que integra o partido desde a sua fundação, no dia 17 de junho de 1979, em Lisboa, em um ato de coesão entre os trabalhistas no Brasil e os trabalhistas no exílio, liderados por Leonel Brizola, embora reconheça na presidenta Dilma a potencial candidata para 2014, com apoio do PDT, não afasta a possibilidade de uma candidatura própria no ano que vem.
– O senador Cristovam Buarque é um nome sempre lembrado nas bases do partido – sinalizou Dias.
Mazzini e o ministro Moreira Franco, no Encontro Nacional de Editores da Coluna Esplanada, em Brasília
Dias esteve presente ao I Encontro de Editores da Coluna Esplanada. O evento foi promovido pelo jornalista Leandro Mazzini, que reuniu ainda o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, Wellington Moreira Franco, o presidente da Embratur, Fávio Dino, e o ex-ministro das Cidades Márcio Fortes, entre outros convidados. Dias comemorou o apoio de seu partido à lei que destina a maior parte dos recursos do pré-sal à Educação.
– Este sempre foi o sonho de Brizola e do professor Darcy Ribeiro – acentuou.
Governo à esquerda
Secretário-Geral licenciado do PDT para ocupar o ministério, Dias também fez um balanço do PDT de Santa Catarina, seu Estado natal, onde a legenda ainda concentra 3,7 mil vereadores. O ministro, no entanto, acredita ser necessária a formação de novos quadros políticos para a legenda e criticou a campanha que sofreu, à frente do MTE, às vésperas do fim do prazo de filiação, o que teria prejudicado, e muito, o Partido.
– Temos que ter competência para superar isto – observou acrescentando que, no ministério, propõe mudanças para melhorar a transparência “para que se restabeleça o protagonismo do Ministério, um dos mais importantes do governo, porque ali se promove a possibilidade de avançar no campo trabalhista e no direito dos trabalhadores”.
Na linha pragmática que levou o PDT ao governo Dilma e o mantém lá, Dias e o seu principal aliado, o presidente do partido e antecessor no cargo que hoje ocupa, Carlos Lupi, aponta a necessidade de o partido se afirmar nos Estados, mas sempre antenado com a realidade eleitoral. Na opinião de Lupi, o momento político brasileiro “é rico e delicado”; o PDT deve construir candidaturas próprias – mas também viáveis, para defender a escola em tempo integral e os direitos dos trabalhadores.
– Temos que aplicar as políticas que nos diferenciem dos demais partidos; temos que ser mais profundos; temos que aprofundar a discussão do petróleo, da água; temos que puxar o governo para a esquerda, porque ainda morrem crianças para que seja paga a dívida. Temos que discutir essas questões com profundidade; sem teatro – disse Lupi.
Lupi continuou:
– A melhor forma de distribuir renda é o aumento dos salários; temos que discutir o Bolsa Família, mas sabendo que saco vazio não fica em pé; temos que nos lembrar que Getúlio deu um tiro no coração não foi porque queria se manter no poder, mas foi para dizer que não aceitava o golpe; temos que discutir programas – não pensem que, porque fui jornaleiro, não sei o que o povo quer. Vamos discutir nosso futuro com transparência, mas com causas; o povo é a nossa bússola, temos que estar onde ele está.
Nem sempre, porém, o povo a que Lupi se refere está disposto a permanecer na legenda. Segundo o presidente regional de São Paulo, Major Olímpio, o número de deserções demanda uma reorganização complicada no Estado. No encontro, ele agradeceu “a atenção mais do que especial que Lupi e a direção nacional vêm dispensando a São Paulo, onde tivemos o maior foco de traição partidária”.
– Em rápido balanço: hoje o PDT de São Paulo tem 19 prefeitos, perdemos dois; temos 28 vice-prefeitos, perdemos quatro; temos 333 vereadores em todo o Estado, perdemos 43. Por outro lado, as perspectivas para o ano que vem são positivas, porque temos 55 pré-candidatos a deputado federal, com perspectiva de eleger dois ou três; e temos 75 pré-candidatos a deputado estadual. Estamos trabalhando e o Partido está motivado até pelo que sofreu, existindo uma grande união entre os que ficaram – avaliza.
Apoio do PSDB
O ministro Manoel Dias, no almoço promovido pela Coluna Esplanada, ao lado da gerente executiva da Assessoria de Imprensa da Caixa Econômica Federal, um dos patrocinadores do encontro – Clique para ampliar
Em uma região na qual os partidos conservadores ainda detêm considerável fatia de votos, a pouco menos de um ano para as eleições, a cúpula nacional do PDT já considera o senador Pedro Taques (PDT) o próximo governador de Mato Grosso. No encontro, Lupi anunciou Taques como governador, afirmando que, após anos de um mesmo grupo no poder, “finalmente” a legenda voltará a governar o Estado.
– O presidente nacional garantiu, com toda certeza, que vai vir ao Estado ajudar a fazer a campanha para Taques, independentemente de coligações que venhamos a fazer para o próximo ano – disse.
O deputado estadual Zeca Viana, presente à reunião, confirmou a “campanha” de Lupi e afirmou que o nome do senador é unanimidade no partido.
– O presidente nacional garantiu, com toda certeza, que virá ao Estado ajudar a fazer a campanha para Taques, independentemente de coligações que venhamos a fazer para o próximo ano – disse a jornalistas.
Entre as alianças que o partido deve fazer em Mato Grosso, porém, há um grupo que sequer pode se afirmar de centro. O Democracas (DEM) e o PSDB são os pilares da candidatura de Taques no Estado. No caso de Mato Grosso, porém, líderes da legenda no Estado chegaram a pedir que Lupi avalie e autorize uma independência.
– O que pedimos muito é que a Executiva Nacional respeite os Estados, que nos deixem liberados para compor da forma que sentirmos que é melhor. Se ficarmos restritos aqui, a tendência é que o PDT seja diminuído e queremos crescer. Lupi prometeu que conversará com Dilma e em breve nos dará uma resposta – resumiu Viana.
Em São Paulo, no entanto, a situação é mais dramática. Além de selar uma parceria imediata com o PSDB, indicando o sindicalista Carlos Ortiz para a Secretaria do Trabalho do governo de São Paulo, a cúpula pedetista já começou a negociar uma aliança com os tucanos no segundo turno da briga pela prefeitura paulistana e nas eleições gerais de 2014.
Embalados no clima de insatisfação com a presidente Dilma Rousseff, os líderes paulistas do PDT firmaram o apoio à direita no encontro entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o presidente da legenda, Carlos Lupi. Na conversa, semana passada, da qual também participou o presidente da Força Sindical e pré-candidato do PDT a prefeito da capital paulistana, deputado Paulo Pereira da Silva, Alckmin marcou a posse de Ortiz para o próximo sábado.
– Estamos pavimentando 2014. Aliança daquele tamanhão que Lula (em 2010) fez, ninguém vai fazer mais – afirmou a jornalista o deputado Paulinho da Força (SP), ao admitir a vinculação do movimento que seu PDT faz agora com as eleições gerais de 2014.
As principais reclamações quanto ao Palácio do Planalto, o deputado resume em uma frase:
– A presidenta Dilma não fala com ninguém. Está igual a rainha da Inglaterra.
Fonte: Correio do Brasil
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