A série de erros na organização do debate promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que sequer providenciou um cronômetro ao participantes, concluído no final da noite passada, foi superada apenas pela temperatura dos ataques entre os candidatos à Presidência da República. A troca de farpas acentuou-se durante as perguntas entre os candidatos. A candidata do PSOL, Luciana Genro, tornou-se sucesso imediato nas redes sociais logo depois que enquadrou Aécio Neves (PSDB), ao lembrar que o tucano não deveria mencionar os escândalos envolvendo o PSDB:
– É o sujo falado do mal lavado, quando acusa o governo petista de corrupção.
O tucano reagiu acusando-a de ter voltado às origens como “linha auxiliar do PT” e fez com que Luciana perdesse a compostura. Depois de pedir desculpa, ela disparou:
– Linha auxiliar do PT é uma ova!.
Aécio Neves, visivelmente desconcertado após conseguir o direito de resposta de um minuto, aproveitou para lamentar ter ouvido “impropérios ao invés de discutir propostas”.
Dilma e o candidato do PV, Eduardo Jorge, também se exaltaram ao debater sobre as fontes de energia priorizadas no Brasil. Ele disse que o governo tem incentivado o uso da energia nuclear e fontes não renováveis como o carvão, abandonando o maior fonte energética do país, a solar.
– Um país do porte do Brasil não consegue se sustentar com energia solar, que é muito cara. É preciso construir termelétricas, e, se não as tivéssemos construído, estaríamos passando por um racionamento, prejudicando a dona de casa, trabalhadores e empresário. Não podemos inventar a roda – rebateu a presidenta.
No entanto, ela teve de ouvir de Eduardo Jorge que as três usinas nucleares brasileiras significam um risco para o povo brasileiro em razões dos antigos protocolos de funcionamento.
O debate promovido pela CNBB foi um dos que tiveram ataques mais intensos entre candidatos, dos três realizados até agora. Mas o jornalista Rodolpho Gamberini, que mediou as perguntas, foi intransigente. Não permitiu que nenhum candidato ultrapassasse o tempo regulamentar nem nas perguntas e nas respostas e não se constrangeu em interrompê-los, o que amplificou os erros dos organizadores.
Redução da pobreza
Durante o debate, a presidenta e candidata Dilma aproveitou suas despedidas para destacar que o Brasil saiu do Mapa da Fome, em referência ao relatório da ONU que aponta o Brasil como um dos países que mais reduziu a pobreza.
– Nós saímos do Mapa da Fome. O fim da miséria é só um começo, o nosso país tem um grande caminho a percorrer, focado na educação, que é o caminho pelo qual nós iremos nos introduzir na sociedade moderna. Temos o valor do combate à desigualdade e do combate à corrupção – afirmou Dilma.
Ainda em suas considerações finais, Dilma rebateu a candidata Marina Silva (PSB) que disse que quem vai ganhar a eleição é a sua “nova política”.
– Quem vai ganhar essas eleições é quem mudou o Brasil, quem combateu a fome e a miséria, quem reduziu a miséria e quem combateu a crise, não deixando que houvesse desemprego e inflação – afirmou a candidata à reeleição.
Marina Silva (PSB) manteve a posição de vítima e em suas considerações finais dizendo que no processo eleitoral os embates entre os candidatos “não são necessários”.
Engavetador-geral da República
O tucano Aécio Neves (PSDB) abordou o caso Petrobras fazendo ilações sobre as escolhas de funcionários da estatal e a presidenta. Dilma respondeu o tucano dizendo que “tem tolerância zero com a corrupção” e frisando que quem investigou a Petrobras foi a Polícia Federal de seu governo e cutucou:
– Nunca escolhemos engavetador-geral da República. Se hoje se descobre atos de corrupção é porque não varremos para baixo do tapete.
‘Mensalão’ tucano
Educação foi o tema abordado por Aécio com Luciana Genro (PSOL), mas a candidata fez questão de lembrar o tucano sobre atos de corrupção envolvendo seu partido, citando escândalos como o mensalão mineiro, com desvios de dinheiro público para bancar a candidatura de Eduardo Azeredo ao governo de Minas em 1998, a compra de votos, ou seja, o ‘mensalão’ tucano, para aprovar a emenda da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, além das suspeitas de corrupção nas privatizações e a construção de aeroporto público na fazenda de Aécio.
– O senhor fala como se no governo do PSDB nunca tivesse havido corrupção, quando na realidade nos sabemos que o PSDB foi o precursor do ‘mensalão’ – disse Luciana Genro, que chamou o tucano de “fanático das privatizações” e “fanático da corrupção”.
Reforma política com participação popular
A reforma política foi um dos temas abordados pela CNBB. Aécio, o primeiro a falar, defendeu o voto distrital misto. Marina, por sua vez, disse apoiar o financiamento público de campanha. E a candidata Dilma enfatizou o apoio às propostas da CNBB e defendeu uma reforma com a participação popular, com a realização de plebiscito.
“Tenho certeza de que precisamos de uma profunda reforma política baseada na participação popular por meio de um plebiscito. Acredito que tem de renovar e transformar os partidos políticos existentes. Me preocupa muito porque numa democracia os partidos são essenciais. Mas precisamos sistematicamente submetê-los à participação popular. Acredito também que numa reforma política quando os partidos não existem poderosos mandam atrás das cenas e é o caminho para a restrição das liberdades, para a ditadura”, declarou Dilma.
O candidato Eymael perguntou a Marina Silva (PSB), “qual é o Brasil que temos?” A candidata admite que o Brasil “conseguiu conquistas significativas” e “tem coisas boas”.
Autonomia do BC
O tema autonomia do Banco Central, proposta por Marina, foi abordado por Dilma numa pergunta feita ao candidato Levy Fidelix.
– Alguns candidatos estão defendendo a independência do Banco Central. Eu sou contra essa tese. Acredito que o BC tenha de ter autonomia operacional – disse Dilma.
Fidelix respondeu:
– Sou contra a independência do Banco Central. Temos de ter uma economia integrada. Tenho certeza de que a macroeconomia tem de ser conduzida pelo ministro da Economia, o ministro da Fazenda. O que os bancos dão para a sociedade senão subtrair delas: nada. O controle do Banco Central tem de ser do Estado.
Na réplica, Dilma pontuou:
– A independência do BC é um equívoco. Eu sou a favor da autonomia para que o BC siga livre para perseguir as metas de inflação. Na última crise, a desregulamentação do setor financeiro levou a uma perda de emprego e salários, e agora as economias avançadas do mundo pretendem regulamentar o sistema financeiro.
Pautas da CNBB
O segundo e o terceiro blocos do programa foram dedicados a perguntas de bispos e jornalistas ligados a veículos católicos com a abordagem de temas como inclusão social, aborto e homofobia.
Sobre a proposta de criminalização da homofobia, Aécio disse que “qualquer discriminação deve ser considerada crime, inclusive a homofobia”, mas depois afirmou ter objeções quanto ao projeto em tramitação no Congresso, o PLC 122/2006.
Eduardo Jorge falou sobre o aborto. Ele defendeu a ampliação da educação sexual e planejamento familiar para diminuir a prática.
– Enquanto isso não acontece, não pode deixar abandonadas as mulheres que fazem aborto de forma clandestina – enfatizou ele, pedindo a revogação da lei que criminaliza o aborto, classificada por ele como “machista”.
Questionada sobre a relação entre Estado e religião, Luciana Genro declarou que “as políticas públicas não podem estar subordinadas a nenhuma religião, a nenhuma crença”.
Seguindo a sua bandeira de “Estado mínimo”, o Pastor Everaldo se posicionou contrário à proibição do funcionamento de canais religiosos e contrário à implantação de um marco regulatório de comunicação.
Fonte: Correio do Brasil
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