A presidente afastada voltou a afirmar que o processo é um ”golpe” e que não cometeu crimes. Dilma será julgada pelo Senado nesta terça-feira, 30
“A Câmara dos Deputados não aprovou nenhuma medida desde fevereiro de 2015”, declarou a presidente afastada Dilma Rousseff (PT). “Se isso não é um dos maiores boicotes na história, não sei dizer o que é.” Foi nesse tom de confronto que a petista discursou aos senadores, em dia histórico para o parlamento brasileiro.
Reforçando tese da defesa segundo a qual o impeachment não tem base legal, configurando-se como “golpe”, Dilma adotou fala mais política do que técnica e endureceu com seus julgadores, que votam hoje ainda o afastamento definitivo da presidente.
Sem perspectiva de reverter votos, porém, Dilma culpou Eduardo Cunha, citando-o nominalmente inúmeras vezes, e defendeu-se das acusações que motivaram o processo de afastamento no Congresso.
“Que País do mundo enfrentaria uma crise política baseada em três decretos ou subsídios dados à agricultura?”, contestou a mandatária.
“Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus. Este processo está marcado por clamoroso desvio de poder, que explica absoluta fragilidade das acusações dirigidas contra mim”, continuou.
Dilma respondeu aos questionamentos feitos pelos senadores durante todo o dia de ontem. O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), um dos que ainda poderiam mudar de voto, reafirmou seu posicionamento pelo impeachment.
Noutra ponta, o senador Hélio José (PMDB-DF), antes favorável ao afastamento, anunciou que votará
contra o impeachment.
Discurso
Para cientistas políticos ouvidos pelo O POVO, a fala da presidente foi essencialmente política e direcionada à defesa do legado de seu grupo político, que governou o País por mais de 13 anos, mas também para reforçar a narrativa petista para a eleição de 2018.
Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, avalia que o tom da carta lida na tribuna do Senado poderia ter sido mais emotivo, para falar diretamente à opinião pública — o que não ocorreu.
“Ela não falou para a opinião pública, ela falou para os seus aliados. O discurso não tem impacto para o Senado nem para a sociedade brasileira”, analisa.
Baía acredita que o objetivo da defesa feita por Dilma é a tentativa de rearranjar a esquerda e manter a resistência ao governo do presidente em exercício, Michel Temer.
Para Oswaldo Amaral, da Universidade de Campinas, Dilma, em todo o seu discurso, quis reforçar a ideia de que o impeachment se baseia em um processo político, e não técnico. “Eu acredito que (o discurso) tinha que ser do jeito que foi. O jogo foi jogado, não tinha o que fazer.”
Fonte: http://www.opovo.com.br/
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