Eleições 2024

Dilma diz que não vai se ‘perturbar’

Xingada durante a abertura do Mundial no Itaquerão, a presidente disse que não vai se abater com as ofensas

De acordo com especialistas, as palavras proferidas pela torcida foram uma demonstração de machismo
FOTO: AGÊNCIA BRASIL

Brasília. A presidente Dilma Rousseff (PT) respondeu ontem às vaias que ouviu na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão. Ela evocou lembranças da ditadura e do período em que foi torturada pelo regime militar para retrucar ofensas que partiram das arquibancadas do estádio durante o jogo do Brasil.

“Não vou deixar me perturbar por agressões verbais. Não vou me deixar perturbar. Eu não vou me deixar atemorizar por xingamentos que não podem ser sequer escutados pelas crianças e pelas famílias. Aliás, na minha vida pessoal enfrentei situações do mais alto grau de dificuldade. Situações que chegaram ao limite físico. Eu suportei não foram agressões verbais, mas agressões físicas”, disse Dilma, em meio a gritos de uma plateia composta de operários e trabalhadores do sistema de trânsito do DF.

Logo após a cerimônia de abertura da Copa, Dilma foi xingada por cerca de um minuto, depois que o locutor pediu palmas para os operários que trabalharam nas obras dos 12 estádios do Mundial. Encerrados os aplausos aos trabalhadores, os torcedores xingaram a presidente. “Ei, Dilma, vai tomar no c…”, gritaram, em coro. “Ei, Fifa, vai tomar no c…”, gritaram outros, voltando-se para a entidade internacional responsável pela organização da Copa.

“O povo brasileiro não age assim. O povo brasileiro não pensa assim e, sobretudo, o povo brasileiro não sente da forma como esses xingamentos expressam. O povo brasileiro é um povo civilizado e extremamente generoso e educado. Podem contar que isso não me enfraquece”, disse a presidente Dilma.

Ela participou na manhã de ontem da inauguração de um dos trechos do BRT, em Brasília. Mesmo com o Mundial em curso, Dilma continuará seu périplo pelo País inaugurando obras inicialmente previstas para o evento esportivo. O argumento do Planalto é que, ao manter uma agenda intensiva de inaugurações de obras durante a Copa, a presidente sustenta o discurso frequente de que as melhorias não são para o torneio, mas para a população.

O xingamento sofrido por Dilma Rousseff teve repercussão entre estudiosos e representantes do movimento feminista. De acordo com especialistas, as palavras proferidas pela torcida foram uma demonstração de machismo.

A socióloga Ana Liési Thurler, colaboradora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), afirmou que o protesto não teria sido feito dessa maneira, com palavras de baixo calão, caso o presidente fosse um homem: “Acho que seria muito remoto que fizessem isso para o Fernando Henrique ou para o Lula. O fato dela ser mulher deu a eles um empoderamento para insultar”, avaliou.

Fonte: Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz