Prefeitura inaugura pousada social para pessoas em situação de rua em Fortaleza

Abaixo de sacada de lojas, em praças ou em calçadas. Sobre pedaços de papelão ou de colchões velhos e sujos, centenas de pessoas fazem morada em Fortaleza. Mesmo sem estimativas atualizadas sobre essa população, a Prefeitura de Fortaleza se movimenta para auxiliá-la. Nesta segunda-feira, 2, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) inaugurou uma nova pousada social na Cidade para pessoas em situação de rua.

Equipamento deve atender cem pessoas diariamente(Foto: Fabio Lima/Fabio Lima)

Localizado na Avenida do Imperador, no Centro, o equipamento deve funcionar diariamente com capacidade para abrigar cem pessoas. Dentre as atividades lá desenvolvidas estão o oferecimento de refeições e acolhidas noturnas de forma segura e temporária.

“A gente está ampliando as possibilidades para quem hoje está vivendo na rua possa ter um lugar adequado, com estrutura, para poder dormir, tomar banho, se alimentar”, declarou Roberto Cláudio, em coletiva de imprensa. Para ter acesso ao espaço, a pessoa interessada deve ser acompanhada pelos Centros de Referência para População em Situação de Rua (Centros Pop) ou pelo Centro de Convivência.

De acordo com o prefeito, a pretensão com a pousada social é, além de prestar o auxílio às necessidades básicas, também realizar encaminhamentos para outros serviços do Poder Público. “Não estamos apenas acolhendo, mas montando uma base para que as necessidades de cada um possam ser dirigidas, encaminhadas e acompanhadas pela Prefeitura”, anunciou.

Esse equipamento é o segundo do tipo na Cidade. Outra pousada social, situada na rua Solon Pinheiro, também no Centro, foi inaugurada em 2015, disponibilizando cem vagas diariamente.

O Centro, a propósito, é o bairro de maior concentração de pessoas em situação de rua na Cidade, conforme aponta mapeamento realizado por grupo de estudantes da Universidade Federal de Fortaleza (UFC). Levantamento de 2017, realizado pela Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), indica para 247 pessoas vivendo somente na Praça do Ferreira.

Diante disso, o público da região receberia maior atenção. “Obviamente vamos acolher quem está vivendo em outro local. Não é um equipamento exclusivo, mas a intenção é priorizar o Centro”, disse RC, sendo acompanhado pelo secretário da SDHDS, Elpídio Nogueira. Ele informou ainda que equipe da secretaria sempre estará no local para realizar acompanhamento: “Vamos saber o nome de todos que estarão dormindo no equipamento.”

Para a artista de rua, Maya Maravilha, a criação do espaço é “muito positiva”. Ela viveu na Praça do Ferreira entre 2016 e 2018, conseguindo sair daquela situação por alguns meses. Desde o fim de março deste ano, porém, se viu obrigada a retornar para a rua. Dançando e cantando em espaços públicos, ela espera conseguir uma vaga na pousada para ter oportunidade de dormir e descansar de maneira mais segura. “Porque dormir em praça, na rua ou em estacionamento é muito ruim. Acredito que aqui será apenas um local provisório, pois pretendo sair daqui para o meu apartamento”, vislumbra.

Números desatualizados

Os números sobre pessoas em situação de rua em Fortaleza estão desatualizados pelo menos desde 2014. Censo da então Secretaria Municipal de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Setra) aponta 1.718 pessoas vivendo em condições de rua na Capital.

Na última quinta-feira, 29, porém, o Município recebeu recomendação do Ministério Público do Ceará (MPCE) para que sejam implementadas as ações necessárias para realizar novo censo voltado à essa população. Questionado a respeito, o prefeito Roberto Cláudio não deu prazo para a produção do levantamento, mas adiantou que considera “difícil sair este ano”.

“Agora estamos em processo de preparação de um novo contrato para atualizar esses dados”, disse. Por outro lado, contou que, além de saber a quantidade aproximada de pessoas nessas situações, pretende conhecer as condições e circunstâncias de cada pessoa “para poder direcionar políticas públicas” a elas.

“Cada vida é distinta uma da outra, com experiências, contexto familiar, pessoal, profissional distintos. Então as abordagens não são comuns. É importante que o censo qualifique a realidade dessas pessoas em situação de rua para a gente poder encaminhar políticas que sejam mais individualizadas”, declarou.

Devido à complexidade da realidade de cada pessoa, Roberto Cláudio disse ainda que, “por isso, nem todo mundo que está na rua deseja vir para um espaço como a pousada social”. “A gente acha que com essa expansão, vamos atender a demanda. Por outro lado, a gente continua com o trabalho de abordagem nas ruas de crianças, adolescentes e adultos para poder buscar a reinserção dessas pessoas”, pontuou.

Fonte: O Povo Online  
Zeudir Queiroz

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