Dolores Feitosa: os 90 anos da matriarca dos Inhamuns

Dona Dolores: O que é desagradável, procuro esquecer rapidamente. E o que é agradável... Ah... Isso eu vivo intensamente
Dona Dolores: O que é desagradável, procuro esquecer rapidamente. E o que é agradável… Ah… Isso eu vivo intensamente
Ela guarda na memória detalhes de uma história de batalha pelos seus e pelos outros. Dona Dolores Feitosachega nesta segunda-feira, 22, aos 90 anos carregandoexperiências e histórias de transformação do Ceará. Ao lado do esposo, Joaquim de Castro Feitosa, falecido em 2003, lutou pelo meio ambiente de Fortaleza, pela proteção da caatinga, contra a ditadura militar, pela história do Sertão dos Inhamuns. Com a viuvez, encabeçou a batalha e protagoniza a defesa do Museu Regional dos Inhamuns. Tem fôlego e vontade de muito mais. Dona Dolores é a entrevistada desta segunda dasPáginas Azuis do O POVO. Defensora do parque Adahil Barreto nos anos 1970, quando o espaço foi ameaçado pela construção da sede do Banco do Nordeste, dona Dolores vê que hoje ainda faltam ações de proteção permanente das áreas verdes da cidade. “É uma questão política. Quando há a primeira ideia, a construção ou inauguração, são fogos, música, a maior ‘coisa’ do mundo. As promessas nem se fala! Mas isso não é acompanhado, eu acho, por um programa de manutenção. Isso é o que dá a sustentabilidade: a manutenção. Outra coisa é a educação. Essa educação deveria começar na escola. Nos lugares críticos em produção, em água, o respeito aos recursos naturais deveria ser incluído no currículo. Isso eu já cansei de falar”, comenta. Nos anos 1960, lutou, com outras mães, contra a ditadura militar. Foi às ruas para pedir a volta da democracia. Passou talco no cabelo para, com o branqueamento, ganhar mais moral diante dos militares. “Acho que ninguém pode dominar ninguém. A gente tem que se respeitar”, ensina. Ri ao lembrar que o marido não estava em Fortaleza na época da organização da passeata. Porque Feitosa era contra a ditadura, mas não tinha toda a gana de luta da esposa. Ela e outra senhora foram, na época, dialogar com o então governador Plácido Aderaldo Castelo para garantir a realização do ato. Assinaram um documento se responsabilizando pelo bom comportamento do protesto – que, depois souberam, reuniu mais de 20 mil pessoas nas ruas de Fortaleza. “Foi a coisa mais linda”, recorda-se. Dona Dolores luta pela preservação da caatinga. A família mantém, há mais de 20 anos, o Museu Regional dos Inhamuns – um espaço de antropologia, paleontologia e história em Tauá (a 344 quilômetros de Fortaleza). O museu é mantido pela Fundação Bernardo Feitosa, cujo nome homenageia o pai de Joaquim, e carece de recursos para manutenção. Aos 90 anos, sonha com a valorização do espaço. “Não digo que não morro sem realizar porque eu sou muito tranquila com as coisas quando acontecem e eu acho que as coisas têm seus caminhos. Mas eu gostaria que o museu tivesse uma melhor acomodação”, diz.  
SARA MAIA
Dona Dolores com a jornalista Mariana Lazari, durante a entrevista
Tempo A idade não é supervalorizada. É mais um fato para ser contato e vivido. Porque o tempo é “uma medida vã”, poetiza. “O que é desagradável eu passo rápido, procuro esquecer rapidamente. E o que é agradável… Ah… Isso eu vivo intensamente”, ensina. Veja abaixo vídeo com trechos da conversa com Dolores Feitosa e leia a entrevista completa nas Páginas Azuis do O POVO, nesta segunda-feira.   Fonte: Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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