Crise hídrica provoca protestos por água no interior cearense

Quase secos, rios da região evidenciam as graves dificuldades para sobrevivência. Todos sofrem com a situação que tende a se agravar ( Foto: Ellen Freitas )
Quase secos, rios da região evidenciam as graves dificuldades para sobrevivência. Todos sofrem com a situação que tende a se agravar ( Foto: Ellen Freitas )
Limoeiro do Norte. Sem água, ribeirinhos do Rio Jaguaribe, nos municípios de Russas e Quixeré, no Vale do Jaguaribe, cobraram da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) a liberação de água ao longo do leito do manancial. O movimento aconteceu na manhã da segunda-feira (11). Segundo eles, desde fevereiro apenas 100 km dos 160 km do afluente está perenizado, o que tem deixado moradores sem acesso a água para dessedentação (saciar a sede) animal e o plantio de subsistência. O abastecimento humano tem sido feito por carro pipa. Em duas ocasiões, no último fim de semana, os moradores das localidades de Gracismões e Jaburu, em Russas, usaram de pás para desobstruir a passagem de água na barragem da localidade de Sucurujuba, em Quixeré. A contenção, segundo os moradores, foi feita com autorização da Cogerh, evitando assim que ela seguisse seu curso, complicando a vida de quem depende daqui para sobreviver. Ação De acordo com um dos moradores da comunidade de Gracismões e um dos líderes do movimento, Marcos Lima, na primeira ocasião os ribeirinhos desimpediram o anel pelo qual passava água. Ele conta que na mesma noite, o ponto foi tampado novamente. “Dessa segunda vez que obstruiram, eles utilizaram pedras e barro, mas os moradores foram lá de novo, destampar para rio poder correr livre, sem problemas”, argumenta. De acordo com Marcos, a decisão dos moradores de protestar e tomar a iniciativa foi, principalmente, devido a falta de água para a agricultura de subsistência, para o gado e pequenas criações. “O pessoal tira o sustento da gente, barrando o manancial, se não for assim, na luta, não tem como viver. O pior é que a situação pode piorar”, declara. Encurtar a perenização do Rio Jaguaribe foi uma medida tomada pelo Comitê de Bacias em reunião realizada no dia 2 de fevereiro deste ano. Ficou acertado, na ocasião, que apenas 5,5m³ pior segundo de água seriam liberados para o rio. Mesmo assim, a água deveria chegar apenas até a localidade de Sucurujuba, na cidade de Quixeré, de onde há captação para o abastecimento da sede da cidade de Russas e a comunidade de Lagoinha, em Quixeré. Com a situação, quem fica abaixo do Jaguaribe vem sofrendo com a falta de água. A agricultora Maria das Candeias é moradora da comunidade de Botica, em Quixeré, e diz que o manancial seco tem dificultado a vida dos quem depende dele. “Dá é tristeza ver o rio desse jeito. Quem tinha um plantio de feijão tá perdendo porque não tem água. Meu filho tem uma criação de gado e tem que se socorrer de um vizinho fazendeiro pra poder matar a sede do rebanho. A gente também tirava de lá a nossa água de beber, mas agora eles tão mandando um carro pipa por semana só. Não temos como continuar assim, a gente vive disso. É preciso muito para mudar essa realidade “, lamenta. Ainda segundo a agricultora, as comunidades de Poço de Onça, Córrego Fundo, Botica, Jaburu, Gracismões, Boa Vista e Sucurujuba, que ficam as margens do rio, estão desabastecidas. O cenário fez com que os moradores dessas comunidades ocupassem o escritório regional da Cogerh, em Limoeiro do Norte. O grupo reivindica a continuidade da liberação de água para o rio, até as localidades. Eles questionaram também as vazões que são liberadas para o Perímetro Irrigado na Chapada do Apodi e pediram um diagnóstico sobre a situação dos poços na região. Alternativas Após uma manhã de conversas, os ribeirinhos disseram que a passagem irá continuar aberta e que foi formada uma comissão para se reunir com a gerência da Cogerh em Fortaleza, no próximo dia 14, onde deverão decidir uma vazão mínima para atender os moradores das localidades. De acordo com o Coordenador do Núcleo Técnico da Cogerh na regional de Limoeiro do Norte, Hermilson Barros, o Comitê de bacias decidiu por perenizar o rio em 100 km, e que a água chegaria apenas até a barragem na localidade de sucurujuba, onde há pontos de captação que abastecem a sede de Russas e a comunidade de Lagoinha, em Quixeré. “Os outros 60 km do rio estão secos”, completou. Poços Sobre as cidades de Jaguaruana e Itaiçaba, que eram abastecidas pelo mesmo manancial, Barros garante que poços estão sendo perfurados para atender as demandas e que atualmente a sede da cidade de Jaguaruana esta sendo abastecida por carros pipa. Ele acrescenta ainda que no próximo dia 20 julho haverá a reunião do Comitê de Bacias do Baixo e Médio Jaguaribe e Banabuiú, em Limoeiro do norte, onde deverá ser deliberada a alocação de água para o próximo semestre. Sobre matéria publicada na edição deste fim de semana do Diário do Nordeste, sob o título “Castanhão pode atingir o seu volume morto até o fim do ano em curso”, a Cogerh retificou, em nota, que a vazão média para o Castanhão de 15 m³/s, sendo 5,5 m³/s para perenização do Jaguaribe, limitou a perenização até a localidade de Sucurujuba, em Quixeré, e que esta não chega até o Canal do Trabalhador, em Itaiçaba, como publicado. Ele acrescentou também que as localidades ao longo do trecho do Rio Jaguaribe sem perenização, tem seu abastecimento assegurado por fontes alternativas que estão sendo estabelecidas por grupo de trabalho interinstitucional envolvendo Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Cogerh, Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e Prefeituras dos municípios da região. A região do Baixo Jaguaribe é uma das beneficiadas com açude Castanhão, um dos poucos que ainda estão em condições de manter produção agrícola e abastecimento humano. Entretanto, com o seu volume atual, pouco mais de 8% da sua capacidade total, algumas atividades estão sendo reduzidas e, consequentemente, afetando quem sobrevive diretamente da barragem. ENQUETE Como está a situação? Pessoal que planta um hectare de feijão está correndo o risco de perder a produção todinha porque não tem água. Sem o rio, a agricultura de subsistência acaba rapidamente e isso é um cenário quase caótico” Marcos Lima Ribeirinho A gente estava tirando água do rio pra beber, pra plantar, para dar aos animais, agora a gente esta sendo mantido com um carro-pipa por semana para a comunidade, mas ainda é pouco e isso tende a piorar” Maris das Candeias Agricultora gfd
 Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
Zeudir Queiroz

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