Alemanha abre janela de oportunidades para o Ceará

A ideia é promover contatos para que novas “joint ventures” sejam criadas entre alemães e cearenses No ano em que o calendário diplomático visa estreitar as relações entre Brasil e Alemanha, cerca de sete empresários do estado germânico Baden-Württemberg estão no Ceará para conferir as potencialidades dos negócios locais e, segundo aposta o adido do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, Martin Mahn, “encontrarem o plugue para se conectarem e, assim, as coisas começarem a dar certo” com o setor produtivo cearense. Martin Mahn apontou o setor de moda cearense como um potencial alvo de investimento FOTO: NATINHO RODRIGUES A ideia de Mahn é promover contatos para que novas “joint ventures” sejam criadas entre alemães e nordestinos. Ele acredita que, ao possuir um parceiro comercial na região, o investidor alemão se sentirá mais seguro e apto a aplicar recursos e também compartilhar tecnologia. “Primeiro, a gente vai levantar tudo que tem da Alemanha aqui no Ceará e no Nordeste”, revela o adido do Consulado da Alemanha, afirmando que o interesse dos compatriotas dele “abre mais uma oportunidade para o Ceará abraçar o desenvolvimento”. Entre os membros da comitiva que chegou ao Estado ontem, estão empresários de pequeno e médio portes dos setores de bebidas, consultoria e energia renovável, oriundos do terceiro maior estado alemão (Banden-Württemberg), cuja economia, de acordo com informações do consulado, é fortemente exportadora e “investe somas enormes em pesquisa e desenvolvimento”. O Estado sedia empresas multinacionais como Daimler AG (Mercedes), Porsche, Robert Bosch GmbH, Carl Zeiss AG, e SAP AG (a maior empresa europeia de softwares). Clusters potenciais No Ceará, o grupo de empresários já cumpriu agenda ontem com o diretor de investimento da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Cláudio Frota, e, hoje, passará o dia em rodadas de negócios com empresas ligadas à Federação das Indústrias do Ceará (Fiec). Amanhã, eles seguem para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), onde visitarão a fábrica da também alemã Wobben Wind Power e a Durametal. No entanto, eles não oferecerão apenas ao Ceará a oportunidade de abraçar o desenvolvimento proposto por eles. Daqui, eles seguirão mapeando clusters produtivos em Manaus (AM) e Santarém (PA). Rio Grande do Norte, Bahia e, principalmente, Pernambuco – com o qual admitiu relação próxima e avançada com o governo – também devem ser alvo de visitas e estudos do adido do consulado alemão. “Por estar em Pernambuco, eu me sinto muito polarizado por lá. Por isso pedi aos cônsules honorários de cada estado para fazerem relatórios e me enviarem para que eu faça o mapeamento de clusters e envie para o consulado, em São Paulo”, contou Martin Mahn. Setores Ele ainda chegou a apontar para o setor de moda (confecções e têxteis) cearense como um potencial alvo de investimento, quando disse idealizar “uma produção de maior valor agregado, com identidade própria e não seguindo apenas o que é visto nas novelas brasileiras”. O adido alemão também afirmou que os interesses dos germânicos no Nordeste são focados na sustentabilidade, em pesquisa e em desenvolvimento. Valor agregado Segundo ele, todos já trabalham com produtos de “grande valor agregado e buscam aumentar a área de atuação aqui. “Inovação em tecnologia é justamente o que nós queremos. Então, vocês precisam da gente e nós precisamos de vocês”, ressalta. Com o escritório da Câmara Comercial Brasil-Alemanha funcionando em Recife desde 2012 e o compromisso assumido de “torná-lo rentável”, Martin Mahn afirma que “pensa nos estados do Nordeste – principalmente Bahia, Ceará e Pernambuco – como aliados no desenvolvimento, onde um ajuda o outro a crescer a partir de acordos comerciais como os que visamos agora”, contou. Burocracia Um empecilho ressaltado pelo adido é a burocracia brasileira. O tempo e a quantidade de documentos necessários para abrir uma empresa e relacionar-se comercialmente foi um dos motivos para fazê-lo defender a ideia de parcerias e joint ventures entre seus compatriotas e os empresários nordestinos. Voos regionais A logística também foi alvo de críticas de Mahn. Ele lembrou que para voar de Recife para Fortaleza, apesar de serem cidades próximas, um passageiro terá que desembolsar mais que o dobro gasto na viagem da capital pernambucana para São Paulo em bilhete aéreo. FIQUE POR DENTRO Mais sobre o estado Baden-Württemberg Terceiro maior estado em extensão da Alemanha, Baden-Württemberg é localizado ao Sul do país e possui economia fortemente exportadora. Entre as atividades predominantes no setor industrial, o destaque é da automobilística – responsável por movimentar 26% da produção industrial do estado – e do segmentos de máquinas e equipamentos – com 21% da movimentação. Nas relações comerciais de 2012, o Brasil exportou 1 bilhão de euros em rações, papelão, máquinas e autopeças para lá, enquanto Baden-Württemberg exportou R$ 1,9 bilhão para cá em máquinas, veículos, autopeças e químicos. Já entre o Ceará e a Alemanha, o estado nordestino importou US$ 92 milhões e exportou US$ 43 milhões no último ano. Área adequada e parceiros podem atrair até fábricas A visita de empresários alemães pode representar uma grande oportunidade para o Ceará atrair investimentos significativos, já que as ambições dos executivos estrangeiros não são nada modestas. A empresa de energias renováveis, Kako new energy, por exemplo, pretende encontrar um local adequado para instalar sua primeira fábrica no Brasil e vê no território cearense um destino em potencial. Representantes de empresas internacionais participaram ontem de diversas reuniões para que pudessem conhecer um pouco mais sobre o potencial do Ceará. A maioria deles busca trazer seus produtos para o Brasil Foto: Bruno Gomes “Ainda não tivemos tempo de conhecer muito, mas sabemos que o setor de energias renováveis está bastante ligado ao Estado, que conta com um grande polo eólico. Nosso foco, porém, é a energia solar”, disse ontem o diretor gerente da Kako na América Latina, Eduardo Casilda. Ainda conforme o diretor, a ideia da empresa é construir uma fábrica de inversores fotovoltaicos. “É um aparelho que transporta a energia da placa para uma conexão em rede, que seria fabricado no Brasil para distribuição em todo o território nacional. O Nordeste seria um local perfeito, pois sol não falta”, brinca Casilda, que disse ainda ver com bons olhos o estado do Rio Grande do Norte. “Precisamos de ajuda para concretizar esse objetivo, de incentivos governamentais”, acrescenta. Em busca de distribuidor Fabricante de bebidas desde 1832, a empresa Underberg também está com um representante no Ceará, na procura por um novo distribuidor. Atuando no mercado nacional desde 1883, a marca visa expandir seus negócios no Norte e Nordeste. “Temos mais força no Sul e Sudeste, onde já atuamos com um fornecedor, mas queremos encontrar outro para podermos ganhar mais mercado”, explica o diretor de gestão da Underberg, Franz J. Ruder. Segundo ele, o maior desafio para a empresa é chegar nos contatos corretos. “Começaremos as negociações amanhã (hoje) e esperamos encontrar empresas locais que se encaixem no nosso perfil”, diz. De acordo com Ruder, os empresários alemães não costumam buscar apenas compradores momentâneos, mas bons parceiros que possam possibilitar a expansão do negócio no futuro. Diferenciais do Estado Conforme o diretor de projetos e vendas da Allgaier process technology, Stephan Eckert, o Ceará possui alguns diferenciais que despertam interesse dos empresários. A empresa dele, por exemplo, que produz sistemas para a indústria de alimentícia, mineral e química, vê com bons olhos a instalação do cabo submarino de fibra ótica, que acontecerá em Fortaleza até o fim do ano. “O Estado também possui projetos interessantes, como o da refinaria”, elogia Eckert. ARMANDO DE OLIVEIRA LIMA REPÓRTER Do Diário do Nordeste
Zeudir Queiroz

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