O argumento, incontestável sim, é da existência de parceria administrativa, como bem deve ser o trabalho visando o bem- estar das comunidades, quando o governador e o prefeito, de qualquer dos municípios do Estado, desenvolvem ações comuns. Mas, entre Camilo Santana e Roberto Cláudio há algo mais, além da cooperação, notado por qualquer observador mais arguto. Aliando o interesse em ajudar a gestão da Capital cearense, Camilo mostra para o PT, com suas constantes aparições nos mais diversos pontos da cidade, estar comprometido com a candidatura do prefeito à reeleição.
Alguns correligionários de Camilo já entenderam o recado por ele emitido, implícita e explicitamente, nos discursos públicos e em conversas reservadas dele ou de prepostos. A resistência petista, hoje muito menor a uma aliança formal com o PROS, em Fortaleza, está circunscrita a um pequeno agrupamento liderado pela deputada Luizianne Lins.
Todos, porém, com expressão eleitoral não tão significativa, como se pode aquilatar na análise dos resultados eleitorais de 2014, e até mesmo de 2012, portanto, esses insurretos, carentes do apoio da máquina pública em suas futuras investidas, como beneficiados foram na gestão municipal anterior à presente, podem ficar, até certo ponto, mais dóceis quando instados pelo governador.
Isolado
Roberto Cláudio, reservadamente, apesar da distância para a efetivação das alianças, em junho do próximo ano, tem avançado nesse campo e, hoje, trabalha com as chances de ter um arco de apoio com até ou pouco mais de dez agremiações, sendo certo ter a oposição de PMDB e PR juntos, e de PSDB isolado.
O PT, da responsabilidade do governador Camilo Santana, como seu principal expoente no Estado, não é objeto de preocupação maior para os arquitetos do projeto de reeleição.
Ao que parece, no momento, a única inquietação do grupo de Roberto Cláudio é quanto às definições do Congresso Nacional em relação à Reforma Política, embora o caminhar das discussões aliado à falta, senão de consenso entre deputados e senadores, mas de objetividade sobre as questões a serem atacadas, induza aos interessados, na disputa do próximo ano, ao convencimento de que muito pouco ou quase nada seja alterado para o embate majoritário, em especial no campo das coligações partidárias, o de mais importante no processo por permitir ao candidato utilizar um maior tempo no horário eleitoral gratuito no rádio e televisão.
Captar
Neste ponto, o PT seria um importante aliado não fosse o desgaste que amarga a sigla e vários dos seus integrantes. O núcleo político articulador da postulação do atual prefeito trabalha com a premissa, segundo se consegue captar, de uma disputa sem dois dos principais protagonistas das últimas eleições municipais: Heitor Férrer e Moroni Torgan.
Dirigentes dos partidos de ambos, PDT e DEM, já teriam admitido cerrar fileiras na defesa da reeleição, mantendo a aliança firmada no segundo turno do pleito passado, em que os dois candidatos ficaram em terceiro e quarto lugares, atrás de Elmano de Freitas e Roberto Cláudio.
Heitor não acompanhou o seu partido no segundo turno da eleição municipal, e não acompanhará se impedido for de ir para a disputa em 2016, diferentemente de Moroni que acabou sendo um dos principais cabos eleitorais de Roberto Cláudio para se contrapor ao nome do PT, como de igual modo fez Alexandre Pereira, do PPS, outro participante do pleito de 2012.
Hoje, o principal adversário seria o candidato saído da coligação PMDB e PR, se esse nome fosse o do senador Eunício Oliveira. O PSDB, mesmo indicando um filiado para concorrer, como das outras vezes, pelo espaço que ocupa na política local, provavelmente ficará bem distante no resultado final. Uma pena, pois o bom seria termos uma eleição com vários bons pretendentes ao Executivo municipal, para, incentivado pelo debate sobre os problemas da cidade, o eleitor pudesse ter melhor opção de escolha.
Conflito
A Câmara dos Deputados retoma, nos próximos dias, a votação de outros pontos da Reforma Política, para logo depois encaminhar todo o pacote à consideração do Senado, o que deverá ocorrer até o fim deste mês. O conflito entre as duas Casas já estabelecido, em razão de, dentre outros pontos, a questão das coligações partidárias para as eleições proporcionais.
O Senado, recentemente, aprovou uma das suas propostas de Reforma acabando com as coligações. A Câmara, por seu turno, aprovou a manutenção das coligações, embora ainda tenha outro turno de votação para poder confirmar sua decisão. Na outra Casa, as duas votações já aconteceram e a matéria agora aguarda manifestação dos deputados federais que, para serem coerentes, dirão não à proposição senatorial.
Por seu turno, quando receber o projeto da Câmara mantendo as coligações, os senadores, também por coerência, votarão contra e aí nenhuma das votações vai valer. O fim das coligações, de tudo o visto até o momento, seria a mudança mais importante a ser sentida pelos partidos, principalmente aqueles criados para participarem do balcão de negócios.
Como a questão das coligações partidárias, outros pontos também motivam divergências entre senadores e deputados e, assim, como das vezes anteriores a Reforma Política, na extensão pretendida, ficará para outra oportunidade, não tão próxima, posto reclamar atitudes nobres e espírito público dos legisladores, hoje coisa muito rara.
Edison Silva
Editor de Política
Fonte: Diário do Nordeste
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