Bolsonaro agride mulher e coloca mandato em jogo no Parlamento

bolsonaro1O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) será, novamente, alvo de um processo de cassação do mandato, após protagonizar mais uma polêmica na Câmara dos Deputados. Ao responder ao discurso da colega Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra dos Direitos Humanos, o parlamentar de tendência neonazista agrediu a colega ao afirmar, mais uma vez, que não a estupraria porque ela não merece. – Não saia não, Maria do Rosário, fica aí. Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, ‘tu’ me chamou de estuprador no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui para ouvir! – disse Bolsonaro, na Tribuna do Plenário, com microfone aberto. E não parou por aí. O parlamentar foi ainda mais agressivo ao repudiar a defesa que Rosário fez da Comissão da Verdade – cujo relatório final foi entregue nesta quarta-feira à presidenta Dilma Rousseff (PT) – e das investigações às violações de direitos humanos cometidas pela ditadura militar brasileira. – Comissão da Verdade. Vamos aproveitar e falar um pouquinho sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos. No Brasil, é o dia internacional da vagabundagem. Os direitos humanos no Brasil só defendem bandidos, estupradores, marginais, sequestradores e até corruptos – afirmou. Bolsonaro atacou, ainda, o governo de Dilma, utilizando, para desqualificá-la, afirmações sobre seus ex-companheiros e finalizou sua participação na sessão de maneira ainda mais deselegante. – Vá catar coquinho! – completou, dirigindo-se a Rosário. Repúdio Diante dos ataques de Bolsonaro aos temas mais caros à democracia brasileira, parlamentares passaram a manifestar repúdio ao parlamentar. A deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) publicou nas redes sociais uma nota na qual comunica que seu partido entrará com uma representação contra ele no Conselho de Ética da Casa: “No Congresso, o barco segue como se nada fosse. Um dia sou eu, noutro, a Alice Portugal, noutro, a senadora Vanessa Grazziotin, hoje, a Maria do Rosário. Quando ele diz que ela não merece ser estuprada, diz sublinarmente que 1) algumas mulheres merecem 2) que ele é potencial estuprador”, escreveu. Jean Wyllys (Psol-RJ) fez, em sua página no Facebook, um apelo: “A Corregedoria e o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados não podem mais tolerar os abusos deste deputado viúvo da ditadura militar”, publicou. “O que houve houve foi uma ofensa machista, misógina contra uma deputada de um deputado do qual a gente vem tolerando uma série de abusos nesta Casa”, afirmou, durante sua fala no plenário. Depois da confusão, Maria do Rosário disse querer “distância” de Bolsonaro e informou que pedirá que o comando da Casa o impeça de mencioná-la. A parlamentar declarou, ainda, que considera a atitude do colega “típica de um torturador”. Em entrevista, nesta quarta-feira, o líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), anunciou que a “postura desrespeitosa e criminosa” do deputado requer uma posição firme da bancada “vamos entrar com as medidas cabíveis no aspecto regimental e também jurídico”, disse o líder petista. – Em uma casa de lis um parlamentar não pode ter uma postura que desrespeite a lei e afronte a dignidade das pessoas – completou. Tópico do Twitter As declarações de Bolsonaro causaram indignação nas redes soriais e o termo Rosário virou um dos dez tópicos mais comentados pelos brasileiros no Twitter. Pelo Facebook – até o fechamento desta matéria – 4,8 mil pessoas haviam confirmado presença num evento intitulado “Cassem o Bolsonaro – #CassaçãodoBolsonaroJá! #EleNãoNosRepresenta”. Na página, os organizadores chamam a sociedade a “dar uma resposta ao Deputado Federal Bolsonaro pelo Twitter”. Foi realizado, às 11h da manhã desta quarta-feira, um ‘tuitaço’ com as hashtags #CassaçãodoBolsonaroJá!, #BolsonaroNinguémMerece e #DeputadosCassemBolsonaro. Outra página, criada pelo jornalista Nelson Neto, pela advogada da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Irina Karla e pela professora Mila Grossi, propõe uma denúncia coletiva pela cassação do deputado. “É a segunda vez que o parlamentar do PP agride a Deputada Maria do Rosário com esse tipo de discurso, que incentiva a cultura do estupro. A primeira foi em 2003, quando ambos também eram congressistas”, afirmou Neto, a jornalistas. A ideia é enviar um abaixo-assinado registrando a queixa para a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, a Ouvidoria da Mulher, a Procuradoria Geral da República e o Presidente da Câmara dos Deputados. Criada na terça-feira por volta das 19h, a denúncia coletiva contava, até o momento, com 719 assinaturas. Parlamentares de outras legendas, como o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), solidarizaram-se com a colega: “O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) excedeu todos os limites do decoro parlamentar e da ética na política ao desferir da tribuna da Câmara dos Deputados, nesta última terça), em mais um de seus discursos em defesa da ditadura e dos torturadores, ataques machistas contra a deputada federal e ex-Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário (PT-RS)”. Reincidente Esta é a segunda vez em que Bolsonaro, na condição de deputado, diz que não estuprará Maria do Rosário porque ela não merece. Em novembro de 2003, ele discutiu com ela, que era deputada, diante das câmeras da RedeTV! no Congresso Nacional. A então deputada acusou Bolsonaro de promover violência, inclusive violência sexual: “O senhor promove sim”, dizia a deputada. “Grava aí que agora eu sou estuprador”, retrucou o pepista. “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”, acrescentou. Diante da fala, Maria do Rosário disse que daria uma bofetada em Bolsonaro se este tentasse algo. Passou a receber empurrões do deputado, que a respondia “dá que eu te dou outra”, antes de começar a chama-la de “vagabunda” e ser contido pelos seguranças da Câmara. Alterada, a petista o criticou por chamar qualquer mulher de “vagabunda”. Em entrevista, Bolsonaro disse a briga começou com um comentário sobre a redução da maioridade penal. Ao ouvir que Maria do Rosário era contrária à medida, sugeriu que a deputada contratasse o Champinha (Roberto Alves da Silva), que participou do estupro e assassinato de Liana Friedenbach, para ser motorista de sua filha. Fonte: Correio do Brasil
Zeudir Queiroz

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