RIO – O papa eleito para suceder Bento XVI, o argentino Jorge Mario Bergoglio, já começa o pontificado marcando a história da Igreja Católica. Ele será o primeiro Pontífice latino-americano, jesuíta e também o primeiro a se chamar Francisco. Assim como a renúncia de Joseph Ratzinger, a escolha do arcebispo de Buenos Aires pegou o mundo de surpresa. Ele não vinha sendo apontado como um dos favoritos e venceu a barreira da idade. O argentino assume o Trono de Pedro com 76 anos, um a menos que Ratzinger quando foi eleito em 2005, apesar da expectativa que fosse escolhido um líder mais jovem.
Bergoglio é um jesuíta intelectual, nomeado cardeal por João Paulo II em 21 de Fevereiro de 2001. Ele viaja de ônibus e tem uma abordagem própria da pobreza: quando foi nomeado cardeal, ele convenceu centenas de argentinos a não voar até Roma para celebrar com ele mas, ao invés disso, doar o dinheiro que gastariam para os pobres.
Considerado um moderado, de carreira acadêmica, o novo Papa foi um forte oponente à legalização do casamento gay na Argentina em 2010 e se posiciona contra o uso de preservativos para prevenir doenças. Aberto ao diálogo com outras religiões, ele não é suspeito de ter envolvido em nada relacionado à pedofilia de padres e no escândalo Vatileaks. Entre suas prioridades está a reforma da Curia romana.
Segundo o jornal argentino “Clarín”, as posturas de Bergoglio são geralmente consideradas progressistas. Em setembro do ano passado, ele criticou duramente os sacerdotes que não aceitam batizar filhos de mães solteiras, chamando-os de “hipócritas”.
– Estes são os hipócritas de hoje. Os que clericalizaram a igreja. Os que afastam o povo de Deus da salvação – afirmou, em um encontro pastoral na Universidade Católica Argentina (UCA).
Em reportagem sobre os papáveis no começo deste mês, o jornal italiano “La Stampa“ havia classificado Bergoglio como uma figura-chave do conclave, mas descartou sua eleição, devido à idade avançada.
– Nos últimos anos, o prestígio de Bergoglio foi crescendo tanto na Igreja latinoamericana quanto dentro do colégio cardinalício”, analisou o jornal. “Em sua diocese, há tempos a Igreja está pelas ruas, nas praças, para evangelizar”, afirmou o La Stampa, lembrando que o cardeal destaca a necessidade de “estar na periferia para evitar a enfermidade espiritual de uma igreja auto-referencial –
Bergoglio vem de um país marcado por confrontos entre Estado e a cúpula eclesiástica. No último dia 1 de março, na cerimônia de reinício das atividades legislativas, a presidente argentina referiu-se ao processo de sucessão no Vaticano e aproveitou para lembrar que seu vínculo com a Igreja não é dos melhores:
– Sou parte da Igreja, embora tenha minhas diferenças com suas autoridades – afirmou.
Bergloglio, que ficou em segundo lugar na votação do Conclave de 2005, criticou várias vezes o “clima de confrontação política” que, segundo ele, predomina há vários anos. Em 2010, por exemplo, Bergoglio assegurou que “é próprio da alta política começar e manter processos, em vez de confrontar para dominar espaços” de poder.
– A relação entre Cristina e a Igreja é fria e distante – comentou o jornalista do “Clarín” Sergio Rubin, autor de um livro sobre conversas com Bergoglio.
Segundo ele, “Kirchner e Cristina nunca gostaram das homilias de Bergoglio porque as interpretam como críticas a seus governos”.
Fonte: O Globo
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