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A internet modifica, inclusive, hábitos em casa, onde cada um prefere ficar em seu quarto no computador
Tornou-se cada vez mais comum encontrarmos pessoas no meio da rua conectadas à internet. Seja na praça, praia, num bar, restaurante, shopping center ou no transporte coletivo, é notório que existe uma sede por conexão. Mas até que ponto isso interfere nas relações pessoais? O que leva uma pessoa em companhia de amigos simplesmente ignorá-los para interagir com outros virtualmente?
O lojista Israel Nobre, de 27 anos, que mora no Canadá, é um viciado em internet assumido. Ele conta que, graças ao celular com conexão 3G, o único momento no qual não está conectado é quando está tomando banho ou dormindo. Durante o dia todo, acrescenta, é praticamente obrigatório checar e-mails e redes sociais, onde estiver.
Já a assistente social Juliana Fernandes, de 30 anos, considera desrespeitoso quando amigos, em plena roda de conversa, não largam o celular. “Me incomoda, porque é o momento que a gente tem para se divertir, conversar. É muito desagradável, às vezes, a pessoa não está nem prestando atenção no que a gente está falando”, frisa. A assistente social comenta que, em casa, o convívio familiar também está mudando, pois, em vez da tradicional conversa em família, muitos preferem ficar no quarto, cada um no seu computador.
Mobilidade
Sobre essa tendência cada vez maior das pessoas acessarem a rede de onde estiverem, munidas de modernos aparelhos eletrônicos, o psicólogo Aluísio Ferreira de Lima, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) de Sobral, diz que é irônico perceber que muitos estão ali de corpo presente, mas virtualmente estão em outro lugar.
O especialista explica que isso faz parte do “boom” tecnológico que estamos vivendo, no qual as pessoas querem estar conectadas a todo instante. “Na internet, vai ter sempre alguém 24 horas disponível para falar e interagir. As pessoas esperam que tenha um espectador, alguém que responda. A sociedade vive uma carência muito grande de cuidados, de atenção do outro e as redes sociais colocam isso”.
No entanto, Lima deixa claro que as relações virtuais não substituem as pessoais. Pelo contrário, acaba sendo um meio para concretizar o encontro real. “Por mais que as pessoas vivam cada vez mais ligadas às redes sociais, nunca se procurou tanto o contato com o outro. A busca é pela interação”, esclarece.
Acesso ainda é restrito no CE
Apesar do momento de euforia tecnológica que vivemos, ainda é pequeno o número de pessoas que têm acesso à internet. Para se ter uma ideia, de acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, 19,21% (454.311) dos domicílios cearenses tinham microcomputadores. Desse total, apenas 14,72% (348.228) com acesso à internet. A média está abaixo da nacional, que aponta que 30,73% (17.615.480) dos domicílios brasileiros têm acesso à rede.
Na região Nordeste, dos 21,22% (3.166.619) da população que conta com microcomputadores nos domicílios, 16,78% (2.504.534) é o percentual que possui acesso à rede mundial de computadores – a internet.
Conforme relatório divulgado, em 2011, pela Organização das Nações Unidas (ONU), o acesso à internet é direito do homem e desconectar a população da web viola essa política. No Ceará, algumas medidas, ainda discretas, estão sendo desenvolvidas pelo poder público visando popularizar o acesso à rede.
No Centro de Fortaleza, seis praças disponibilizam internet gratuita para a população: Praça do Ferreira, Passeio Público, Praça José de Alencar, Praça da Estação, Parque da Criança e Praça do Carmo. Além disso, é cada vez maior o número de estabelecimentos, como bares, restaurantes, cafés, hotéis, shoppings centers, dentre outros, que disponibilizam internet via Wi-Fi.
Uirá Porã, secretário executivo do Comitê Fortaleza Digital e Criativa, afirma que a internet é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento social, econômico e intelectual para a população. “A tecnologia cada vez mais tem se mostrado importante na vida das pessoas, numa velocidade cada vez maior. Mas ainda é preciso desmistificar esses avanços”, relata.
O gestor destaca que a população precisa se apropriar das novas tecnologias, entender o potencial da comunicação, do aprendizado, do compartilhamento e da informação. “É preciso que o poder público entenda a dimensão dessa questão para melhorar a vida da população como um todo”, acrescenta.
Na web
O consultor de conteúdos para web, Gilberto Soares, que presta consultorias para empresas, vive conectado 24 horas. Ele conta que, como seu pai gostava muito de tecnologia, teve o primeiro computador há 30 anos.
Seu filho, hoje com 12 anos de idade, usa computador, iPod e smartphone com bastante eficiência. Sua esposa, porém, apesar de saber manusear os aparelhos eletrônicos, ainda gosta de livros de papel.
Conexão
14% dos domicílios cearenses dispõem de acesso à rede. O percentual é considerado pequeno, se comparado com a média nacional de 30,73%
“A palavra dessa nova era midiática é compartilhamento”
Riverson RiosCoordenador do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC)
A que você atribui esse “boom” midiático em que vivemos?
As pessoas sempre tiveram necessidade de se comunicar. A palavra dessa nova era midiática é “compartilhamento”. É o desejo que o ser humano sempre teve de se comunicar, repassar novidades, falar o que está sentindo, comentar com os amigos emoções. Encontraram na internet esse espaço maravilhoso.
Quais as vantagens e desvantagens que a internet proporciona?
A internet é um meio democrático, porque existe uma cultura do grátis. Pode-se criar uma conta de e-mail gratuitamente, editar fotos, manter um blog, postar fotos, vídeos, comentar, criar uma conta no Orkut, Facebook ou no Twitter. Por isso, é um meio democrático. Todo cidadão tem acesso à informação de forma gratuita e ainda pode produzir conhecimento.
Qual a principal falha da internet?
Apesar da internet ter sido popularizada, ela ainda não atende à maioria da população, por isso questiono se realmente ela é um meio democrático. Os dados do IBGE apontam que grande parte da população ainda não tem acesso à rede.
O que essa febre por conexão gera?
Imagino que deve ter muitas pessoas que ficam conectadas o dia inteiro. Algumas se frustram quando acessam a rede e não encontram novidades, ninguém adicionou e nem curtiu nada. No futuro, com a popularização dos tablets e dos smartphones, as pessoas contarão com esse instrumento a mais para registrar suas ideias e frustrações.
Onde isso vai parar?
Ninguém sabe, mas a tendência é ter cada vez mais pessoas conectadas. Espera-se que essa questão da exclusão digital seja resolvida. A população precisa saber criar uma conta de e-mail, que pode produzir conteúdo, comentar num fórum, nas redes sociais, que pode contribuir criando novos softwares. Ainda tem muita coisa a ser feita.
De que forma a internet pode ser popularizada?
O acesso é o mínimo a ser dado ao cidadão. É papel do governo prover acesso à internet. De acordo com a ONU, a internet é um direito fundamental do homem.
LUANA LIMA REPÓRTER
Do Diário do Nordeste