Experiência zero nas urnas, nenhuma liderança destacada ou qualquer popularidade evidente. A soma das três características, todas sinais de um fracasso eleitoral anunciado, não inibiram o Partido Republicano da Ordem Social (Pros) do Ceará de investir, na eleição passada, mais de R$ 274 mil na candidatura da novata Débora Ribeiro a deputada estadual.
Todo bancado por recursos públicos do fundo eleitoral, “o tiro no escuro” do Pros encontrou derrota previsível nas urnas: mesmo aditivada, campanha da candidata teve apenas 47 votos. Suspeita por si só, a salgada candidatura – em mais de R$ 5,8 mil por voto – ganha contornos claros de simulação se observados detalhes da postulação de Débora Ribeiro.
O repasse do Pros, enviado para a candidata no final de agosto, foi mais de quatro vezes maior que o de Soldado Noélio, ex-vereador eleito deputado estadual pela sigla. Até mesmo Luís Eduardo Girão, eleito para cargo majoritário de senador, e Capitão Wagner, “estrela do partido” na eleição passada, receberam menos que a desconhecida Débora.
À Justiça, a candidata disse ter investido mais de 75% do valor recebido na contratação de quase 150 militantes – sendo 26 deles “coordenadores” e 11 “supervisores” de atos. Mesmo assim, não existem vestígios online da campanha de Débora: em redes como Facebook, Instagram e Twitter, nem a candidata nem seu número de urna, 90.088, foram jamais mencionados de forma pública.
Sobram, no entanto, relações entre a candidata e o deputado federal Vaidon Oliveira (Pros), até ano passado dirigente do Pros local. No registro de candidatura à Justiça Eleitoral, por exemplo, a candidata declarou como e-mail o endereço deboravaidon90@hotmail.com. Além disso, pessoas que trabalharam com o parlamentar e até a irmã dele receberam repasses da campanha de Débora.
No último fim de semana, o jornal Folha de S. Paulo denunciou que o partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL, teria criado candidata laranja no Pernambuco para usar verba pública de R$ 400 mil. A candidatura, que só obteve 274 votos, seria ainda uma forma de burlar lei em vigor que prevê que pelo menos 30% dos candidatos devem ser do sexo feminino.
O POVO tentou, ao longo dos últimos dias, entrar diversas vezes em contato com Débora Ribeiro para comentar o caso. Lideranças do Pros no Estado, no entanto, não sabiam repassar o número de contato dela. Nem mesmo os telefones oferecidos pela candidata à Justiça Eleitoral estavam funcionando.
Procurado pela reportagem, o deputado Vaidon Oliveira negou ter qualquer relação com a candidata. Segundo ele, Débora teria saído candidata em dobradinha com o ex-vereador de Fortaleza, Wellington Saboia, que tentou vaga de deputado federal mas obteve só 7,8 mil votos. “Como o candidato a federal dela não teve êxito, acredito que ela teve dificuldade”.
Presidente do Pros no Ceará, Capitão Wagner reforçou relação entre Wellington Saboia e Débora, mas afasta responsabilidade sua na alocação de recursos para a campanha da candidata. “A definição dos valores foi feita pela Direção Nacional do partido. A gente mandou as chapas de candidato, mas esse critério é deles”, diz.
A reportagem tentou entrar em contato com a Direção Nacional do Pros sobre o caso, mas não recebeu retorno até a noite de ontem. Chamadas ao número de Wellington Saboia também não foram atendidas. Campanha do ex-vereador nas redes, no entanto, também não mencionam Débora.
Fonte: O Povo Online
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