“Se ele confessar, ele vai ter que dar conta do corpo da minha filha”, disse a mãe de Eliza Samudio, Sônia Moura, nesta quarta-feira (21) sobre as declarações de que Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, confessaria a participação dele e revelaria o envolvimento do goleiro Bruno Fernandes e do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, no desaparecimento e morte de Eliza. Sônia disse acreditar que Macarrão vai fazer as revelações durante o interrogatório. Ela deixou o fórum chorando, após prestar informações durante a sessão que ocorre no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O júri popular do caso Eliza Samudio começou nesta segunda-feira (19) com cinco réus no Fórum de Contagem, mas três deles vão a júri posteriormente, após a juíza determinar desmembramento: o goleiro Bruno Fernandes, a ex-mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. A sessão está prevista para março de 2013. Os réus Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, e Macarrão, continuam sendo julgados.
Questionada se a possível confissão de Macarrão mudaria alguma coisa no processo, Sônia disse, muito emocionada e chorando: “Não vai mudar muita coisa, Bruno premeditou, Bruno foi o mandante. (…) Minha esperança é os restos mortais de minha filha”.
A mãe de Eliza foi arrolada como informante pela defesa de Macarrão. Durante o júri nesta quarta-feira (21), ela disse que “não perdoaria” o goleiro Bruno, caso ele seja responsável pela morte de sua filha. Ela também afirmou que Eliza jamais abandonaria o filho, Bruninho. “Ela [Eliza] sempre falava para mim em relação a um filho. Ela disse para mim que mataria e morreria pelo filho dela, mas que ela jamais deixaria o filho para trás”, disse.
A mãe disse sustentar Bruninho com a ajuda do marido e de familiares, porque está há dois anos e nove meses sem trabalho. “Sempre houve resistência [do goleiro] em reconhecer a paternidade da criança”, afirmou ela ao promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, ao ser questionada sobre a decisão da Justiça que declarou Bruno o pai da criança.
O relacionamento da família de Eliza com Bruninho é o “melhor possível”, disse Sônia. Ela relatou que não teve contato telefônico com a filha, que é ex-amante do goleiro, por oito meses, e que soube de notícias de Eliza por meio de suas redes sociais na internet.
“Todas as amizades dela eram duradouras, ela era muito querida”, disse a mãe, após chorar. “Eliza era muito calma, não era explosiva”, ressaltou.
Sônia revelou que não teve conhecimento da relação entre Eliza e Bruno nem da gravidez, em 2010. Ela confirmou as declarações que havia dado antes à polícia, sobre uma fuga da filha de casa, no passado.
Acusação fala em acordo
Um acordo para revelar o que ocorreu com a ex-namorada do jogador foi firmado com a defesa de Macarrão, de acordo com o advogado José Arteiro Cavalcante Lima, que representa a mãe de Eliza. A afirmação foi dada nesta quarta-feira (21), em frente ao Fórum de Contagem, onde ocorre o júri popular. “O Macarrão vai confessar tudo, a parte dele, do Bruno e do Bola”, disse. O defensor atua como assistente de acusação no júri popular sobre o desaparecimento e morte da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes. Lima afirmou que, em troca, ofereceu proteção a Macarrão e redução de pena. “Para ele vai ser muito bom”, disse o advogado.
Perguntado por jornalistas sobre o assunto da longa conversa que teve com Macarrão dentro do tribunal, Lima respondeu que não tem nada para esconder. “Na verdade, eu fiz uma proposta pra ele [Macarrão], porque ele foi abandonado. Essas alturas o Bruno tá aí com 50 advogados e ele só está com um. A proposta é que ele abra a bronca toda, fala onde é que tá o corpo, sobre o Bruno, que o Bruno tem a participação, foi o Bruno que mandou”, disse.
Lima ainda assegurou que Macarrão não agiu sozinho. “Não quero ver o Macarrão preso numa coisa que ele não mandou fazer, entendeu. Que ele foi apenas, como disse ele, o jagunço”, afirmou. O assistente de acusação explicou que propôs ajuda para que Macarrão não corra nenhum tipo de risco e disse que vai “requerer da Justiça que dê proteção” ao preso. Macarrão está detido na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele é julgado por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver.
Procurado pelo G1, a assessoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) explicou que a confissão é considerada atenuante, mas não cabe ao advogado negociar a redução de pena, já que esta é determinada pela juíza quando o corpo de jurados decide pela condenação. O ato de confessar o crime favorece o acusado, segundo o professor de direito penal da PUC Minas Marcelo Peixoto. “Está previsto no Código Penal, é um atenuante da pena. Então, se um acusado confessa um crime, necessariamente, o juiz deve atenuar sua pena por ter confessado o crime”, disse.
Quanto à inclusão em programas de proteção, o pedido deve ser encaminhado à Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedese), mas o órgão esclarece que não é feita a inclusão de réus presos. O acusado pode requerer se estiver em liberdade.
Do G1
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