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UFC envia Pele de Tilápia para socorrer animais queimados no Pantanal

Uma equipe composta de três pesquisadores da Universidade Federal do Ceará-UFC (um biólogo, um enfermeiro e um médico veterinário) segue nesta terça-feira (6) para o Pantanal do Mato Grosso do Sul, levando 130 amostras de Pele de Tilápia para socorrer 30 animais que foram atingidos pelas queimadas no Pantanal em setembro passado.

“No Brasil é a primeira vez que usamos a Pele de Tilápia para salvar animais. No Exterior já se usar a Pele de Porco para este fim. Aqui desenvolvemos esta técnica da Pele de Tilápia, que ia para o lixo na indústria pesqueira. Estamos aproveitando um material do peixe mais produzido no Brasil para fins salvadores”, destaca o coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da UFC, professor Odorico de Moraes.
Esta é a segunda vez que a UFC envia Pele de Tilápia para socorrer animais queimados. O primeiro envio foi para atender ursos da Califórnia (Estados Unidos). A UFC enviou 40 mil centímetros de Pele de Tilápia em agosto passado para socorrer queimados no Incêndio do Porto de Beirute, no Líbano.
“Sem dúvida se tratam de uma ação humanitária da UFC. É a Universidade fazendo valer seus estudos para colocar à disposição da sociedade, transformando a pesquisa que é feita dentro da Universidade em bem social”, ressalta Odorico de Moraes.
Professor Odorico de Moraes informa que o Núcleo tem capacidade também de preparar duas mil Peles de Tilápia. Essa meta é planejada para o início do próximo ano e o material poderá servir em casos futuros de vítimas de queimaduras em grandes desastres, como o do Líbano, conforme esclarece o coordenador do Projeto Pele de Tilápia e pesquisador do NPDM, o médico Edmar Maciel. Segundo ele, essas 2 mil peles equivalerão a curativos de oito a dez centímetros por 15 a 20 centímetros, o que representarão, no total, em torno de 250 mil a 300 mil centímetros quadrados de Pele de Tilápia.
A Pesquisa ‘A Pele de Tilápia: Um Novo Biomaterial para Tratamento de Queimaduras, Feridas, Cirurgias Ginecológicas e Medicina Regenerativa”, realizada no NPDM da UFC ganhou o Prêmio Euro Inovação na Saúde, concedido pela indústria Eurofarma Laboratórios S.A. O concurso é tido como o mais importante da Medicina Brasileira.
Em última etapa, o júri formado por médicos de todo o Brasil, definiu o Estudo Cearense como primeiro colocado. A premiação recebida pela equipe é de 500 mil euros. Foram inscritos 1.653 trabalhos inicialmente. Desses, o Conselho Médico do concurso selecionou 11 finalistas, dentre os quais a pesquisa desenvolvida na UFC foi a vitoriosa. As outras 10 iniciativas finalistas receberão, cada uma, o valor correspondente em reais a 50 mil euros.
As Pesquisas sobre Uso da Pele de Tilápia na Saúde são coordenadas por Odorico de Moraes, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia e diretor do NPDM; e pelo médico Edmar Maciel, pesquisador do NPDM e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), vinculado ao Instituto José Frota (IJF), hospital de Fortaleza referência nacional no tratamento de queimados.
Os estudos realizados pelo grupo de pesquisa com Pele de Tilápia já conquistaram 15 primeiros lugares em diversos concursos e resultaram em mais de 20 trabalhos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais. O grupo do NPDM formou parcerias com pesquisadores em sete estados brasileiros e em sete países, totalizando mais de 200 colaboradores atualmente.
Para Odorico de Moraes, o Prêmio Euro de Inovação na Saúde é um reconhecimento pela dedicação e o trabalho de um grupo de pesquisadores do NPDM, onde, além dele, se destacam Edmar Maciel, Elisabete Moraes, Carlos Paier, Felipe Rocha e Ana Paula Nunes, à frente de equipes disseminadas em vários estados brasileiros e sete outros países. Além disso, o pesquisador considera que a conquista representa uma vitória do NPDM, da UFC, da Ciência Cearense e de todos os brasileiros.
“Transformar a pesquisa em bem social levando soluções para problemas de saúde que acometem a nossa população sempre foi um dos nossos principais objetivos no NPDM. Este prêmio foi importante para mostrar para o País o que o NPDM e a UFC podem fazer pela sociedade. É também um incentivo para novas gerações de jovens cientistas para buscarem nas suas pesquisas soluções inovadoras que possam contribuir para a saúde da população”, diz Odorico de Moraes. Segundo ele, a recompensa monetária do prêmio será investida na continuação da pesquisa da Pele da Tilápia e seus derivados.
“Estou muito feliz com essa conquista. O Brasil nunca teve pele de animal para tratar queimados e feridos e os produtos que estamos estudando e desenvolvendo são exportados por nosso País, com um elevado custo, não chegando, na maioria das vezes, na população mais carente. Estamos finalizando o processo de negociação para que uma empresa possa registrar o produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA, produzir e comercializar em larga escala e, inclusive, ser utilizado no mercado internacional”, afirma o médico Edmar Maciel.
Além do êxito obtido com a Pele de Tilápia no tratamento de queimados, o que ocorre desde 2015 com o uso em pacientes do IJF, a pesquisa é sucesso na aplicação da Pele de Tilápia na ginecologia. Na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), da UFC, já foram realizados 17 procedimentos de reconstrução vaginal em pacientes com síndrome de Rokitansky e Câncer de Vagina.
A técnica é trabalhada há quatro anos de forma pioneira pelo professor Leonardo Bezerra, do Departamento de Saúde Materno-Infantil. Em 2019, Leonardo Bezerra participou de um procedimento inédito no mundo, no qual a Pele de Tilápia foi utilizada na pós-cirurgia de redesignação sexual de uma paciente trans, em centro hospitalar vinculado à Universidade de Campinas (Unicamp). No Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), quatro pacientes já foram beneficiados com o uso do material no tratamento de úlceras varicosas.
A partir das pesquisas realizadas na UFC, amostras de Pele de Tilápia também fizeram parte de estudos da agência espacial norte-americana, a Nasa, em parceria com outras instituições de Pesquisa e Educação, para testes no âmbito do projeto Cubes in Space (Cubos no Espaço).
Os estudos com Pele de Tilápia extrapolaram os Meios Científico e Acadêmico e chegaram ao conhecimento do grande público, tanto por diversas reportagens radiofônicas, impressas, virtuais e por meio de séries de TV, como The Good Doctor e Grey’s Anatomy.
Com informações da Agência de Notícias da UFC e fotos de Viktor Braga.
Fonte: https://www.blogdolauriberto.com/

 

Zeudir Queiroz