Snowden recebe visita do pai e aprende russo para continuar trabalhando

O pai do ex-espião norte-americano Edward Snowden desembarcou, nesta quinta-feira, em Moscou para visitar o filho, que recebeu asilo na Rússia depois de revelar detalhes sobre programas de espionagem do governo dos EUA. Falando no aeroporto Sheremetyevo, onde seu filho passou semanas retido antes de receber asilo na Rússia, Lon Snowden disse que há meses não tem contato direto com Edward, mas que sente “extrema gratidão” pelo fato de seu filho estar “seguro e protegido e estar livre”. O jovem norte-americano, de 30 anos, é acusado pelos EUA de ter colocado em risco a segurança nacional ao divulgar informações sigilosas. A concessão de asilo a ele azedou ainda mais as já turbulentas relações entre Moscou e Washington. As autoridades russas e o advogado russo que assiste Snowden, Anatoly Kucherena, não divulgaram a localização dele. – Sou pai dele, eu o amo, e certamente espero ter oportunidade de ver meu filho. Não tenho certeza de que meu filho irá algum dia voltar para os EUA – disse Lon Snowden. As revelações de Snowden causaram atritos entre os EUA e países espionados, como Alemanha e Brasil, e fizeram com que muitos admiradores o descrevam como um paladino dos direitos humanos. Para os críticos, trata-se de um traidor. Lon Snowden disse desconhecer as intenções do seu filho, mas afirmou acreditar que ele não se envolveu na publicação de nenhuma informação desde que chegou à Rússia, pois estaria “simplesmente tentando se manter saudável e seguro”. Do aeroporto, Lon Snowden e o advogado foram levados para o estúdio de uma TV estatal, onde concederiam entrevista exclusiva ao vivo, o que indica que a visita está sob forte controle governamental. Kucherena disse esperar que o ex-técnico de inteligência encontre rapidamente um emprego na Rússia, possivelmente nos setores de tecnologia da informação ou direitos humanos, porque suas economias estão praticamente esgotadas, e ele sobrevive modestamente à base de doações. Mais tarde, ele disse que os Snowden, pai e filho, vão se encontrar na quinta-feira, mas que Lon precisará viajar “um bom número de quilômetros”. Lições de russo Lon Snowden chegou a Moscou e foi aí recebido pelo advogado Anatoli Kucherena, que aconselha Edward Snowden a respeito de questões jurídicas. – O pai de Edward Snowden ficou muito contente ao vir a Moscou. Falando a propósito, é a primeira vez que está na capital russa. O voo correu normalmente. Lon está ao par de tudo que se passa pois mantivemos contato com ele por telefone e por correspondência. Pretendo mostrar-lhe Moscou e, como é natural, vamos cuidar de que ele visite alguns museus e conheça os locais turísticos da nossa cidade – disse Kucherena. Espera-se que o pai de Snowden permaneça em Moscou algumas semanas. Durante este lapso de tempo, ele pretende discutir com o filho o futuro: o que fazer a seguir quando expirar o prazo da sua estadia na Rússia. Por enquanto, não está clara a próxima direção de Snowden, mas é evidente que não irá para os EUA – opina Lon Snowden. Nos EUA, Edward Snowden foi acusado de espionagem, o que implica punição até a pena de morte. A ameaça de ser preso por agentes norte-americanos vai pender sobre o refugiado durante todo o resto da sua vida, seja qual for o gênero da sua ocupação. Embora, – conta grossa, – Snowden já fez tudo que podia, opina o diretor geral do Centro de Informação Política Alexei Mukhin: – Snowden passou uma parte das suas informações à mídia. E uma vez que esta última não está imobilizada com promessas que Edward Snowden tenha feito mais tarde, os novos desmascaramentos continuam sendo publicados. Não se pode deixar de apontar que o caos que surgiu depois da publicação dos desmascaramentos de Snowden favorece muito a imagem das corporações, mencionadas nos desmascaramentos, assim como a imagem dos serviços secretos americanos, pois as suas possibilidades foram reveladas ao mundo inteiro. Creio que, afinal de contas, estas corporações obtiveram novos clientes e os serviços secretos americanos conseguiram “demonizar” a sua imagem a fim de continuar a exercer pressão moral sobre a comunidade mundial – disse Mukhin. O alarde que surgiu na Europa depois da publicação das informações de como os agentes norte-americanos vigiam os cidadãos e, inclusive, os líderes políticos dos países amigos, já se acalmou. Os EUA não prometeram que os seus serviços de inteligência irão renunciar a semelhantes métodos. Provavelmente apenas a América Latina não relega esta história ao esquecimento – a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, levantou a questão de espionagem a partir da tribuna da Assembleia Geral da ONU. Porém, o caso não vai além de inquéritos, realizados dentro do país. Enquanto isso, Edward Snowden aprende russo, lê livros e espera prosseguir na sua atividade de defesa dos direitos humanos. Fonte: Correio do Brasil
Zeudir Queiroz

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