Santa Quitéria: Comissão de energia nuclear aprova local de instalação da maior mina de urânio do Brasil

Mina em Santa Quitéria, no Ceará, pode ser usada para extração de urânio e fosfato caso empreendimento seja aprovado — Foto: Arquivo SVM

A instalação da maior mina de urânio do Brasil está mais próxima de se concretizar. Em 24 de maio, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) aprovou a construção do local de beneficiamento de urânio do Complexo de Santa Quitéria, no Ceará, conforme publicado no Diário Oficial da União em 28 de maio.

A jazida, localizada na fazenda Itataia entre Santa Quitéria e Itatira, a cerca de 210 km de Fortaleza, é a maior do Brasil. A exploração será feita pelo Consórcio Santa Quitéria, composto pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e pela Galvani Fertilizantes. O plano é explorar a jazida por 20 anos.

Se o projeto passar por todas as etapas, a usina produzirá urânio e elementos fosfatados usados na fabricação de fertilizantes. A CNEN destacou o “potencial estratégico para o Brasil” desses produtos. No entanto, ainda são necessárias várias etapas, incluindo o licenciamento ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

Em dezembro de 2022, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do consórcio foi rejeitado pelo Ibama, que solicitou informações adicionais sobre sustentabilidade ambiental e impactos nas comunidades locais. Enquanto o consórcio atende essas demandas, as obras não podem começar. A expectativa é obter a licença completa de instalação até o fim de 2024.

O projeto da usina de Santa Quitéria é promissor e polêmico. Tem apoio do governo estadual, mas levanta preocupações entre comunidades e pesquisadores sobre os riscos associados à exploração do urânio, incluindo impactos na saúde e na biodiversidade.

Em setembro de 2023, o governo do Ceará renovou um memorando de entendimento com o Consórcio Santa Quitéria, válido por cinco anos, prevendo cooperação para a implantação do projeto. O governo espera que a usina estimule o crescimento econômico regional e estadual, com um investimento previsto de R$ 2,3 bilhões.

A implantação deve gerar 2,8 mil empregos diretos e 5,6 mil indiretos na fase de construção, e 538 empregos diretos e 2,3 mil indiretos quando em operação. Mesmo com todas as licenças até o fim do ano, a operação só deve começar entre o fim de 2027 e o início de 2028, após dois anos e meio de construção.

Funcionamento da usina

O mineral na jazida de Itataia é o colofanito, contendo fosfato e urânio. As principais etapas de produção incluem:

  1. Mineração a céu aberto: Extração, britagem e moagem das rochas.
  2. Calcinação: Separação dos minerais, resultando em concentrado de rocha fosfática.
  3. Produção do ácido fosfórico: Mistura do concentrado com água e ácido sulfúrico, resultando em fosfogesso e cal, estocados na pilha de rejeitos.
  4. Purificação do ácido fosfórico: Separação do urânio e fosfato por extração por solventes, produzindo licor de urânio e ácido fosfórico.
  5. Produção do concentrado de urânio: Transformação do licor em pó amarelo (“yellow cake”), armazenado e exportado pelo Porto do Pecém e depois transformado em pastilhas e combustíveis nucleares no Rio de Janeiro.
  6. Fabricação de fertilizantes: Produção de adubos fosfatados e fosfato bicálcico para agricultura e ração animal, destinados ao Norte e Nordeste do Brasil.
  7. Pilhas de rejeitos: Armazenamento de fosfogesso e cal a seco, eliminando barragens de rejeitos.

A usina deve produzir anualmente 1,05 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados, 220 mil toneladas de fosfato bicálcico e 2,3 mil toneladas de concentrado de urânio.

Com informações do G1

 

Zeudir Queiroz