O holandês Joep Lange estava entre os mais de 100 pesquisadores que participariam de uma conferência na Austrália. Especialistas afirmam que será preciso avaliar o comprometimento de estudos em andamento
Um grupo com cerca de 100 pesquisadores e ativistas da luta contra a aids, que viajava para a mais importante conferência sobre a doença, estava no avião da Malaysia Airlines que caiu na última quinta-feira no leste da Ucrânia, provavelmente pelo disparo de um míssil. Entre as vítimas, está o ex-presidente da Sociedade Internacional de Aids (SIA), o holandês Joep Lange – referência mundial nos estudos sobre o HIV e na militância pela democratização do tratamento em países mais pobres.
A conferência da qual participariam os pesquisadores, em Melbourne (Austrália), é organizada pela SIA, e será realizada neste fim de semana, apesar da tragédia. Laureada com o Prêmio Nobel, a doutora Françoise Barre-Sinoussi, co-descobridora do vírus da Aids e atual presidente da Sociedade, prestou homenagem a Lange na capital australiana, Canberra.
“Joep era uma pessoa maravilhosa, um grande profissional. Não tenho palavras para expressar a minha tristeza”, disse ela, que explicou que a conferência será mantida por respeito às vidas perdidas. “Sabemos que isso era o que eles gostaríamos que fizéssemos”, afirmou.
Prejuízo
A tragédia provocou comoção na comunidade científica e levantou questionamentos sobre o prejuízo à pesquisa sobre a aids. Médicos e estudiosos ouvidos pelo O POVO explicaram que é cedo para avaliar, e que será preciso identificar as vítimas, as instituições a que eram ligadas e suas produções científicas.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Érico Arruda, explicou que ao longo do trabalho, o pesquisador vai deixando os registros do que encontra. E, em geral, ele não está sozinho.
“Acreditamos, então, que as pesquisas não se percam. Mas é claro que a ideia de alguém, aquilo que está passando pela cabeça do pesquisador, talvez não tenha ficado em lugar nenhum. E, talvez, no futuro, isso pudesse vir a ser uma grande descoberta”.
Érico Arruda, que também é preceptor da residência médica em Infectologia do Hospital São José, em Fortaleza, já participou de três edições da conferência da SIA, e disse que planejou ir ao evento na Austrália. Desistiu devido a outros compromissos e a distância.
O médico infectologista e ex-secretário de Saúde do Estado do Ceará, Anastácio Queiroz, também ponderou que a morte do grupo “desestrutura, interrompe temporariamente o curso dos estudos.
Qualquer individuo brilhante que desaparece de repente tem a falta sentida por algum tempo”. Mas, segundo Queiroz, “as pessoas e estruturas que ficam são capazes de manter o trabalho. Felizmente, na ciência, há sempre pessoas que vão fazendo trabalhos semelhantes”. (com agências)
Saiba mais
Dinheiro, joias, objetos pessoais e até cartões de crédito das 298 vítimas do voo MH17 estão sendo saqueados na cidade de Grabovo, onde o avião caiu, segundo autoridades ucranianas.
Além de o furto dos itens prejudicar a investigação do acidente, famílias das vítimas podem acabar prejudicadas. Segundo Gerashchenko, os saqueadores podem tentar usar os cartões de crédito na própria Ucrânia ou na Rússia.
Dois aviões estavam a cerca de 25 km de distância do voo MH17 quando este desapareceu, segundo o site Flight Radar 24, que monitora em tempo real o movimento de aeronaves no mundo.
Os aviões eram um Boeing-777 da Singapore, que fazia o voo SQ351, entre Copenhague e Cingapura, na mesma direção do voo da Malaysia, e um Boeing-787 da Air India entre Déli e Birmingham, no Reino Unido, no voo AI113.
Em comunicado ontem, a Malaysia disse que havia de fato um avião de outra companhia aérea na mesma direção e que seu nível de voo havia sido autorizado pelo controle de tráfego aéreo.
A capital da Ucrânia, Kiev, é, por enquanto, na única forma segura de chegar ao país por meio aéreo.
Fonte: O Povo
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