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Por demarcação de terras, índios ocupam a Funai em Fortaleza

O grupo tem cerca de 100 pessoas, que iniciaram ocupação na última segunda-feira
O grupo tem cerca de 100 pessoas, que iniciaram ocupação na última segunda-feira

Ao ligar para a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), no bairro Amadeu Furtado, uma criança de dez anos atende ao telefone: “Olha, moça, não tem ninguém aqui dessa Funai, não. Nós, índios, é que tomamos tudo”. A fala do menino retrata bem a ocupação que acontece no local desde a última segunda-feira, 7.

Cerca de 100 pessoas, segundo os manifestantes, de cinco etnias indígenas do Ceará, fazem da Funai aldeia de reivindicação: pedem a homologação das terras indígenas no Estado e a demarcação desses espaços.

Entre os ocupantes, há sete crianças — de férias das escolas indígenas. O POVO esteve no local, na manhã de ontem. O cacique Daniel Araújo da Silva, 65, da tribo Pitaguari, de Maracanaú (Região Metropolitana de Fortaleza), conta que a ocupação reivindica um “direito que é nosso, a nossa terra para plantar e colher”. Usando cocares de penas e colares de sementes, os índios cantaram, em círculos, e fizeram oração, durante a manhã.

Seis etnias ocupam as salas da Funai: Tabeba (Caucaia); Pitaguari e Anacé (Caucaia); Tabajara (Poranga); Potiguara (Monsenhor Tabosa) e Jenipapo-kanindé (Aquiraz). Eles espalharam colchonetes por quase todas as salas da instituição.

“Temos pautas fundamentais há bastante tempo, mas o nosso principal pedido é pelo reconhecimento do espaço como nosso”, frisa o cacique Weibe Tapeba, da etnia de Caucaia e presidente da Coordenação das Organizações e Povos Indígenas do Ceará (Copice). Segundo ele, dos 23 pedidos de reconhecimento de terra, somente um foi homologado até agora.

No último dia 19 de novembro, grupo de 14 etnias indígenas promoveu uma marcha em Fortaleza cobrando a demarcação de terras. O ato criticava a proposta da PEC 215, aprovada em outubro na Câmara Federal, que altera o processo de demarcação das terras indígenas.

Cotidiano

Os índios levaram para a sede da Funai alguns alimentos e cozinham numa fogueira montada no meio do pátio. As mulheres se revezam na cozinha. As crianças aproveitam o tempo para brincar. Todos compartilham o sonho de ter a terra reconhecida como sua. A aposentada Rita Silva dos Santos, 68, da tribo Tapeba, ajuda a fazer o arroz e a mistura. “É muito ruim cozinhar no meio do sol. Mais ruim é não ter nem onde cozinhar”.

Saiba mais

Os índios enviaram à Funai um pedido de declaração da Terra Indígena Tapeba no mês de novembro. A Funai Sede afirma, através da assessoria de comunicação, que recebeu a demanda e está analisando aspectos fundiários, com vistas à elaboração de informação técnica.

A Funai afirma que foram constituídos Grupos Técnicos para realizar os estudos de identificação e delimitação da tribo indígena Kanindé de Aratuba e Tabajara e Kalabaça de Poranga: que já tiveram início os trabalhos de qualificação sobre as áreas. Em relação ao tempo gasto para o andamento dos processos, a Funai cita seu reduzido quadro de servidores.

Fonte: http://www.opovo.com.br/

Zeudir Queiroz