De acordo com o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a população não se sente segura com a atuação da polícia: 62% dos brasileiros temem ser vítimas de violência por parte de policiais militares e 53%, por parte da polícia civil. Para o assessor de direitos humanos da ONG Anistia Internacional, Alexandre Ciconello, no entanto, defender o argumento de que “bandido bom é bandido morto” pode influenciar ações violentas por parte de alguns policiais.
“Essa posição significa que parte da população aprova uma ação criminosa e ilegal de uma pequena minoria de policiais que age fora da legalidade com execuções extrajudiciais. A polícia não pode executar, a não ser em situações de legítima defesa. Quando parte da sociedade defende esse tipo de coisa, é como se alguns maus policiais tivessem licença para matar”, afirma.
Em 2014, 3.022 pessoas foram mortas por policiais no País – oito a cada dia. O número, que representa uma morte cometida pelas forças de segurança a cada três horas, é 37,2% superior ao registrado em 2013. No Ceará, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) contabilizou, de janeiro a setembro deste ano, 61 mortes decorrentes de intervenção policial.
Por outro lado, o total de policiais mortos em serviço e fora dele por decorrência do trabalho também é elevado no Brasil. No ano passado, foram mortos 398 policiais no País, 10 a menos do que em 2013. O Rio de Janeiro, com 98 mortes em 2014, foi o estado que registrou maior vitimização de policiais, seguido por São Paulo, com 91 homicídios. No Ceará, 17 foram mortos em 2013, 10 em 2014 e, até setembro deste ano, o Estado registrou 12 mortes de oficiais, segundo estatísticas SSPDS.
“Polícia não é paga para morrer, e sim para dar segurança pública. Se o cidadão policial está trabalhando e o indivíduo à margem da lei atenta contra ele, esse policial tem o direito de se defender. Isso se chama legítima defesa”, afirma Noélio Oliveira, vice-presidente da Associação dos Profissionais da Segurança do Ceará.
Humanizar é preciso
O ex-PM pontua, ainda, que “o problema da violência não está só na polícia ou em matar bandido”. “O que faz nascer a violência? O Estado é violento quando não divide a renda, quando não valoriza sua polícia”, diz. Noélio defende também que a corporação seja internamente mais humanizada, tratando o policial de forma humana para que tal postura tenha reflexos nas ruas.
“É um trabalho estressante, desgastante, com escalas desumanas. São coisas que devem ser discutidas e que a sociedade precisa ver como são tratadas. Discutir a violência passa pela educação, o papel da família e a valorização do profissional de segurança pública”, expõe.
O secretário-adjunto da SSPDS, coronel Lauro Prado, por sua vez, ressalta que “o policial é membro da sociedade e muitas vezes internaliza certos conceitos”. Por isso, defende que a boa formação deve ser priorizada desde o ingresso na corporação.
“A máquina, uma viatura, um computador, se acabar você vai lá e compra. Com um homem, você tem que trabalhar a formação. A razão da polícia é ser cidadã. Nós estamos aqui para atender as demandas da sociedade, e as polícias agem nesse sentido. O governador Camilo Santana tem buscado solucionar problemas que vão se acumulando ao longo do tempo, relacionados inclusive à melhoria de condições de trabalho”, informa.
Lauro Prado destaca, então, o entendimento de polícia comunitária, que deve ser comum a todas os profissionais de segurança pública. “O trabalho de polícia comunitária não é simplesmente o de visitar a comunidade, é de aproximação. A Polícia Militar não faz saneamento, por exemplo, mas tem um órgão que faz, então é um mediador. Essa é a filosofia. Não adianta só colocar mais polícia nas ruas. Nós temos que trazer a comunidade para perto”, acredita.
E a mudança possível para os altos índices de violência, segundo a diretora-executiva da ONG Conectas, Jéssica Carvalho Morris, também deve começar dentro de casa. “Temos de trabalhar essa consciência de que não vivemos mais na época da barbárie, que não é mais olho por olho, dente por dente. Temos um Estado que aplica a lei e tem de ser respeitado”, conclui.
Fonte: Diário do Nordeste
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