Brasília. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou interferência em contratos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com empresas privadas ao prestar depoimento, ontem, ao Ministério Público Federal. Ele foi ouvido no inquérito que o investiga por suspeita de tráfico de influência em favor da empreiteira Odebrecht.
Segundo informações divulgadas pelo Instituto Lula, o ex-presidente destacou “que sempre procurou ampliar as oportunidades de divulgação dessas companhias no exterior, com vistas à geração de empregos e de divisas para o Brasil”.
Lula esteve com o procurador da República Ivan Cláudio Marx. De acordo com nota divulgada pelo instituto, o ex-presidente prestou o depoimento “voluntariamente”.
A nota diz ainda que “Lula respondeu às perguntas do procurador e argumentou que os presidentes e ex-presidentes do mundo inteiro defendem as empresas de seus países no exterior”, ressaltando que “isso é motivo de orgulho”. De acordo com a assessoria do petista, todas as palestras feitas por ele estão declaradas e contabilizadas, com os devidos impostos pagos.
A assessoria do ex-presidente disse ainda que o petista jamais interferiu na autonomia do BNDES e nas decisões do banco sobre concessões de empréstimos. Em seu depoimento, ele teria dito que “quem desconfia do BNDES não tem noção da seriedade da instituição”.
Suspeita
A suspeita dos investigadores é que Lula tenha exercido influência para que o BNDES financiasse obras de Odebrecht, principalmente em países da África e da América Latina. A empreiteira bancou viagens de Lula ao exterior depois que ele deixou a Presidência da República, a partir de 2011. As investigações correm na Procuradoria da República no Distrito Federal, em sigilo.
O Código Penal estabelece como tráfico de influência “solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função”, prevendo pena de dois a cinco anos de reclusão.
Reunião do PT
Em outra frente de atuação, o ex-presidente cobrou ontem, em Brasília, que os deputados do PT se mantenham unidos e sigam as orientações da liderança do partido.
Preocupado em barrar o processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT), Lula reclamou da divisão da bancada da Câmara e pediu que as diversas tendências da sigla sejam esquecidas nesse momento. “Vocês devem de discutir, debater e definir uma linha. E ai todos devem estar juntos”, afirmou, conforme relatos de participantes.
Ele lembrou a importância de manter um diálogo aberto entre a Câmara e o Palácio do Planalto, especialmente nesse momento de acirramento político.
Na terça, 32 dos 62 deputados da bancada na Casa assinaram um manifesto de apoio ao pedido do PSOL e da Rede Sustentabilidade que pede a cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Dos 12 deputados que estiveram com Lula ontem, seis apoiaram o pedido de perda de mandato do presidente da Câmara. Entre eles, Maria do Rosário (RS), Valmir Assunção (BA), Wadih Damous (RJ), Afonso Florence (BA), Margarida Salomão (MG) e José Pimenta (RS).
Acordo
O ex-presidente negou ontem, por meio de nota, que esteja participando de acordos para proteger Cunha por conta do processo que deve ser instaurado contra o peemedebista no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar. O texto diz que as notícias a esse respeito “são escandalosamente mentirosas” e que considera que o assunto compete ao Legislativo e ao Judiciário, dentro da lei e da Constituição.
Nos bastidores, contudo, circula a versão de que a orientação de Lula e da direção do partido seria que os petistas mantenham-se em silêncio sobre acusações contra Cunha, numa estratégia casada para evitar o impeachment de Dilma. Lula teria pedido que os deputados foquem no enfrentamento do pedido de afastamento e articulem votos suficientes contra eventuais medidas da oposição. O STF barrou a possibilidade de recurso, mas a oposição e Cunha recorreram.
Fonte: Diário do Nordeste
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