Estado deixou de ocupar o 3º lugar com maior taxa de mortalidade e, 23 anos depois, passou para a 16º posição
Vítimas de um pobre atendimento em saúde e condições ainda mais precárias de higiene, no ano de 1980, a cada mil crianças nascidas no Ceará, uma média de 111,5 morriam antes de chegar a um ano de idade. Mais de 10% do total nascido. Exatos 23 anos depois, o Estado sofreu grandes mudanças no quadro de expectativa de vida entre meninos e meninas. Conforme divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013, a taxa de mortalidade infantil cearense caiu para 16,6 óbitos por mil nascimentos. A queda observada foi a maior no País.
Os dados são das Tábuas Completas de Mortalidade do Brasil de 2013, que apresenta as expectativas de vida em todo o território brasileiro para as idades de 0 a 80 anos. Com o avanço registrado em pouco mais de duas décadas, o Ceará deixou de ocupar a triste posição de 3º estado com a maior taxa de mortalidade de recém-nascidos, em 1980, e passou ao 16º lugar, colocação ainda longe do ideal, mas de melhoria significativa.
De acordo com o levantamento, o Estado do Ceará teve a redução mais notável dentre todas unidades da federação. Ao longo de 23 anos, a taxa caiu 94,9 pontos ao todo.
No ano de 1980, a cada mil meninos nascidos, 121 não conseguiam chegar ao primeiro ano de vida. Já entre meninas, a proporção de óbitos era de 100,4 por mil. No ano passado, as taxas caíram para 18,1 e 15,2, respectivamente.
Atenção básica
Segundo Acilon Gonçalves, secretário-executivo de Saúde do Estado e obstetra, a redução pode ser atribuída a diversos fatores. No entanto, o primeiro grande choque na mortalidade infantil no Ceará foi a implantação do programa de agentes comunitários de saúde, nos anos 1990, e a ampliação das unidades de atenção básica em saúde nos municípios. Conforme o gestor, as duas medidas tiveram essencial importância pois proporcionaram o maior acompanhamento de grávidas e crianças no pré e no pós-natal.
“A boa atuação dos agentes comunitários de saúde foi fundamental para acabar com a morte por desidratação e desnutrição. Ao fazer o acompanhamento do peso e da hidratação do recém-nascido, eles têm como detectar precocemente as alterações e encaminhar para uma unidade de saúde. Além disso, eles também fizeram o trabalho de monitoramento de vacinação, impedindo as doenças próprias da infância”, destaca.
Pré-natal
Antes do parto, a falta de assistência em enfermagem e medicina à gestante, com a realização de exames e consultas periódicas para detectar problemas de saúde tanto da mulher quanto do bebê, constitui uma das principais causas da chamada mortalidade neonatal precoce, até os 28 dias de vida. Na visão de Gonçalves, os esforços para reverter essa situação foram outro passo em direção a uma menor taxa de mortalidade infantil no Ceará.
“Quando nós não tínhamos a quantidade de unidades de saúde que temos hoje, a cobertura da atenção básica era inferior a 40%. As gestantes tinham assistência pré-natal, mas era uma ou duas consultas durante toda a gravidez. Não podíamos chamar nem de acompanhamento, eram só consultas esporádicas. Não era possível evitar problemas graves como o retardo do crescimento intrauterino e do nascimento prematuro, por exemplo”, afirma o secretário-executivo. Hoje, ele explica, a cobertura da atenção básica é de aproximadamente 90%.
O obstetra cita, ainda, outros pontos de evolução, como a expansão do saneamento básico e das condições de higiene pública no Estado, que ajudou a diminuir os casos de infecção entre os recém-nascidos. Mas, embora os últimos anos tenham sido de melhora perceptível, é preciso avançar mais. Gonçalves afirma que a meta – e o desafio – da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) é reduzir a taxa de mortalidade infantil para menos de 10 óbitos por mil nascimentos.
Desafio
“A taxa atual é uma das menores no País, mas não é motivo de satisfação para nenhum gestor. Nosso objetivo é ficar abaixo dos dois dígitos. Acreditamos que é um trabalho de curto prazo, que pode ser atingido de 5 a 10 anos”, salienta o obstetra Acilon Gonçalves.
No Brasil, a taxa de mortalidade infantil em 2013, de acordo com o IBGE, foi de 15 para cada mil nascidos. Em 1980, essa proporção era de 69 por mil. Atualmente, os estados com as maiores taxas são Maranhão (24,7), Alagoas (24) e Amapá (23,9). As menores são de Rio de Grande do Sul (10,5), Espírito Santo (10,1) e Santa Catarina (10,1).
Expectativa de vida no Ceará vai a 73,2 anos
As Tábuas Completas de Mortalidade no Brasil de 2013 mostraram, também, que a expectativa de vida no Ceará no ano passado subiu para 73,2 anos. Em relação a 1980, quando esperava-se que os cearenses vivessem, em média, até os 59 anos, o acréscimo foi de 14,2 anos. Conforme os dados, que revelam a esperança de vida para todas as idades até os 80 anos, a expectativa no Ceará ficou 1,7 ano abaixo da nacional, calculada em 74,9 anos de idade.
No entanto, no mesmo período de 23 anos, o aumento de anos na esperança de vida dos cearenses foi maior que no Brasil. No País, em geral, a expectativa cresceu 12,4 anos de 1980 para o ano passado.
Entre os homens cearenses, a expectativa registrada em 2013 foi de 69,2 anos, uma elevação de 13,2 anos, se comparada a de 23 anos atrás. Entre as mulheres, o aumento foi ainda maior. Passou de 62 anos, em 1980, para 77,2 no ano passado. O aumento foi de 15,2 anos.
Segundo Francisco José Moreira Lopes, chefe do IBGE no Ceará, o crescimento da esperança de vida entre os cearenses pode ser explicado na redução da mortalidade infantil, no aumento das coberturas vacinais, na maior preocupação de jovens e adultos com a saúde, n o aumento da renda e outros pontos. Para Lopes, a média seria ainda maior não fossem as mortes no trânsito e os óbitos causados pela violência urbana.
Vanessa Madeira
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
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