Para o teólogo Leonardo Boff, grupos que buscam reviver manifestação de 1964 e defendem intervenção militar no governo do Brasil não sabem o que querem. Além disso, eles mostrariam desprezo às vítimas da ditadura
O teólogo e escritor Leonardo Boff, conhecido pela defesa às causas sociais e aos direitos humanos, criticou, ontem, os grupos que se mobilizam para promover uma reedição da Marcha da Família com Deus, realizada em 1964. “Esses grupos não sabem o que querem, eles mostram um desprezo das vítimas (da ditadura militar) e não pensam naqueles que podiam ser seus filhos, suas filhas, seus maridos que foram desaparecidos e torturados”, disse Boff.
O filósofo foi palestrante convidado do VII Congresso Estadual dos Fazendários (Conefaz), ontem, em Fortaleza. Durante o evento, Boff apresentou questões as quais considera fundamentais para a sociedade, como a sustentabilidade e a cidadania. Ao O POVO, ele criticou a estrutura da democracia no Brasil e defendeu a necessidade de uma reforma política, direcionada pelos reclames das manifestações de ruas de 2013.
“Acho que, no Brasil, temos de refundar a democracia porque é uma democracia de baixíssima intensidade política, na direção do reclame que vem das bases, das manifestações do ano passado, que é de uma democracia participativa, social, que atenda às demandas sociais”, ressaltou.
“Antibrasileiros”
Sobre os mobilizadores da Marcha da Família com Deus, Boff disse serem “as pessoas mais antibrasileiras que existem, são inumanas, cruéis e sem piedade”. A manifestação, programada para cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, no próximo sábado, busca reviver a marcha de mesmo nome realizada em São Paulo, em 19 de março de 1964, quando milhares de pessoas foram às ruas contra o que consideravam a ameaça comunista do governo João Goulart. Cinquenta anos depois, a marcha é considerada como um dos motes para o golpe militar de 1964.
“Elas estão propiciando a volta do crime, contra a democracia, contra a humanidade. (…) Elas estão defendendo não a democracia, nem a liberdade, nem a família, estão defendendo os seus privilégios”, pontuou Boff. Apesar das críticas, ela disse acreditar que haja esclarecimento dos brasileiros para não apoiarem a ação, e que os próprios militares não têm interesse, nem estrutura para uma intervenção militar – proposta defendida por grupos da atual marcha.
Na página do Facebook que promove o evento, consta a descrição de que a manifestação tem o objetivo de alertar o povo brasileiro sobre possível “golpe comunista”. Apesar de defender a intervenção militar, o grupo afirma que a ação é diferente de uma ditadura militar.
Fonte: O Povo
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