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Júri condena Mizael a 20 anos de prisão pela morte da ex-namorada

GUARULHOS (SP) – O júri condenou, no fim da tarde desta quinta-feira, no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo, o policial militar aposentado e advogado Mizael Bispo de Souza, acusado de matar a ex-sócia e advogada Mércia Nakashima, em maio de 2010. A pena fixada pelo juiz Leandro Cano foi de 20 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado, com o agravante de que o réu mentiu. O magistrado qualificou a conduta de Mizael como “desprezível”, “egoística” e “premeditada”, além de chamá-lo de “covarde” e “agressivo”.

Um dos advogados de Mizael, Samir Haddad Jr., disse que recorrerá da sentença. O defensor disse também que aguarda o julgamento do mérito por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido da defesa para que o réu cumpra a pena em sala de Estado-Maior, um direito a advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e afirmou que, enquanto isso não ocorrer, Mizael continuará no Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte de São Paulo. Segundo o defensor, no estado de São Paulo não há sala de Estado-Maior e, por isso, o ministro Ricardo Lewandowski pode decidir por prisão domiciliar.

O crime ocorreu numa represa, em Nazaré Paulista. A advogada Mércia, sua ex-namorada, foi atingida dentro do carro por um tiro no rosto. Em seguida, o veículo foi empurrado para dentro de uma represa, onde, segundo a perícia, ela morreu afogada.

O julgamento recomeçou por volta das 9h30m, com o debate entre defesa e acusação. O primeiro a falar foi o promotor Rodrigo Merli Antunes.

— Se ficarem com dó do réu, lembrem-se da imagem da vítima sendo retirada da represa de Nazaré Paulista — disse o promotor.

O promotor chamou de “espetáculo” e “mentira” o depoimento de Mizael na quarta-feira, quando ele afirmou que não consegue atirar bem com a mão direita. Antunes lembrou ainda que, durante as audiências de instrução, o réu desafiou-o a ir a um clube de tiros para mostrar como atira bem com as duas mãos.

Na sequência do promotor, a exposição foi feita pelo assistente de acusação Alexandre de Sá Domingues. Ele apontou 19 mentiras no depoimento de Mizael, nesta quarta-feira, e salientou que o réu será condenado pelas provas técnicas, “não pela imprensa”. Para Domingues, e-mails trocados por Mizael e Mércia e exibidos em plenário mostram que o réu tinha comportamento possessivo.

No início da tarde, quem falou foi Samir Haddad Jr., um dos advogados de Mizael. Ele pediu que o conselho de sentença não julgasse o réu baseado no noticiário e acrescentou que “há muita mentira nesse processo”.

— Apaguem da memória qualquer notícia tendenciosa. Não julguem por antecipação — disse.

O defensor acusou ainda a polícia paulista de torturar o vigia Evandro Bezerra Silva, acusado de ser coautor do crime, para incriminar Mizael. Haddad Jr. disse que o Ministério Público sequer investigou a denúncia.

— Evandro foi torturado para incriminar Mizael. Tortura como nos porões negros da ditadura — disse.

Depois, foi a vez do outro advogado, Ivon Ribeiro. Ele chamou o delegado Antônio de Olim, responsável pela investigação do crime, de “fanfarrão” e contestou as provas técnicas.

— Nesses três anos de processo, a acusação não trouxe elementos que pudessem incriminar Mizael — salientou Ribeiro, que bateu boca várias vezes com o assistente de acusação Alexandre de Sá Domingues com o promotor Rodrigo Merli Antunes.

O advogado contestou, inclusive, o depoimento dado por um pescador, única testemunha ocular da cena do crime.

O promotor Rodrigo Merli Antunes, responsável pela acusação do policial militar reformado e advogado abriu mão da réplica. Com isso, os jurados – cinco mulheres e dois homens – se reuniram no plenário com o juiz Leandro Cano. O conselho de sentença, antes de dar a decisão, respondeu ainda a perguntas elaboradas pelo juiz.

A mãe de Mércia, Janete Nakashima, e o irmão da vítima, Márcio, acompanham o júri. O corpo de jurados foi formado por 5 mulheres e 2 homens. Outro réu no processo, o vigia Evandro Bezerra Silva, acusado de ajudar Mizael, será julgado no dia 29 de julho.

Na quarta-feira, em seu depoimento, Mizael disse que nunca matou pessoas quando policial militar. Acrescentou, também, que todas “as suas armas” têm porte ao PM e ressaltou que, na corporação, só trabalhou administrativamente, “por medo” das ruas. O réu ainda falou ser incapaz de atirar e disse ter apenas “contato profissional” com o vigia Evandro Bezerra Silva, acusado da coautoria do crime.

Fonte: Globo

Zeudir Queiroz