Antes desconhecido do grande público e agora famoso nas ruas do País, o ministro Joaquim Barbosa foi eleito presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quarta-feira (10). Nove dos dez votos foram para Barbosa, e o outro foi para Ricardo Lewandowski.
A partir do dia 19 de novembro, quando toma posse, o magistrado será o primeiro negro a presidir a mais alta Corte do País. A eleição acontece justamente no momento mais midiático da história do Supremo: o julgamento do mensalão, em que Joaquim exerce a principal função no processo, a de relator.
Cabe ao relator coordenar, convocar testemunhas e estudar com mais profundidade o processo. Como é o que melhor conhece a ação, seu voto costuma ser seguido pela Corte, o que vem acontecendo no caso do mensalão. Com essa responsabilidade, Joaquim vem “condenando implacavelmente”, como diz um dos advogados dos réus do processo.
Com a postura, o ministro ganhou fama nas redes sociais e nas ruas. Foi tratado como celebridade no Rio de Janeiro, quando foi votar no último domingo (7). Barbosa não reclama do assédio nas ruas. Pelo contrário, considera consequência natural do julgamento.
O ministro também acha graça das charges que amigos e funcionários mostram nas redes sociais. Nelas, aparece como super-herói, o herói do Supremo. Seus pares não falam sobre a repercussão positiva de sua imagem, mas colhem os frutos da boa fama que a Corte está conquistando com o julgamento graças ao desempenho de Barbosa.
O especialista em redes sociais da DDBR (Democracia Digital Brasil) Manuel Paiva explica que essas manifestações acontecem não apenas pela atitude implacável do ministro, mas pela sua figura carismática.
— Ele é um cara que as pessoas gostam, tem uma muito forte história por trás… Isso, junto a uma atitude legal, uma foto bem tirada e, pronto, pegou! As pessoas replicam porque todo mundo quer uma imagem de um cara contra os políticos, a massa pensa assim.
Paiva lembra que, por ironia, o ministro está tomando o lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no imaginário popular. Em seu livro O Herói de Mil Faces, o filósofo americano Joseph Campbell considera que, por se considerar incompleto, o homem busca um herói para se igualar. A sociedade, de acordo com o filósofo, também busca seus heróis.
Infância pobre
A história de Barbosa é que o faz ter o perfil positivo no imaginário popular. Filho de um pedreiro e de uma dona de casa, ele cresceu discriminado na pequena cidade mineira de Paracatu. Parte de um time de futebol só de negros, “Os bocapreta”, tem orgulho de lembrar que era no futebol que os meninos do seu bairro, negros e segregados pela pobreza, se destacavam.
Barbosa conciliou o ofício de ajudar o pai com os estudos. Mais adiante, a família se mudou para Brasília, e Barbosa foi cursar direito na Universidade de Brasília. Trabalhou na gráfica do Senado, foi oficial de chancelaria e aprovado no concurso de procurador federal.
A história, que já era considerada vencedora, mudou mais uma vez em 2003, quando foi indicado por Lula para compor a Corte. O próprio ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, hoje condenado por Barbosa, intermediou a sua indicação. É de Dirceu a carta que indica o ministro ao Senado.
O processo de escolha também contou com a participação do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, hoje advogado de um dos réus do mensalão.
Fama de brigão
Apesar de ser mineiro, Barbosa não faz juz à fama de quieto de seus conterrâneos. Só nas duas últimas semanas acumulou discussões com dois ministros, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio. Na troca de acusações, Marco Aurélio manifestou preocupação com o perfil de Barbosa quando assumisse a presidência.
Joaquim não deixou por menos e, na resposta, insinuou que Marco Aurélio está no Supremo por suas relações familiares. Aurélio é primo do ex-presidente Fernando Collor, que o indicou para compor a Corte.
Nos bastidores, o relator do mensalão costuma dizer que não se importa com essas inimizades. A postura não é a mesma diante de notícias que o desagradam. Leitor assíduo dos principais jornais do País, Barbosa fica atento e se irrita com reportagens ou entrevistas distorcidas. Por isso, e para resguardar sua função de ministro, explica que não dá entrevistas.
DO R7
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