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‘Já pensou poder rever meu pai?’, diz filha que acha possível ressuscitá-lo

Luiz Felippe e Ligia em foto tirada num quiosque na
Praia do Arpoador, no Rio (Foto: Arquivo Pessoal)

O sonho de ressuscitar o pai, que morreu no começo deste ano, está causando uma disputa judicial entre três irmãs. Luiz Felippe Dias de Andrade Monteiro, engenheiro da Força Aérea Brasileira (FAB), faleceu em 22 de fevereiro, em plena Quarta-feira de Cinzas após o carnaval. A filha mais nova dele, Ligia Cristina Mello Monteiro, do segundo casamento de Luiz Felippe, começou então uma saga para tentar congelar o corpo do pai através da técnica conhecida como “criogenia”, que utiliza nitrogênio liquido para resfriar e preservar o corpo. Segundo ela, o congelamento era um desejo expresso pelo pai antes de morrer. Como o pai, Ligia acredita que, com o avanço da ciência, será possível trazer o pai de volta à vida em algumas décadas.
“Já pensou ter a oportunidade de, daqui 30 ou 40 anos, poder rever meu pai?”, indaga Ligia. “Não tem provas de que isso possa acontecer, mas é um sonho”, complementa. Entretanto, as outras duas irmãs, Carmen Sílvia Monteiro Trois e Denise Nazaré Bastos Monteiro, do primeiro casamento, não concordaram com o congelamento, que seria realizado por uma empresa da cidade de Detroit, nos Estados Unidos. Elas entraram com um processo contra Ligia, exigindo o sepultamento de Luiz Felippe no jazigo da família, em um cemitério de Canoas, cidade no litoral do Rio Grande do Sul, onde vivem. “As irmãs que moram no Sul falaram que o congelamento do pai era um absurdo”, conta Rodrigo Marinho Crespo, advogado delas.
Crespo explica que, segundo as irmãs mais velhas, “nunca o pai manifestou qualquer vontade” em ser congelado. O advogado ressalta não haver “qualquer prova, em momento algum, que esse senhor queria ser congelado nos EUA”. “As próprias irmãs declararam que, se soubessem desse desejo, fariam o congelamento. Mas elas não tinham qualquer conhecimento disso”, acrescenta.
O advogado, então, pediu e conseguiu uma liminar, na própria Quarta-feira de Cinzas, que impedia que o corpo fosse levado para os EUA. Desde então, já há mais de três meses, Ligia arca com as despesas para manter o corpo do pai preservado. “Por dia, pago R$ 500 para a funerária e compro R$ 360 de gelo seco. Já gastei minhas economias da vida toda”, conta ela. Ao todo, já foram gastos quase R$ 95 mil.
Relacionamento entre irmãs era pequeno
Ligia explica que, após a separação do pai da primeira esposa, houve um distanciamento entre ele e as filhas do primeiro casamento. Por isso, afirma que as irmãs não sabiam do desejo de o pai ser congelado. “Ele se separou da mãe delas há 34 anos, e conheceu minha mãe. Logo depois eu nasci. Minha mãe faleceu de câncer quando eu tinha 7 anos, e continuei morando com meu pai”, recorda a irmã mais nova. “Com 19 anos, fui conhecer a Carmen e, mais tarde, a Denise. Nosso contato era muito pequeno, mínimo, quase zero. A gente nunca se deu bem”, acrescenta.
Entretanto, Ligia afirma que, em 2009, mandou um e-mail para as irmãs do Sul, pedindo a opinião delas sobre a possibilidade de o corpo do pai ser submetido a uma criogenia. “Reenviei esse e-mail a minhas irmãs para comprovar minha boa fé”, conta ela. “Tenho esse email guardado até hoje”, complementa.
O advogado das irmãs mais velhas comenta que elas não entendem a postura de Ligia. “A gente se pergunta: por que essa insistência?”, conta Crespo. “Eu achava que ninguém ia ser contra. Elas foram contra o congelamento por uma revanche contra mim, por briguinha boa”, acredita Ligia. “Na ação, elas ainda estão pedindo danos morais. Ou seja: ainda querem lucrar com essa história”, critica Ligia.
Na última quarta-feira (13), desembargadores decidiram, em segunda instância, permitir que o corpo de Luiz Felippe possa ser embarcado para os EUA. Mas Rodrigo Crespo já avisou que vai recorrer da decisão e criticou a decisão: “Deveria ter sido observado que, por maioria, duas herdeiras preferem o sepultamento do pai.”
Do outro lado, Ligia comemora a decisão, e avisa vai fazer de tudo para que a vontade do pai seja realizada. “Cheguei a abrir mão da minha parte na herança e deixar para minhas irmãs. Isso está nos autos. Estou muito positiva, porque os desembargadores foram muito sensatos. Meu pai vai ser o primeiro homem congelado da América do Sul. Pode ser até que esse caso venha a suscitar outros”, conclui ela.
 
Do G1

Zeudir Queiroz