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Grupo solta 242 balões brancos e faz caminhada por vítimas da Kiss

Mesmo com chuva, uma caminhada pela paz reuniu dezenas de familiares e amigos de vítimas da Kiss no fim da tarde deste domingo (26), em Santa Maria. O ato foi encerrado na Praça Saldanha Marinho, onde o grupo chegou por volta das 19h. Foram soltos 242 balões brancos, um para cada morte na tragédia, que completa um ano nesta segunda-feira (27).

Jessica Rosado fez uma tatuagem em homenagem ao irmão Vinicius, vítima da Boate Kiss (Foto: Luiza Carneiro/G1)Jessica Rosado fez tatuagem em homenagem ao
irmão Vinicius, vítima da Kiss
(Foto: Luiza Carneiro/G1)

A caminhada foi organizada pela associação “Ahh Muleke”, que foi criada por familiares de quatro jovens que morreram no incêndio.

“O que nos une aqui é apenas uma coisa. Nós todos perdemos pessoas que amamos. Ninguém vai negar o pedido de justiça, mas a grande lição que temos de tirar disso tudo é que nós temos de mudar. É a mudança das pessoas. Temos de construir um mundo melhor”, disse Ogier  Rosado, de 52 anos, pai de Vinícius.

Vinícius é considerado um herói em Santa Maria. Testemunhas relataram que ele saiu com vida da boate Kiss na madrugada do incêndio, mas retornou e retirou 14 pessoas de dentro.

“Alguns jovens voltaram para lá sem saber quem estava dentro da boate. Eles salvaram muitas pessoas. Muitas pessoas lutam pelo bem, como eles”, afirma o pai de Vinicius.

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  • Também participam da entidade familiares de Danilo Brauner Jaques, Luana Vianna e Rogério Floriano. As ações sociais realizadas pela “Ahh Muleke” refletem as personalidades das vítimas. Danilo era músico, gaiteiro da banda Gurizada Fandangueira, que tocava no momento do incêndio. Luana amava os animais e Rogério, cabo do Exército, defendia a natureza. Em cada uma destas áreas, foram ou estão sendo planejadas ações sociais.
Grupo chega na praça após caminhada pelas vítimas da Boate Kiss (Foto: Luiza Carneiro/G1)Grupo chega à Praça Saldanha Marinho após
caminhada pelas vítimas da Kiss
(Foto: Luiza Carneiro/G1)

Durante caminhada, os participantes levavam balões brancos nas mãos. Emocionados, muitos não contiveram as lágrimas ao chegar à Praça Saldanha Marinho, que receberá pela segunda noite seguida apresentações culturais para reunir amigos e familiares de vítimas, sobreviventes e moradores de Santa Maria.

Uma mateada também foi organizada para ocupar a praça e acompanhar os shows, todos de música tradicionalista. Entre as atrações do ato cultural marcado para a noite deste de domingo estão Miguel Brasil e Grupo de Alma Gaúcha, Alex Casanova com Matenovo, Leo Paim, Junior Benaduce, Grupo Raízes, Gabriel Pereira, Ronisson Borba, Vandersin Rocha.

Flores foram colocadas em frente a Boate Kiss neste domingo que antecede um ano da tragédia (Foto: Luiza Carneiro/G1)Flores são colocadas em frente à Kiss neste domingo (Foto: Luiza Carneiro/G1)

 

Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos.

O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.

O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, são: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.

Ainda estão em andamento dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.

Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso (com intenção), na modalidade de “dolo eventual”, estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em maio do ano passado. Entre os bombeiros investigados, está Moisés da Silva Fuchs, que exerceu a função de comandante do 4° Comando Regional de Bombeiros (CRB) de Santa Maria.

Atualmente, a Justiça está em fase de recolher depoimentos dos sobreviventes da tragédia. O próximo passo será ouvir testemunhas. Os réus serão os últimos a falar sobre o incêndio ao juiz. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.

Se o magistrado “pronunciar” o réu, ele vai a júri (a pronúncia é a ordem para ir a júri). Outra possibilidade é a chamada desclassificação, quando o juiz não manda o réu para júri, mas reconhece que houve algum tipo de crime. Nesse caso, a causa será julgada sem júri. Também existe a chance de absolvição sumária dos réus. Em todas as hipóteses, cabe recurso.

No âmbito das investigações, três delas estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Além dos documentos sobre as licenças concedidas à boate Kiss, um inquérito apura as atividades da empresa Hidramix, responsável pela instalação de barras antipânico na boate, e outro analisa uma suposta fraude no documento de estudo de impacto na vizinhança do prédio onde ficava a casa noturna. O Ministério Público, por sua vez, investiga as responsabilidades de servidores municipais na tragédia.

Fonte: G1

Zeudir Queiroz