Mãe das vítimas está presa desde 14 de setembro acusada de matá-las.
Irmãs de 13 e 14 anos pararam de respirar após ingestão de remédios.
Laudos necroscópicos da Polícia Técnico-Científica de São Paulo concluíram que as filhas de Mary Vieira Knorr, de 53 anos, presa acusada de matá-las, morreram envenenadas. De acordo com cópias dos documentos obtidos pelo G1, Giovanna e Paola Knorr Victorazzo, respectivamente, de 14 e 13 anos, deixaram de respirar após ingerirem remédios em setembro. O Instituto Médico Legal (IML) encontrou barbitúricos, que são compostos antiepilépticos, sedativos e hipnóticos, nos corpos. A quantidade não foi informada.
Exames químicos toxicológicos do sangue e vísceras das vítimas detectaram a presença de Fenobarbital e Midazolam, substâncias conhecidas com os nomes comerciais de Gardenal e Dormonid, respectivamente. Ainda de acordo com os laudos, em resumo, a causa das mortes das estudantes foi “edema pulmonar” produzido por “ação tóxica de barbitúricos” devido ao uso “quanto à veneno”.
A principal ação do barbitúrico é sobre o sistema nervoso central. Eles podem causar depressão profunda, mesmo em doses que não têm efeito sobre outros órgãos. A depressão pode variar sendo desde um efeito sedativo, anestésico cirúrgico, ou até a morte. Outro efeito dos barbitúricos é o de causar sono. (leia abaixo mais informações).
“O óbito foi casuado por insuficiência respiratória devido ao edema pulmonar que foi desencadeado pela depressão respiratória e congestão pulmonar pela ação de barbitúricos”, escreveu o médico legalista Ruggero Bernardo Felice Guidugli nos laudos de Giovanna e Paola, datados de 15 de outubro e que chegaram nesta sexta-feira (8) à Polícia Civil. À tarde os documentos deverão ser encaminhados para a Justiça.
Consultada pelo G1 para comentar o resultado dos laudos, a advogada criminalista especialista em perícias criminais, Roselle Soglio, afirmou que as adolescentes devem ter sofrido muito até morrerem.
Segundo o site do Instituto de Psicobiologia da Unifesp, “Os barbitúricos (ou derivados do ácido barbitúrico) foram por muito tempo, a droga de escolha para o tratamento da insônia. O declínio de seu uso deu-se por vários motivos como: mortes por ingestão acidental, o uso em homicídios e suicídios, e principalmente pelo aparecimento de novas drogas como os benzodiazepínicos. Hoje em dia, os barbitúricos ainda são utilizados no tratamento de distúrbios convulsivos e na indução da anestesia geral.”
O que são barbitúricos, Fenobarbital e Midazolan* | |
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1 – O que os barbitúricos fazem no organismo?A principal ação do barbitúrico é sobre o sistema nervoso central. Eles podem causar depressão profunda, mesmo em doses que não têm efeito sobre outros órgãos. A depressão pode variar sendo desde um efeito sedativo, anestésico cirúrgico, ou até a morte. Outro efeito dos barbitúricos é o de causar sono. | 2 – Absorção, metabolismo e excreção dos barbitúricosPode ser oral, intramuscular, endovenoso, ou retal. Após a absorção, se ligam a proteínas do sangue e vão agir principalmente no cérebro, devido ao seu alto fluxo sanguíneo. Os efeitos depressores aparecem entre 30 segundos e de 15 minutos, dependendo do tipo de barbitúrico utilizado. Eles são metabolizados no fígado e excretados na urina |
3 – Envenenamento por barbitúricoO envenenamento barbitúrico é um problema clínico significativo, podendo levar à morte em alguns casos. A dose letal do barbitúrico varia de acordo com muitos fatores, mas é provável que o envenenamento grave ocorra com a ingestão de uma só vez de doses dez vezes maiores que a dose hipnótica total.Em casos de envenenamento grave o paciente apresenta-se comatoso, com a respiração lenta ou rápida e curta, a pressão sanguínea baixa, pulso fraco e rápido, pupilas mióticas reativas à luz e volume urinário diminuído.
As complicações que podem ocorrer são: insuficiência renal e complicações pulmonares (atelectasia, edema e broncopneumonia). O tratamento nestes casos é de suporte. |
4 – Tolerância aos barbitúricosO uso crônico de barbitúricos pode levar ao desenvolvimento da tolerância. Isso ocorre tanto pelo aumento do metabolismo da droga, como pela adaptação do sistema nervoso central à droga. O grau de tolerância é limitado, já que há pouca ou nenhuma tolerância aos efeitos letais destes compostos.5 – Fenobarbital é usado no tratamento de prevenção a epilepsia e convulsão. ‘É um medicamento que que age no sistema nervoso central”, e pode levar o paciente a “sonolência”, dificuldades ao falar e de movimentos além de vertigens.
6 – Midazolam é usado com o indutor do sono. Além de sonífero pode causar amnésia. Possui “um efeito sedativo e indutor do sono muito rápido, de pronunciada intensidade. O paciente não se recorda de eventos que ocorreram durante o pico de atividade do medicamento, de curta duração, fato este útil quando o produto é usado antes da anestesia em cirurgias. Sonolência diurna, embotamento emocional, redução da atenção, confusão mental, fadiga, dor de cabeça, tontura, fraqueza muscular, falta de coordenação dos movimentos ou visão dupla.” Uma superdose “pode resultar na falta de reflexos, parada respiratória, queda da pressão arterial, depressão cardiorrespiratória e em raros casos, coma.” * Fontes: sites do Instituto de Psicobiologia da Unifesp e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) |
O resultado dos laudos afasta a hipótese que chegou a ser investigada pela Polícia Civil de que as adolescentes tivessem morrido em decorrência da inalação de gás de cozinha.
Para a investigação, Mary matou as filhas no dia 12 de setembro e o cachorro no dia 13 na casa onde moravam no Butantã, Zona Oeste da capital. De acordo com a investigação, ela teve um “surto” desencadeado por problemas financeiros e divergências com as filhas que a levaram a cometer os crimes.
O animal foi encontrado morto com as vítimas em 14 de setembro, quando a mulher foi presa em flagrante por policiais militares. Ela teria confessado os crimes e dito que queria se suicidar inalando gás tóxico.
Procurado nesta sexta pela equipe de reportagem para comentar o resultado dos laudos, o delegado Gilmar Pasquini Contrera, titular do 14º Distrito Policial, afirmou que a conclusão dos exames indica que Mary Knorr poderá responder por mais uma qualificadora na Justiça: a de ‘envenenamento’.
as filhas (Foto: Reprodução/G1)
“A mãe envenenou e matou as garotas”, disse o delegado. “O veneno infiltrou nos pulmões das vítimas, paralisando-os e causando a asfixia decorrente do envenenamento”.
No dia 3 outubro, a juíza Lizandra Maria Lapenna havia aceitado a denúncia de homicídio doloso feita pelo Ministério Público contra Mary, que se tornou ré no processo. O promotor Rogério Leão Zagallo acusou a mulher de usar meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas para cometer os assassinatos.
“Agora, se a Promotoria entender que Mary também deverá responder por envenenamento, sua pena, no caso de uma eventual condenação, poderá oscilar entre 12 a 30 anos para cada uma das mortes das filhas”, disse Gilmar Contrera.
Indagado se a morte do cachorro da família poderia ser levada em consideração, o delegado respondeu que isso caberá ao promotor do caso. “Se ele entender que o cão sofreu maus tratos, Mary poderá ser responsabilizada por isso também”, disse. Até esta sexta não havia informações se foram feitas análises no animal para saber qual foi a causa da morte dele.
Mary Knorr
Desde que foi presa, Mary já passou pelo Hospital Universitário da USP e Hospital Psiquiátrico Pinel, ambos na capital, onde estava internada por ter sido encontrada “alterada” por policiais militares. No dia 8 de outubro, no entanto, ela foi transferida para a Penitenciária Feminina 1 de Tremembé, no interior de São Paulo, onde deverá ficar presa até seu eventual julgamento.
Em Tremembé, a mulher deverá fazer companhia a outras presas conhecidas, como Suzane Richthofen (condenada pelas mortes dos pais em 2002), Anna Carolina Jatobá (cumpre pena pelo assassinato da enteada Isabella Nardoni em 2008) e Elize Araújo Kitano Matsunaga (detida preventivamente até ser julgada por esquartejar o marido, diretor executivo da Yoki, em 2012).
A Polícia Civil chegou a pedir a Justiça a realização de um exame de insanidade mental para saber se a mulher é inimputável (não pode responder por seus atos), é semi-imputável (responde parcialmente por suas atitudes) ou é imputável (pode ser responsabilizada criminalmente pelo que fez). Desde que foi presa ela ainda não foi ouvida porque, segundo a investigação, ela se recusou a ser interrogada.
O G1 não localizou o advogado de defesa da acusada, Lindenberg Pessoa de Assis, para comentar o assunto.
Crime
Policiais militares foram até a casa da acusada no dia 14 de setembro atender uma ocorrência de vazamento de gás de cozinha. Ao chegarem ao local, encontraram Mary dizendo que matou as filhas e falando em se matar. Em seguida, acharam os corpos das adolescentes e do cachorro da família. Por conta disso, ela foi presa e levada para um hospital sob escolta policial.
De acordo com a investigação, Mary se identificava como corretora de imóveis, mas não possui registro no Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci). Além disso, a mulher é investigada pela Polícia Civil por suspeita de estelionato e apropriação indébita porque estaria se passando por corretora e usando o nome de uma imobiliária de “fachada” para enganar pessoas que queriam comprar imóveis. Há a suspeita que ela tenha conseguido R$ 214 mil em golpes.
Segundo o delegado, a mãe respondeu também por maus-tratos. O policial, porém, não soube informar se a acusação era de que teria maltratado as filhas. Segundo a investigação, a mãe era rigorosa com as filhas, chegando a pregar um papel na geladeira com tarefas das meninas e punições caso não as cumprisse. As filhas relatavam nas redes sociais divergências com a mãe.
Fonte: G1
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