Anterior à colonização europeia, o hábito de dormir de rede não representa riscos à coluna, apesar do receio difundido popularmente
Comum nas casas do Nordeste e do Norte, as redes de dormir fazem parte do cenário brasileiro antes mesmo de qualquer lembrança. A prática de descansar suspenso por cordas foi descrita por aqui pela primeira vez na carta de Pero Vaz de Caminha, logo na chegada dos portugueses, em 1500. “(…) Tinham dentro muitos esteios; e, de esteio a esteio, uma rêde atada pelos cabos, alta, em que dormiam”, descreveu o cronista sobre os hábitos indígenas.
Padre José de Anchieta, um dos responsáveis pela catequese dos índios e pela fundação da cidade de São Paulo, assinalou o costume com alguma curiosidade. Disse em texto datado de 1554: “Em lugar de cama, usa a máxima parte dos irmãos de uns panos tecidos à maneira de rêde, suspensos por duas cordas e traves”. Era a nossa rede tradicional, que em 1662 também esteve presente nos escritos do Padre Antônio Vieira, falando do hábito de usar “rede em lugar de camas”.
O resgate histórico sobre esse hábito está descrito no clássico Rede de dormir: um estudo etnográfico, obra do antropólogo Câmara Cascudo, de 1957. No livro, o autor defende a rede como um produto de exportação ao lado de outras possibilidades, tamanha a sua abrangência e funcionalidade.
Mas, de tão popular, a rede permite que alguns mitos sejam criados entre suas varandas. Um deles é de que o costume pode ampliar problemas na coluna e fazer mal à saúde. Isso é mesmo verdade?
A resposta geral dos ortopedistas ouvidos pelo O POVO isso não se aplica. Contrariando algumas falas do entendimento popular, o hábito de dormir de rede não constitui riscos à coluna ou à outras partes do corpo. “Existe o mito de que ela pode causar esses problemas, mas não há comprovação”, atestou o médico ortopedista Fernando Façanha Filho.
Na queda de braço com a cama, a rede de dormir é uma boa competidora. Pode até vencer a batalha, por conta da sua constituição que se adequa ao corpo de quem nela se deita.
Mas, segundo o doutor Fernando Façanha, quem já tem problemas de coluna tem de ficar atento só a maneira correta de usar. A dica é deixar a rede um pouquinho mais reta para não encurvar tanto a coluna. Nesta edição do Ciência & Saúde, vamos discutir os ganhos e os mitos que a decisão de curtir um bom sono na rede inspiram.
RÔMULO COSTA
Fonte: O Povo
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