Documentos da Agência Central de Inteligência Americana (CIA) dão conta do movimento político do Ceará por décadas e detalham aspectos estruturais e geográficos do Estado
O Ceará está entre os mais de 11 mil arquivos da Agência Central de Inteligência Americana (CIA) liberados na internet na última semana. Traduzindo alguns desses documentos, O POVO encontrou detalhes sobre geografia, política, infraestrutura, religião e condições sociais do Estado entre os anos de 1940 e 1990.
O material encontrado indica que a maioria dos dados que abastecia os Estados Unidos tratava da movimentação de células comunistas cearenses. Eram destacados também investimentos feitos em “setores de interesse” de transporte e comunicação, como a construção de um aeroporto em Sobral, em 1953.
Telegramas, análises e matérias exibiam o cenário brasileiro para os norte-americanos. Em uma das informações, assinalada como confidencial, observações feitas quando da chegada de um navio americano ao Porto do Mucuripe em 1954. A descrição de uma imagem feita no que a CIA chamou de “Serra de Orós”, mostrando a proximidade com o Rio Jaguaribe e com a “Vila do Cedro”.
Porém, são as observações sobre a política e os diversos rumos e relações que ela tomava que preenchem boa parte dos documentos aos quais O POVO teve acesso. Ditadura militar, movimentos estudantis, comunismo. Um dos nomes citados em um dos relatórios da CIA é o do atual dirigente nacional do PCdoB, Carlos Augusto Diógenes Pinheiro, o Patinhas. Ele e outros sete alunos da Universidade Federal do Ceará (UFC) são mencionados em um relatório secreto de 1973.
Um desentendimento entre governantes de Fortaleza e a arquidiocese de Crateús, que apoiava o movimento estudantil, também fez parte do monitoramento que a agência fazia no Ceará.
“Nós sempre soubemos que a CIA teve uma participação no golpe de 1964. Depois de 1964, as informações eram coletadas através do USIS, que foi depredado durante protesto de estudantes”, conta Carlos Augusto. United States Information Service (USIS – Serviço de Informação dos Estados Unidos, em tradução livre) era um departamento americano que atuava como fomentador cultural entre Brasil e Estados Unidos. “Quando você pega um documento desse, que eles tornam público depois de quase 50 anos, é que você percebe que realmente é feito esse trabalho de espionagem”, afirma o ex-estudante mencionado pela CIA.
Os documentos somam mais de 13 milhões de páginas. Desde o ano 2000, o material estava disponível para consulta manual.
Fonte: http://www.opovo.com.br/
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