Eleições 2024

Começa a era de equilíbrio entre os Três Poderes

Ray Cunha*

O primeiro ato de Arthur Lira (PP/AL), eleito ontem em primeiro turno presidente da Câmara com 302 votos, foi anular decisão de Rodrigo Maia (DEM/RJ), o ex, que tratou, nos estertores do poder que ele gozou durante quatro anos, de alojar na futura mesa diretora o bloco de seu candidato, Baleia Rossi (MDB/SP).

Rossi já tinha missão determinada em caso de vitória: dar um chute na bunda do presidente Jair Bolsonaro, aceitando um dos pedidos de impeachment fajutos que pipocam na Câmara. Só não se sabe o resultado de um pedido de impeachment aceito, já que Bolsonaro sobreviveu até a uma peixeirada capaz de fazer picadinho dos seus intestinos.

Lira anulou a votação para os demais cargos da mesa diretora porque o registro foi feito fora do prazo, mas mesmo assim aceito por Maia, que já antecipava uma derrota do seu candidato, uma vez que até o partido de Maia, o DEM, estava apoiando Lira. Sobre Maia, Lira disse que “a história irá julgar” o legado do jacaré.

Maia chorou na despedida, lágrimas de crocodilo. O ex passou quatro anos sabotando Jair Bolsonaro e gozando as mordomias da presidência da Câmara, que são principescas. Sai isolado, até pelo seu próprio partido, o DEM. ACM Neto, presidente nacional do DEM e que enxerga à distância, já viu que não pode contar com o rechonchudo deputado chileno-carioca.

Lira afirmou que procurará com urgência o também recém-eleito presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM/MG), para articular uma pauta emergencial, já que tanto na Câmara quanto no Senado, com o ex Davi Alcolumbre (DEM/AP), as votações eram travadas, inclusive pedidos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesses dois anos, Alcolumbre deu pistas de que o Supremo lhe infundia pânico.

Alcolumbre, com seu jeito de garotão, demonstrava alívio em deixar a presidência da casa e nas mãos do seu candidato, Rodrigo Pacheco, para cuidar, agora, do seu curral no Amapá, onde sua família é uma das mais poderosas.

Livre da ingerência do Supremo, que tinha apoio de Alcolumbre, e da ameaça de que um dos pedidos fajutos de impeachment na Câmara fosse aceito por Maia e vingasse, o presidente Jair Bolsonaro, que, sem roubar e sem deixar roubar vem pondo o Brasil na cabeceira da pista, pronto para levantar voo, poderá, finalmente, governar, juntamente com o Congresso Nacional, sem ansiedade extra.

Mas como gato escaldado tem medo de água fria, seu setor de segurança pessoal e inteligência estão atentos para se anteciparem às tentativas de eliminarem-no, que continuarão. Esclareça-se: as tentativas de eliminarem-no são políticas, e partem da sua oposição mais raivosa, pois entre hienas e urubus só o que importa é carne, e com a presa viva, melhor ainda.

Assim, este será um ano de intensos trabalhos no Congresso, especialmente quanto às reformas tributária e administrativa.

Legalização dos jogos no Brasil

Outra questão que poderá ser resolvida é a legalização dos jogos no Brasil. Rodrigo Maia engavetou essa pauta durante toda a sua gestão. A diretoria do Instituto Brasileiro Jogo Legal (IJL) esteve com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco e constatou que ambos querem a legalização do jogo. Arthur Lira é filho do ex-senador Benedito de Lira, que foi relator favorável do PLS 186/14, que trata da legalização do jogo, na Comissão de Constituição Justiça e Cidadania do Senado.

Com 74 anos na clandestinidade, o Brasil é um dos países onde mais se joga no mundo, movimentando cerca de 5 bilhões de dólares por ano, sem fiscalização e sem pagar nenhum centavo de imposto, nem gerar emprego formal, enquanto o Estado chupa o dedo, em nome do moralismo. Só o jogo do bicho movimenta 10 bilhões de reais por ano.

Estudo do IJL/BNLData indica que o mercado de jogos no Brasil tem potencial de faturar 15 bilhões de dólares por ano, deixando para o erário 4,2 bilhões de dólares, além de 1,7 bilhão de dólares em outorgas, licenças e autorizações, isso, sem somar investimentos e geração de empregos na implementação das casas de apostas. E geraria mais de 658 mil empregos diretos e 619 mil empregos indiretos.

O jogo de azar é praticado em muitos países, como, por exemplo, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica, Espanha, Itália, Suíça, Grécia, Portugal, Áustria, Holanda, Mônaco, Uruguai etc. A Região Administrativa Especial de Macau, na China, é hoje o principal centro de jogos do mundo, desbancando Las Vegas, nos Estados Unidos, como capital mundial dos cassinos e faturando, com apenas 35 cassinos, 38 bilhões de dólares por ano.

Os mais de 100 cassinos de Las Vegas faturam 8 bilhões de dólares por ano e só uma de suas maiores redes conta com 50 mil empregados.

Quando o jogo foi proibido no Brasil, em 1946, havia 70 cassinos espalhados pelo país empregando mais de 40 mil trabalhadores, incluindo artistas como Carmen Miranda e Orlando Silva.

Em 1946, dona Santinha, Carmela Leite Dutra, esposa do presidente Eurico Gaspar Dutra, era beata e exercia forte influência sobre o marido. Para ela, jogo era coisa do capeta. Dutra cedeu e de um momento para o outro arrasou uma das indústrias que mais faziam o país prosperar, jogando no desemprego dezenas de milhares de pais de família.

Para o presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal, professor do curso de pós-graduação em Comunicação Empresarial da Universidade Candido Mendes (Ucam/RJ), editor do BNLData e jornalista especializado em loterias e apostas Magno José Santos de Sousa o Brasil se submete a uma das legislações mais atrasadas do mundo para o setor. “Mas a clandestinidade não anula a prática” – adverte.

É claro que muita gente vê o diabo em toda parte, quando, na verdade, ele está dentro de cada um de nós e só sai quando é convocado.

(*) Ray Cunha é jornalista e escritor em Brasília e veiculou o artigo acima no seu Blog e no Diário Carioca.

Fonte: https://bnldata.com.br/

 

Zeudir Queiroz