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Brasileiros deportados dos EUA chegam a Fortaleza em voo experimental para reduzir desgaste da viagem

Foto: Nathan Gomes/GCC

O voo com 111 brasileiros deportados pelo governo dos Estados Unidos pousou no Aeroporto Internacional de Fortaleza, às 16h desta sexta-feira (7), marcando a primeira vez que a capital cearense recebe uma operação desse tipo. A medida foi adotada como uma alternativa para encurtar a viagem dos repatriados e minimizar os impactos do trajeto.

A aeronave Airbus A320 da GlobalX, de prefixo N276GX, partiu da cidade de Alexandria, Louisiana, na madrugada de sexta-feira (7), fez uma parada técnica em Aguadilla, Porto Rico, e seguiu para o Brasil. Após os trâmites de imigração e acolhimento em Fortaleza, uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) levará os deportados ao Aeroporto Internacional de Confins, em Minas Gerais, destino tradicional desses voos desde 2018.

Essa mudança na rota foi uma resposta direta às críticas feitas pelo governo brasileiro após o primeiro voo de deportação deste ano, ocorrido em 24 de janeiro, que gerou uma crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Na ocasião, os deportados relataram maus-tratos, falhas no ar-condicionado da aeronave e o uso contínuo de algemas e correntes durante todo o trajeto. O Brasil considerou essa prática desrespeitosa e violadora dos direitos humanos, levando a uma série de reuniões diplomáticas entre autoridades brasileiras e americanas.

Novo modelo de repatriação e crise diplomática

O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), solicitou mudanças no protocolo de deportação, exigindo que os brasileiros fossem tratados com dignidade e que o uso de algemas fosse proibido dentro do território nacional. Além disso, diplomatas brasileiros pressionaram para que os voos fossem diretos e tivessem estrutura adequada para minimizar o sofrimento dos passageiros.

A alteração da rota para Fortaleza foi considerada uma alternativa estratégica devido à proximidade geográfica entre o Ceará e os EUA. O governo brasileiro e autoridades americanas monitoram essa nova logística e avaliam se a capital cearense continuará a receber esses voos no futuro.

No entanto, a gestão de Donald Trump tem intensificado as deportações de imigrantes indocumentados, incluindo brasileiros. Estima-se que cerca de 38 mil brasileiros estejam atualmente sob ordem final de expulsão dos EUA, sem mais direito a recurso. O endurecimento da política migratória tem sido um dos focos da atual administração norte-americana, especialmente no contexto das eleições presidenciais que ocorrem ainda este ano nos Estados Unidos.

Recepção e apoio aos deportados

Para garantir um acolhimento mais humanizado, o governo brasileiro montou uma estrutura especial para recepcionar os deportados tanto em Fortaleza quanto em Confins. Entre as medidas adotadas estão:

Assistência social e psicológica para os repatriados, que chegam muitas vezes em situação de vulnerabilidade;
Acesso a internet e carregadores de celular, permitindo contato imediato com familiares;
Orientação sobre reinserção no mercado de trabalho e documentos necessários para retomada da vida no Brasil;
Atendimento médico para casos que necessitem de acompanhamento, devido às condições da viagem.

O Ministério das Relações Exteriores e a Polícia Federal também estão acompanhando a situação, com foco na checagem da lista de passageiros e na segurança do desembarque. O Brasil passou a aceitar deportados em 2018 e 2021 sob acordos diplomáticos para evitar que cidadãos brasileiros permanecessem indefinidamente detidos nos EUA sem perspectiva de regularização.

Futuro da operação e expectativas

A operação realizada nesta sexta-feira (7) será analisada nos próximos meses, e o governo brasileiro decidirá se Fortaleza continuará sendo um destino alternativo para voos de deportação ou se os desembarques voltarão a ocorrer exclusivamente em Confins (MG).

O novo modelo pode reduzir os custos logísticos e melhorar as condições do retorno dos deportados, mas as relações entre Brasil e EUA seguem tensas devido à forma como os brasileiros estão sendo tratados nas deportações. O governo brasileiro segue cobrando respeito aos direitos humanos e transparência no processo de repatriação.

Zeudir Queiroz