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Bioma: Luta é pela preservação e sustentabilidade da caatinga

objetivo do evento é formalizar a Declaração da Caatinga, documento que será encaminhado para debate no Rio +20
A caatinga, bioma exclusivamente brasileiro e um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo (tem 45% de toda a sua área territorial degradada), é tema da I Conferência Regional de Desenvolvimento Sustentável, na perspectiva da Rio + 20, que acontece na sede do Banco do Nordeste (BNB), no Passaré. O presidente da instituição, Jurandir Santiago, ao abrir o evento na manhã de ontem, destacou que é “necessário que todos os autores institucionais se unam para reverter esse quadro desfavorável”.

A conferência prossegue durante todo o dia de hoje e será concluída com a celebração da Declaração da Caatinga, documento que, segundo seus idealizadores, “formalizará os compromissos a serem assumidos pelos governos, parlamentares, setor privado, terceiro setor, movimentos sociais, comunidade acadêmica e entidades de pesquisa para a promoção do desenvolvimento sustentável do bioma”.

Busca imediata

“Precisamos buscar a sustentabilidade já. Se não houver uma regulamentação muito forte do estado, o que prevalece é o interesse econômico. O governo deveria parar, pensar e adotar as medidas necessárias”, defende Antônio Rocha Magalhães, doutor em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e assessor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

Segundo ele, “o encontro para debater a caatinga é de extrema importância pois é um dos poucos que trata especificamente desse bioma que se confunde com a própria região do semiárido”. Para Magalhães, a questão fundamental é abordar a relação das pessoas com o ecossistema. .

O especialista participou do segundo painel do dia, intitulado “Academia e Entidades de Pesquisa”, ao lado de Natoniel Franklin, chefe da Embrapa Semiárido; Ignácio Hernan Salcedo, diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa); entre outras autoridades no assunto.

A pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco e presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga (CNRBC), Alexandrina Sobreira de Moura, se diz cética quanto à inclusão do bioma caatinga como centro de discussão da Rio +20, um dos propósitos da I Conferência Regional.

Ceticismo

“A agenda da Rio+20 é muito restrita e vai tratar de eventos de repercussão mundial como a economia verde. Mas acredito que esse encontro trará resultados positivos e será repercutido nos eventos paralelos da Cúpula Mundial”. O presidente do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente do Ceará (Conpam), Paulo Henrique Lustosa, que representou o governador Cid Gomes enfatizou: “chegamos para essa conferência no meio de uma seca dura, que está afetando o produtor rural e o sertanejo de uma forma geral. Não temos como fugir dessa discussão”.

Desafio

Lembra Lustosa que, graças à política de convivência com o semiárido e os avanços obtidos nos últimos dez anos, “avançamos para uma condição de sobrevivência a esse flagelo da seca. Não vimos as pessoas famélicas invadindo o comércio no interior. A Declaração da Caatinga precisa dizer que temos uma lógica diferenciada por causa da biodiversidade do nosso bioma. É uma realidade particular e própria. É esse nosso desafio que devemos levar à Rio +20”.

A representante da Articulação do Semiárido (ASA), Francisca Cristina do Nascimento, destacou a figura do sertanejo. “É importante se manter essa identidade do homem do campo. A caatinga não é somente bichos e plantas. Temos os homens e as mulheres que vivem nesse espaço. Por isso, as políticas públicas e ações têm que ser voltadas para a convivência com o semiárido. Assim, é fundamental o diálogo com o sujeito dessa história”.

Fundo
O deputado estadual Dedé Teixeira, que representou a Assembleia Legislativa, defendeu com veemência a criação do fundo caatinga. “Ele será o grande instrumento de preservação do nosso bioma. Por isso, é necessário se construir a vontade política para que ele possa ser criado”.

O diretor do Departamento de Desertificação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Francisco Campelo, garantiu que “o governo federal é parceiro dessa iniciativa de desconstruir a imagem de miséria e tristeza que se têm do bioma caatinga. O MMA está se estruturando para promover essa convivência com desenvolvimento social”. O presidente do Conselho Consultivo do Instituto Nordeste XXI, Francisco Bezerra, também participou da solenidade de abertura do evento.

Paralelamente à Conferência Regional, acontece a mostra de produtos e práticas sustentáveis da caatinga, onde estão sendo expostos os resultados de iniciativas de êxito desenvolvidas nos nove estados participantes.

Para reverter
“É necessário que todos os autores institucionais se unam para que seja revertido esse quadro desfavorável”
Jurandir Santiago
Presidente do Banco do Nordeste

Dilema entre perenidade e produção
Encontrar um denominador comum entre preservação ambiental da caatinga – 92% do Ceará estão dentro desse bioma, cujo índice de degradação é de 40% – e geração de renda.

Assunto delicado, assim como é a estrutura desse bioma, que abriga cerca de três milhões de habitantes no Estado, mas que ganha força com a entrada em cena das discussões em torno da economia verde.

Prova de que o discurso ainda não está afinado sobre o tema, foi sentida, ontem, durante o painel “Terceiro setor e movimentos sociais”, dentro da programação da I Conferência Regional de Desenvolvimento Sustentável do Bioma Caatinga – A Caatinga na Rio+20. “É preciso produzir alimentos”, desafia Carlos Humberto Campos, coordenador executivo da Articulação no Semiárido (Asa) do Piauí, chamando a atenção para a “concentração da terra na caatinga ou semiárido. Para o representante da Asa, “preservar a caatinga e torná-la sustentável é garantir terra para quem precisa”.

Destaca a importância do programa 1 milhão de cisternas e o programa Uma Terra e duas Águas (P1+2), condições de garantir a permanência na caatinga. Critica os grandes projetos que estão sendo implantados na região, baseados na monocultura e que não respeitam as pessoas, imagine a sua cultura.

Carlos Rodrigo Castro, secretário Executivo da Associação Caatinga, considera importante ampliar as áreas protegidas do bioma. Apenas 1% do bioma conta com proteção integral, defendendo a implantação dos planos de manejo, justificando ser um dos problemas a utilização de lenha sem certificado. Atenta para as consequências do aquecimento global na região. Um dos principais vilões da caatinga, as cerâmicas, estão fazendo o “mea culpa”. Fernando Ibiapina, presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica e Pré-moldados do Ceará (Sindcerâmica) afirma: “Vem sendo estimulado o uso de energias renováveis. Porém, a lenha é utilizada pelo setor que conta com 400 cerâmicas, ( 97% são pequenas empresas) em 101 municípios”.

FERNANDO MAIA/IRACEMA SALESREPÓRTERES

Do Diário do Nordeste 

Zeudir Queiroz

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