Após sequência de ataques tucanos, Dilma lidera corrida presidencial

dilma-amaralO vento parece que mudou na campanha da presidenta Dilma Rousseff. Abrigada nos mais de 43 milhões de votos recebidos no primeiro turno, a candidata petista resistiu a uma semana de intempéries e, apesar do cobertor mais curto do que aquele que lhe serviu na vitória de 2010, saiu empatada na pesquisa Vox Populi, divulgada na véspera pela TV Record. Das urnas até agora,Dilma Rousseff subiu de 41,6% para 45% dos votos totais contra 44% das intenções de voto no adversário tucano, Aécio Neves. Os votos nulos e brancos seriam 5% e os indecisos estavam em 5%. No quadro de votos válidos, Dilma teria 51% e Aécio, 49%, se a eleição fosse hoje.

A resiliência da candidata petista, no entanto, pode ser medida além dos números, nas estatísticas, em um movimento que se contrapõe ao avanço dos tucanos ao longo da última semana, quando atiraram contra a campanha petista com fogo de barragem. Valeu desde depoimento, em viva-voz, de corruptos presos no escândalo da Petrobras, até visita à viúva do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, apoio irrestrito da ex-adversária Marina Silva e uma conjunção de manchetes, nos principais jornais, revistas e emissoras de rádio e TV ligadas ao campo conservador. No caso da mídia, Dilma e o governador gaúcho, Tarso Genro, chegaram a denunciar a existência de um “golpe” em marcha, contra a democracia no país. O troco Ainda atordoada com os ataques adversários, Dilma manteve a linha de pensamento, no qual deixa clara a principal divergência entre um modelo inclusivo, social e economicamente, e a fórmula elitista que cerca o pensamento das camadas mais retrógradas da sociedade brasileira, representadas pela candidatura tucana. Valeu o esforço. O troco chegou de onde nenhum dos lados esperava. Ainda na quinta-feira, com os canos fumegantes dos recentes ataques à campanha petista, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o seu sucessor, se Dilma perder as eleições, o banqueiro Armínio Fraga, neto – ex-presidente do Banco Central (BC) na gestão de Fernando Henrique Cardoso – participaram de uma espécie de debate em um canal de TV paga. Na sexta-feira, dia seguinte, porém, do vetusto diário britânicoFinancial Times, a jornalista Samantha Pearson destaca que, no confronto o economista Armínio Fraga decepcionou. A jornalista reparou que Mantega “certamente tem algumas explicações a dar”, uma vez que a economia deve crescer “míseros 0,2% este ano” e que a inflação acumulada nos últimos 12 meses ficou em 6,75% – acima do limite superior da faixa de tolerância do país e muito além da meta oficial, de 4,5%. Segundo o texto, até o momento, Mantega e o PT culparam a crise financeira mundial e que, “em suma, Mantega deveria ter sido um alvo fácil”. Segundo o conservador FT, “Fraga teve certamente os argumentos certos, contudo, Mantega falou como um político confiante, baseando-se (embora um pouco falho) em narrativas populistas e coerentes”, enquanto “em grande parte, Fraga respondeu com o pragmatismo frio e detalhes técnicos de um banqueiro”. No artigo, Pearson destaca o comentário do jornalista brasileiro Sérgio Augusto, no Twitter, sobre o confronto: “Eu tinha esquecido o quão ruim Armínio Fraga está em entrevistas e debates. Ele vem como tudo o que ele não é: inseguro e falso”. Castelo de cartas Se a esquadra econômica de Neves sofreu o revés da opinião britânica, no Nordeste brasileiro, onde mais precisava do apoio popular, o candidato da direita percebeu que o “S” do Partido Socialista Brasileiro não estava ali por acaso. Mesmo cercado pela viúva e os herdeiros do político morto no acidente suspeito com um jatinho, no litoral paulista, e após receber a declaração de voto da candidata que o substituiu, Marina Silva, o proponente tucano começa a perceber que entrou em um castelo de cartas. Definido o apoio oficial do PSB e da facção Rede Sustentabilidade à candidatura conservadora, os responsáveis pelo “S” socialista do partido reagiram e, ato seguinte, declararam apoio à Dilma Rousseff. Com isso, cai o Rei de Espadas, nas declarações do presidente da legenda, Roberto Amaral, contrárias à aliança com Neves, e instaura a crise na agremiação partidária. Segue o mesmo caminho a coordenadora da campanha de Silva, deputada Luiza Erundina e o partido, literalmente, esfarela, com a rebelião que toma conta dos diretórios do PSB em todo o país, liderada pela Bahia, Acre, Paraíba e Amapá, que anunciaram apoio à reeleição de Dilma. Os governadores socialistas Camilo Capiberibe (AP) e Ricardo Coutinho (PB), com apoio de outros líderes nos Estados, manifestaram-se contrários a posição nacional do partido. Na terra natal de Marina Silva, o partido integra a coligação do governador Tião Viana (PT), que disputa o segundo turno contra Márcio Bittar (PSDB) e anunciou que fará campanha para Dilma. Nem mesmo entre os familiares de Eduardo Campos existe consenso. A mulher de Eduardo Campos, Renata, e os filhos do ex-governador, declararam apoio a Aécio. Mas a prima de Eduardo, Marília Arraes, integrante da juventude do PSB, optou por votar em Dilma. Sem a Rede Na Rede Sustentabilidade, facção que Marina Silva pensava liderar, ocorre movimento semelhante. Em São Paulo, sete dos 12 integrantes da executiva estadual deixaram a direção por considerar que o voto de Marina em Aécio trai “a nova política” defendida durante a campanha. Valfredo Pires, Marcelo Pilon (coordenadores executivos), Emilio Franco Jr., Renato Ribeiro (coordenadores de comunicação), Gérson Moura, Marcelo Saes (coordenadores de finanças) e Washington Carvalho (coordenador de organização) anunciaram a saída da organização. “Lamentamos essa atitude e relembramos que parte dos membros que pediram afastamento também integra o Elo Nacional [direção nacional] e, desta forma, participou da decisão que hoje rejeita, manifestando-se na ocasião favoravelmente a sua aprovação”, diz a nota assinada por dois porta-vozes do grupo dissidente. Não fosse o bastante, as redes sociais iniciaram, desde a manhã desta terça-feira, um movimento chamado ‘feicebucasso‘, no qual não sobra pedra sobre pedra no ninho tucano. E, para concluir, o músico e ícone da esquerda brasileira Chico Buarque de Hollanda acaba de pedir votos para Dilma, no segundo turno. Fonte: Correio do Brasil
Zeudir Queiroz

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