A partir de amanhã, a fé dos brasileiros, unida a dos visitantes, será um convite aos jovens de todo o mundo. A Jornada Juventude representa um olhar do Catolicismo sobre o futuro da Igreja
Primeira viagem internacional desde que foi eleito, a vinda de papa Francisco ao Brasil, para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, traduz um olhar zeloso da Igreja sobre as futuras gerações. A partir de amanhã até o dia 28, o papa falará mais perto aos jovens da América Latina, onde estão mais de 40% dos fiéis do Catolicismo. A fé dos brasileiros, somada à dos peregrinos que vêm de outros países, será afirmada como convite. Nas mãos destes peregrinos, está o futuro da Igreja.
Na opinião do assessor da Conferência Nacional dos Bispos (CNBB), padre Brendam Colleman, o futuro da Igreja, “obviamente”, está na juventude e, por isso, depende da maneira como a Igreja vai preparar e formar esses jovens. “O Catolicismo perdeu muitos membros para outras Igrejas, especialmente para evangélicas. Além da JMJ, há muitos movimentos que estamos fazendo para os jovens, estamos assumindo a responsabilidade com a formação deles”.
A expectativa é que Francisco fale aos jovens sobre os dilemas enfrentados por eles. Padre Brendam explica que, hoje, a juventude católica enfrenta dificuldades como drogas, violência, sincretismo religioso, consumismo, individualismo e hedonismo. “Podemos dizer que, devido à influência da mídia, especificamente, hoje jovens católicos têm dificuldades em certas áreas da moralidade católica”, disse, referindo-se ao casamento homossexual, de pessoas divorciadas, aborto, entre outros temas.
Jesuíta, latino, com discurso pautado pelo social, num país marcado por suas desigualdades, Francisco nutre a expectativa de fiéis de que discurse sobre mudanças na Igreja. Contudo, o padre pondera quanto à expectativa de mudanças em questões morais. “Há pessoas dizendo que o papa vai mudar muita coisa dentro da Igreja nestas áreas: Mas eu acredito que ele não pode, porque o que a Igreja ensina na área moral não vem do papa, vem de Jesus cristo. O casamento para católicos, por exemplo, vai até a morte de um ou outro. Tenho muita simpatia pelos jovens, mas não podemos mudar coisas que Cristo instituiu na mensagem dele”.
Segundo o professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Rio, Fernando Padovani, uma das perspectivas da JMJ é recompor as bases do Catolicismo na Europa, diante do esvaziamento das igrejas, como se viu na última edição, em Madrid. Como a América Latina conta com o maior número de fiéis, explica Padovani, o evento será uma vitrine para o mundo.
Para o especialista, a JMJ é uma tentativa de recuperar os fiéis e reconstruir a imagem da Igreja, colocando-a mais próxima do discurso dos jovens. Segundo ele, papa Francisco chega ao Rio para conquistar os corações dos jovens latinoamericanos, que gostam e se entusiasmam com esse comprometimento social, que vem demonstrando. “Percebe-se uma recuperação discreta, mesmo que pequena, dentro da Igreja, do discurso social que foi um pouco marginalizado num outro momento”. Conforme ele explica, o fato de o Brasil estar passando por manifestações pode até ajudar o papa e a Igreja. “Se ele adotar postura de abraçar as manifestações, pode até capitalizar com elas”.
Números
350
mil jovens
jovens se inscreveram na JMJ até a última quinta-feira
5.500
inscritos são do Ceará, segundo a organização
Histórico
A primeira JMJ foi diocesana, em Roma, no ano de 1986.
Seguiram-se os encontros mundiais em:
Buenos Aires (Argentina – 1987) – 1 milhão de jovens
Santiago de Compostela (Espanha – 1989) – 600 mil
Czestochowa (Polônia – 1991) – 1,5 milhão
Denver (Estados Unidos – 1993) – 500 mil
Manila (Filipinas – 1995) – 4 milhões;
Paris (França -1997) – 1 milhão
Roma (Itália – 2000) – 2 milhões
Toronto (Canadá – 2002) – 800 mil
Colônia (Alemanha – 2005) – 1 milhão
Sidney (Austrália – 2008) – 500 mil
Madri (Espanha – 2011) – 2 milhões
Rio de Janeiro (Brasil – 2013) -expectativa de 2,5 milhões
Saiba mais
Embora o número de inscritos até a semana passada seja de 350 mil jovens ao todo, a Igreja Católica trabalha com expectativa máxima de 2,5 milhões de participantes. A exemplo do que ocorreu em jornadas anteriores, a presença total de público é sempre bem superior à quantidade de inscritos.
O arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, já afirmou durante missa que, em Madri – onde ocorreu a última jornada, em 2011 -, foram 400 mil inscrições, mas a missa final chegou a 2 milhões de pessoas. “Em Copacabana ou no Campo Fidei [fazenda em Guaratiba, na zona oeste, onde será a missa final], pensamos em acolher 2 milhões de pessoas”, explicou dom Orani.
Fonte: O Povo
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