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Terra treme no Ceará

Uma rede de estações sismográficas foi instalada em Irauçuba, na semana passada
Uma rede de estações sismográficas foi instalada em Irauçuba, na semana passada

Iguatu De janeiro até a semana passada, foram registrados dez tremores de terra no Ceará, de magnitude entre 2.2 e 3.2 graus na Escala Richter, sentidos pelas pessoas nas áreas atingidas; e mais de 30 secundários, muitas vezes não perceptíveis pela população. A maior incidência neste ano ocorreu em Irauçuba, que registrou o mais recente (2.8 graus), no último dia 15, antecedido de uma série de pequenos sismos. Ceará e Rio Grande do Norte são áreas de maior ocorrência de abalos sísmicos no Nordeste.

>Áreas com maior incidência de tremores no Estado 

Ainda na semana passada, uma equipe de técnicos do Laboratório de Sismologia (LabSis) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Comissão Estadual de Defesa Civil (Cedec) esteve em Irauçuba para instalar uma rede provisória de oito estações sismológicas e fazer o trabalho de campo com palestra de orientação aos moradores e distribuição de cartilhas com medidas preventivas.

O chefe do Núcleo de Sismologia da Cedec, Francisco das Chagas Brandão Melo, lembra que o tremor de terra de maior intensidade, em Irauçuba, neste ano, ocorreu no distrito de Coité, área muito próxima ao epicentro do terremoto registrado em 1991, de 4.8 graus, na localidade de Juá, o maior da região Norte do Estado.

As estações instaladas em Irauçuba devem permanecer por seis meses, com o objetivo de estudar a série de sismos que vem ocorrendo desde o último dia 9. “Queremos entender o que a natureza quer dizer para nós”, observou Brandão. “Os tremores vão diminuir? Serão mais intensos e em maior quantidade? São respostas que não podemos dar”.

Quem já vivenciou um tremor de terra de intensidade em torno de 3.0 graus dos que ocorrem geralmente no interior cearense relata segundos de medo, móveis, portas e telhados tremendo e costuma-se ouvir um estrondo, que se confunde com um trovão.

Somente neste ano, de março a setembro, já foram observados dez tremores de magnitude acima de 2 graus e mais de 30 de menor intensidade, atingindo nove cidades: Beberibe, Quixeramobim, Jaguaruana, Meruoca, Alcântaras, Morada Nova, Granja, Camocim e Senador Sá.

Medidas simples devem ser adotadas pelos moradores no momento de um tremor de terra: ir para debaixo de uma mesa ou ficar no portal, protegendo o corpo e cabeça de queda de telha. Evitar proximidade com janela de vidro. Em seguida, passado o primeiro abalo, sair de casa, ir para uma área livre, distante de edificações.

Incertezas

Quando será o próximo, onde e qual a magnitude? A sismologia não tem respostas, mas sabe-se que quanto mais demorada a ocorrência do fenômeno há probabilidade de ser mais intensa por causa da energia acumulada. É o que nos ensina o professor Joaquim Ferreira, coordenador do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

No dia 20 de setembro, pela manhã, o LabSis/UFRN registrou um tremor de terra na região da Baixa Verde, ao Norte do Estado. Segundo a UFRN, o evento teve magnitude 3.6 e o epicentro foi no limite dos municípios de João Câmara, Pureza e Poço Branco. Área de intensa movimentação sismológica. Moradores das três cidades relataram terem sentido o fenômeno. “Foi rápido, cinco segundos, a terra tremeu e saímos todos de casa, com medo”, disse o agricultor Francisco Oliveira.

Os relatos dos moradores são semelhantes. Em março passado, um tremor na localidade de Boqueirão do Cesário, em Beberibe, assustou habitantes. “Estava dormindo e acordei com a grade da janela balançando. O armário também tremeu e houve um estrondo como se fosse um trovão”, contou, na época, a diretora do Centro de Educação Municipal Betesda, Dalva Silva, que mora na localidade de Boa Vista. “O tremor foi sentido em toda a vizinhança”, disse.

No Ceará, as ocorrências de tremores de terra são recorrentes na região da Serra da Meruoca, Irauçuba, parte do Litoral Leste e no Baixo Jaguaribe. O primeiro registro deste ano foi em 25 de março, na localidade de Boqueirão de Cesário, em Beberibe, de magnitude 3.0 graus na Escala Ritcher. O mais recente, no mês em curso, em Irauçuba, com cerca de 30 eventos entre os dias 9 e 15, sendo que o último chegou a 2.8 na Escala Ritcher.

Em abril, houve duas ocorrências. No dia 15 daquele mês, em Quixeramobim, de 2.5 graus. Dois dias depois, em Jaguaruana, sentido em Palhano, Itaiçaba e Russas, de 2.2 graus. Em maio passado, a terra voltou a tremer na Serra da Meruoca, em Alcântara e Sobral, com dois registros sismológicos, nos dias 5 e 13. Naquela região, os abalos vêm ocorrendo desde 2008, quando ocorreu evento de maior magnitude (4.2).

No último dia 4 de junho, abalo de 2.9 graus foi sentido em Morada Nova, Ocara, Cascavel e Beberibe. No dia 17 de agosto a terra tremeu novamente em Quixeramobim. Em todos os casos, não houve vítimas, apenas pequenas rachaduras nas casas, barulho e medo entre a população.

Mais de 40 municípios já registraram tremores de terra no Ceará. O primeiro registro é de 1807, em Pereiro. O maior abalo das regiões Norte e Nordeste ocorreu em Pacajus, em 1980, com 5,2 graus na Escala Ritcher. “É um fenômeno recorrente, e não previsível”, explicou Ferreira. O Estado tem cinco estações sismológicas permanentes, em Morrinhos, Sobral, Cascavel, Pedra Branca e Mauriti, que integram uma rede brasileira de sismologia operada em parceria entre a UFRN, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Nacional de Brasília (UnB) e o Observatório Nacional no Rio de Janeiro. Há ainda uma unidade isolada de observação no Açude Castanhão.

Castanhão

O segundo tremor de terra de maior intensidade no Ceará foi observado em 1991, em Irauçuba, com intensidade de 4.9 graus. Desde a construção do Açude Castanhão, na década de 1990, que há discussão e preocupação entre técnicos. Alguns apontam aquela área como sendo de falha geológica e susceptível a abalos sísmicos, por isso criticaram a localização da barragem. Outros defenderam argumentando não haver risco à estrutura de concreto.

Qual o risco de ocorrência de um tremor de terra danificar o Açude Castanhão? O professor Joaquim Ferreira, que desde 1979 estuda o fenômeno, reafirma: “Isso não se sabe. Não se pode prever”. A barragem é monitorada por equipamentos e técnicos, com acompanhamento antes e depois da construção.

FIQUE POR DENTRO

Os maiores registros do Brasil

1. Mato Grosso, 1955 – Na Serra do Trombador, de 6.6 graus na escala Richter, o maior da história do Brasil. Não houve morte nem danos

2. Espírito Santo, 1955 – Em Vitória, 6.3 graus. Susto, mas sem feridos ou danos

3. Rio Grande do Norte, 1986 – Em João Câmara, de 5.1 graus, provocando destruição de 4 mil imóveis.

4. Ceará, 1980 – Em Pacajus, magnitude de 5.2 graus, sentido na Capital.

5. Minas Gerais, 2007 – Em Itacarambi, atingiu 4.9 graus. Uma criança morreu e seis pessoas ficaram feridas, além de cinco casas destruídas

6. Acre/Amazonas, 2007 – Na divisa entre os dois Estados, tremor de 6.1 graus, sem registro de danos ou vítimas

7. São Paulo, 2008 – terremoto de 5.2 graus atingiu regiões do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro sem acidentes

Mais informações:

Comissão Estadual de Defesa Civil

Fone: (85) 3101-2115 e (85) 3101-4620

Laboratório Sismológico

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN)

Fone: (84) 3215-3796

Fonte: Diário do Nordeste

Zeudir Queiroz