Uma carta, supostamente escrita por detentos, reivindica melhorias na Unidade Penitenciária Francisco Adalberto de Barros Leal (UPFABL), antiga CPPL de Caucaia, conhecida como “Carrapicho”, e na Unidade Prisional Agente Luciano Andrade Lima (CPPL I), em Itaitinga. No texto datado em 3 de julho, os agentes penitenciários sãoameaçados de morte, caso não sejam atendidas as exigências.
De acordo com o Sindicato dos Agentes e Servidores do Sistema Penitenciário do Ceará (Sindasp/CE), a carta foi entregue ao motorista do ônibus incendiado no bairro Canindezinho, no último domingo, 5, por três bandidos envolvidos na ação criminosa. No texto, é exigido “respeito com os presos e suas visitas”, “atenção com a falta de água e de energia”, “cuidado com as comidas” e para não retirar “os presos de cela para bater”.
Para o presidente do Sindasp, Valdemiro Barbosa, a carta foi escrita dentro de uma unidade prisional e passada a uma visita no último domingo. Em seguida, esta pessoa teria entregado ao grupo criminoso que ateou fogo no ônibus. Segundo ele, o Sindicato teve conhecimento sobre o fato nesta segunda-feira, 6. “A categoria está apreensiva. Estamos tomando as providências e já acionamos a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). A gente percebe a total inversão de valores. Os agentes que têm que manter a ordem passaram a ser caçados por bandidos de forma explícita”, disse Valdemiro.
As reivindicações da carta sobre as condições precárias das unidades são compartilhadas pelo Sindasp. “O que foi relatado é verdade. As unidades estão sucateadas, não há investimento do Governo. As unidades estão em condições insalubres. Está muito complicado”, comentou o presidente do Sindicato. Valdemiro afirmou à reportagem que a associação está formalizando um pedido de audiência com o Governo para debater o assunto e tomar as providências necessárias.
Categoria
Após a divulgação da carta, agentes penitenciários procuraram o Sindicato. De acordo com Valdemiro, o último caso de agente penitenciário assassinado ocorreu em 2012, na CPPL I. “Recebi vários telefonemas e mensagens de agentes que estão nestas unidades. A gente sabe que o risco é muito grande. O último agente assassinado trabalhava na CPPL I. Os bandidos mais perigosos estão na CPPL I. Junto com a apreensão da categoria, têm o sentimento de indignação pelo que estamos vivendo e o sentimento de cobrança com a Sejus para que tome providências necessárias”, contou o presidente.
Um agente penitenciário, que preferiu não ser identificado, relatou a situação dentro das unidades prisionais. “O clima está pesado. Eles (detentos) ficam intimidando os agentes penitenciários. Em relação à segurança, é pequena, não tem qualificação dos agentes para ter acesso ao armamento. Eles já chegaram a dizer que sabiam o carro que a gente chega, onde a gente pega o ônibus. Através das visitas, eles sabem o horário que a gente chega, nossa fisionomia e a roupa que está vestindo. Eles têm todo o aparato para fazer qualquer coisa”.
Ainda segundo o agente, os detentos contribuem para o estado insalubre das unidades prisionais. “Eles recebem alimentação e ficam jogando no pátio. Quando recebem em dia de domingo, eles não querem e deixam expostas. Os gatos que têm lá começam a comer e fica toda a sujeira dentro da unidade. Eles reclamam, a gente comunica a direção e a limpeza é feita. Mas, a cultura deles é de destruição. A gente limpa, eles sujam”, comentou.
Resposta da Sejus
A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) enviou uma nota ao O POVO Online comentando o caso. A pasta disse que está acompanhando as investigações da Polícia Civil sobre a queima do ônibus e, caso se confirme alguma relação com internos do sistema penitenciário, o órgão adotará as providências cabíveis.
A Sejus também comentou as reclamações ligadas ao sistema, como falta de água e energia, a alimentação e maus tratos dos presos.
“O fornecimento de água e energia nas unidades é feito regularmente, tendo carros-pipas à disposição para complementar o fornecimento caso haja algum desabastecimento. Com relação aos alimentos, não existe qualquer desperdício ou descarte dos alimentos levados pelos familiares. Todos os alimentos são vistoriados antes de entrar e somente são dispensados se for identificado algum ilícito nos mesmos. A Sejus repudia veementemente a informação de que os presos sofram maus tratos por parte da administração prisional e pelos agentes penitenciários. A atual gestão pauta suas ações na humanização do sistema e denúncias nesse sentido são prontamente investigadas e, caso confirmadas, todas as providências necessárias serão adotadas”, informou a Sejus através de nota.
De acordo com a Secretaria, a pasta tem realizado ações para oferecer melhores condições às unidades, assim como reduzir o excedente populacional. Para a Sejus, “o Sindicato parece desconhecer as recentes ações da gestão nesse sentido”.
Fonte:Diário do Nordeste – Com informações da repórter Jéssika Sisnando
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