Quixadá. Promotores e pilotos de voo livre pretendem fazer essa modalidade de esportes de aventura decolar novamente, literalmente, em Quixadá, cidade cearense conhecida internacionalmente como o “Havaí do Voo Livre”. Um experiente voador, considerado um dos pioneiros no Ceará, Paulo Rocha, é quem anuncia a novidade. A Via Sertão, uma microempresa especializada em eventos dessa natureza, assumiu a administração da rampa da Serra do Urucum, ao lado do Santuário de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão. Agora busca parceiros para alavancar a prática no Estado e atrair esportistas de todos os cantos do mundo, o ano todo.
Melhorias
A estratégia, além de melhorar as condições de decolagens para asas-delta e parapentes ou velas, incluindo um melhor suporte receptivo e técnico, é atrair os praticantes todos os fins de semana, independentemente do período do ano. Atualmente, setembro, outubro e novembro são os meses mais procurados, em virtude das excelentes correntes de ar térmicas no Nordeste durante esse período. Com elas, os pilotos superam seus recordes pessoais e até mundiais. Alguns chegam a mais de 400 Km de distância. A mais tradicional competição de cross country do Estado, o X Ceará, e o Meeting Fly Quixadá são realizados nesses meses.
Conforme Paulo Rocha, os outros meses também são propícios para os voos. Além de decolagens mais suaves para os iniciantes e pilotos menos experientes. Quixadá fica a apenas 160 Km de Fortaleza, possui ótima estrutura hoteleira, bons restaurantes e atrativos noturnos nos fins de semana. O lugar é ideal para atrair os esportistas e acompanhantes. Além de ser a melhor do Ceará e do Nordeste, a rampa do Urucum desponta como uma das melhores do Planeta. Com as mudanças e o profissionalismo, está sendo redescoberta.
Antes, cabia à Administração Municipal arcar com as despesas do aluguel do espaço de decolagens, propriedade da Diocese de Quixadá. O valor desembolsado é de um salário mínimo por mês. Mesmo assim, ao longo dos anos, havia atrasos nos pagamentos e, quando os principais eventos, como o X Ceará e o Meeting de Voo Livre, iriam iniciar, os organizadores eram obrigados a correr para saldar as dívidas de utilização da rampa. Com a Via Sertão assumindo a administração do espaço esportivo, esse problema deve acabar e outras competições poderão ser realizadas. Essa é a expectativa de Paulo Rocha.
Apesar de a Via Sertão ter assumido a administração da rampa, a ideia é compartilhar as decisões e as responsabilidades sobre a manutenção. A captação dos recursos para os serviços virá de patrocinadores e de projetos com recursos públicos. Todos os pilotos, das duas modalidades, cearenses, brasileiros e também os estrangeiros deverão pagar somente uma taxa anual de R$ 100,00. Poderão utilizar a rampa quantas vezes quiserem e a qualquer dia do ano. A contribuição será utilizada para pagar o aluguel do espaço de decolagem. Havendo saldo, será investido em melhorias na rampa, ressalta o empreendedor.
O presidente da Associação de Voo Livre do Sertão Central (AVLSC), Artermir Júnior, confirmou o apoio da AVLSC ao piloto empresário Paulo Rocha neste ano. Todavia, na opinião dele, o espaço deveria ser de responsabilidade da administração municipal e assumido pela Associação. Como a entidade não tem fins lucrativos, além de assegurar os voos, jovens carentes da região poderão ser mais beneficiados. Hoje, 20 deles, de um total de 30 associados, recebem assistência da AVLSC. Além de aulas ainda podem utilizar os equipamentos de voo da Associação, doados por pilotos estrangeiros à entidade.
Na avaliação do analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em Quixadá, Raimundo Lima Filho, a proposta é interessante. Poderá assegurar a sustentabilidade econômica de utilização do espaço esportivo, por meio da geração de receita, grande gargalo para manutenção da estrutura. Não depender do poder público também é importante. Ele cita como exemplo o Sertão Esporte Aventura, o maior evento dessa natureza realizado no Estado. Há seis anos, a Prefeitura de Quixadá não teve mais interesse em promovê-lo. Como dependia de recursos públicos, apesar do apoio do Sebrae, não foi mais realizado.
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Quixadá (Seduma), Fabiano Barbosa, considera a iniciativa muito interessante e importante para o desenvolvimento do Município. Na avaliação dele, agora as ações poderão ser continuadas, sem a interferência da gestão publica. Além de colaborar com melhorias na infraestrutura, a Seduma poderá divulgar o voo livre e promover eventos culturais na rampa, para o público assistir enquanto os pilotos não decolam.
Para o presidente da Federação de Parapente e Asa-Delta do Ceará (Fepace), João Gui, o esforço do voador veterano Paulo Rocha é elogiável. Todavia, ele acredita ser mais viável a Prefeitura, maior beneficiada com os recursos financeiros deixados pelos esportistas na cidade, principalmente nos hotéis e restaurantes, custear as despesas do aluguel da rampa. A proposta é simples, basta a o Município fazer a permuta do IPTU de algum imóvel da Diocese pelo valor cobrado. Outros investimentos podem até partir da iniciativa privada, apontou.
Organização
Com as mudanças, Paulo Rocha também pretende acabar com a sazonalidade dos voos na Rampa do Urucum. O funcionamento regular favorecerá a organização dos voos cotidianos e eventos esportivos e turísticos. Mas haverá cobrança de brevês para instrução e voos duplos de instrução. O cumprimento das normas será importante para evitar problemas como o ocorrido em Canoa Quebrada, no Litoral Leste do Estado, onde os passeios de parapente foram suspensos pela Prefeitura de Aracati, no início do ano, após um acidente de um piloto com turistas.
A respeito dos voos duplos e triplos, Paulo Rocha ressaltou o cuidado de ser realizado somente com pilotos muito experientes. As condições de tempo também devem ser ideais para esse tipo de passeio. O foco, por enquanto, realmente são os pilotos, principalmente de outros estados e países. Esse tipo de turismo pode gerar mais dividendos para o Município. Pelos cálculos de Rocha, quando um deles chega ao Ceará permanece pelos menos uma semana, deixando em torno de R$ 2.300,00 em dividendos. Toda a cadeia receptiva da região é beneficiada.
Este ano é ideal para atrair os pilotos estrangeiros, na maioria europeus. Além do Dólar, o Euro está valorizado frente ao Real. O número de participantes do X Ceará e do Meeting Fly Quixadá deverá ser recorde e serão incentivados a retornarem mais vezes. Quixadá já conta com equipes de resgate e de salvamento, além das rotas viárias terem melhorado nos últimos anos.
A região também já conta com unidades de Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Em breve, além de Centro de Controle, a proposta é instalar também banheiros na rampa. Além das competições tradicionais, está sendo planejada uma prova anual. A proposta consiste em premiar os pilotos que tenham as maiores quilometragens de voos de distância livre, realizados em asa-delta e parapente, decolando da rampa do Santuário Rainha do Sertão. Três categorias da modalidade parapente e uma de asa-delta podem ser premiadas.
Os competidores poderão voar durante todo ano, mas, no primeiro semestre, os voos terão a validade com peso 2, até o mês de junho. A partir de julho, a contagem será real. A premiação anual almejada é de R$ 20 mil. A participação estimada é de pelo menos 50 pilotos, o suficiente para propiciar retorno financeiro para o Município, considerado apenas gastos com hospedagem e alimentação de R$ 1 mil para cada um deles.
Eles poderão participar do X Quixadá, contabilizando as sete melhores marcas. A contagem dos voos será feita pelo sistema XC Contest, no qual, por meio do sistema de posicionamento global, conhecido popularmente como GPS, são registradas as distâncias de voos dos pilotos. Não haverá taxa de inscrição. O pagamento da premiação será efetuado no dia 2 de janeiro de 2016.
Na avaliação do presidente da Fepace a proposta é interessante, mas, mesmo assim, a maioria dos voadores vai insistir em decolar no “Havaí do Voo Livre” somente no período das melhores condições térmicas. Atualmente Quixadá está perdendo esse espaço para Tacimba, na Paraíba, novo paraíso internacional para quem pratica esse esporte aéreo.
30 anos
O projeto de revitalização de Quixadá como point de esporte de aventura se justifica para comemorar os 30 anos da implantação do voo livre no Ceará, modalidade que se tornou realidade no Estado a partir de 1985, e os 20 anos do X Ceará, considerado uma das maiores competições de cross country do mundo, explica Paulo Rocha.
A meta é receber pelo menos 100 pilotos de outros países durante o ano e aumentar a média local em pelo menos 50%. “Atualmente apenas cerca de 20 pilotos, a maioria do Sertão Central, utilizam semanalmente a rampa do Santuário”, acrescenta o empresário.
Para comemorar as três décadas, a ACVL também pretende realizar o seu circuito anual. Conforme João Gui a competição deverá ter seis etapas, sendo em Pacatuba, Guaraciaba do Norte, Tianguá, Ipueiras, Meruoca e Quixadá. As provas têm início previsto para agosto.
Por enquanto, está certa apenas a realização do Encontro Nacional de Pilotos e Instrutores de Voo Livre, previsto para novembro. Deverá ser realizado em Fortaleza ou Quixadá.
SAIBA MAIS
300 mil é número estimado de pilotos no mundo
15 mil praticam voo livre no Brasil
120 é o número de associados ativos na ACVL
85 são pilotos de vela ou parapente
35 decolam com asa-delta
Mais informações:
Via Sertão
(88) 9754-0892
Federação de Parapente e Asa Delta do Ceará (Fepace)
(85) 9613-1413
Alex Pimentel
Colaborador
Fonte: Diário do Nordeste
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