Iguatu. Nos últimos dez anos houve uma verdadeira revolução tecnológica. Os meios de comunicações foram um dos setores que mais se modernizaram. Telefonia celular, Internet e seus programas de transmissão mundial de dados, voz e imagem avançaram. Em meio a esse ritmo crescente de evolução técnica, os radioamadores permanecem ativos e com regularidade promovem encontros para troca de informações, confraternização e venda de eletros.
É verdade que o grupo de radioamadores está ficando restrito em relação a um passando não tão longínquo e que a maioria é formada por antigos adeptos do hobby de se comunicar por rádios. Mesmo assim, há renovação. Profissionais acima dos 40 anos de idade aderem ao radioamadorismo.
Retrato
Um retrato dessa realidade foi o recente encontro de radioamadores realizado na cidade de Cedro, na região Centro-Sul do Ceará. O movimento reuniu adeptos do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Houve explanação sobre legislação, mudanças tecnológicas, feira de troca e venda de produtos novos e usados, e confraternização.
Da cidade de Campina Grande veio Mário Sérgio de Farias, 82 anos, comerciante aposentado e radioamador há mais de 40 anos. “Trabalhava com venda de equipamentos de telefonia e eletrônicos e vi que havia carência no mercado de produtos de comunicação para radioamador”, explicou. “Decidi importar e comercializar esses itens”. Logo, Farias tomou gosto e decidiu ser um radioamador.
João Miceno, 43 anos, patrulheiro rodoviário federal, há dez anos começou na cidade de Cedro a operar um rádio antigo, Delta, de saída de válvula, herdado do pai, Fernando Lima, antigo radioamador na cidade de Cedro. Tomou gosto pelo hobby e montou uma repetidora que amplia o sinal de rádio e facilita a comunicação no município.
O ajudante de pedreiro, Francisco Idueibio Alves, 41 anos, é um dos mais recentes radioamadores. Na cidade de Souza, no sertão da Paraíba, investiu cerca de R$ 3 mil em compra de equipamentos de radiotransmissão. “Vi alguns amigos, falando no rádio, e despertou em mim o interesse”, contou.
Todas as noites, Idueibio Alves, participa da rodada de conversa denominada ‘Amigos do sertão’, que tem como base, a cidade de Afogados de Ingazeira, em Pernambuco. Aos domingos, pela manhã, participa da ‘Rodada do cuscuz’, instalada na cidade de Patos, na Paraíba. O grupo Dinossauros de Rádio Amadores, da cidade de Souza, na Paraíba, foi o que mais reuniu participantes no encontro.
Interesse
A maioria dos radioamadores prefere falar em dificuldades, redução do quadro de adeptos e perda de espaço social ante o avanço dos meios de comunicação. “Jovem mesmo não vejo aderindo, mas acima dos 40 anos aparecem pessoas interessadas”, disse Cláudio Oliveira.
O presidente da Liga Brasileira de Rádio Emissores (Labre), seção do Ceará, Daniel Queiroz, 67 anos, rebate que a internet e os celulares não são entraves para o desenvolvimento do radioamadorismo. “Há uma convivência técnica do rádio com a Internet”, explicou. “O avanço tecnológico favorece a rádio emissão, o uso de aparelhos pequenos, práticos e baratos”.
Queiroz analisa que a maior dificuldade refere-se à prova que exige conhecimento de telegrafia, de código Morse. O teste é promovido pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para radioamador classe A e B. O exercício da atividade e é uma concessão pública. Para a classe C, iniciante, exige-se apenas conhecimento de legislação, ética e operacional. Na classe A, o Top da categoria, opera em todas as frequências: UHF, VHF, HF e HT (Hand Talk).
Custos
Miceno lembra que um rádio receptor ligado à Internet por meio de computador permite comunicação mundial. Custa apenas cerca de R$ 450,00. “Tem bateria e permite comunicação mesmo sem energia elétrica”, observa. “Outros rádios fazem comunicação em áreas onde não há sinal de Internet”.
No presente, os rádios amadores lutam pela aprovação de projeto de lei que reduz ou mesmo isenta de impostos de importação a entrada de equipamentos para uso de radioamadores. A ideia é reduzir preço, tornando mais acessível os equipamentos, que agora são fabricados também pela China, além da tradicional industrial japonesa.
No passado, há muitas históricas curiosas envolvendo radioamadores. Quando o Açude Orós que estava em construção em 1960, arrombou causou destruição no Vale do Jaguaribe. Os radioamadores evitaram tragédia comunicando-se com outros colegas de cidades abaixo do reservatório, evacuando a população ribeirinha.
A escritora Rachel de Queiroz era radioamadora e tinha o prefixo PT 7 ARQ, lembra Daniel Queiroz. O pai de João Miceno, em Cedro, Fernando Lima, em 1969, com o uso de lanterna ajudou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em pane, a fazer um pouso de emergência no campo da cidade, no início da noite. Há muitas histórias curiosas envolvendo a atividade.
No entanto, há otimismo no ar, segundo os praticantes da modalidade. O futuro da radioemissão está nas mãos dos veteranos e dos novos adeptos. A tecnologia com uso de ferramentas e programas modernos permite a convergência com rádio e celular.
HONÓRIO BARBOSA
Repórter
Mais informações:
Liga de Amadores Brasileiros de Radioemissão (Labre)
www.labre-ce.org.br
www.labre-ce.blogspot.com.br
Fonte: Diário do Nordeste
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