Os municípios que não integram o Eixão das Águas, também poderão ficar desabastecidos pela escassez de chuvas
Fortaleza Pelo menos 20 cidades cearenses deverão iniciar agora um programa de “racionamento severo de água”, por conta do colapso nos reservatórios. A seca prevista para este ano ainda não definiu o contingenciamento para Fortaleza e algumas cidades da sua região metropolitana, mas haverá um plano de fornecimento para uso racional, com o combate ao desperdício e ligações clandestinas. Em localidades não atendidas pelo Eixão das Águas, como Aquiraz, a perspectiva é de racionamento ainda neste ano.
As medidas foram anunciadas, ontem, pelo coordenador de Infraestrutura Hídrica, da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Yuri Castro, um dia após o anúncio do prognóstico da quadra chuvosa para o Ceará, feito pela Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme). Pela análise, há 64% de probabilidade de chuvas abaixo da média nos próximos três meses. Ele não nomeou as cidades que sofrerão racionamento de imediato.
Yuri Castro explicou que o “racionamento severo” implicará em dois ou mais dias sem água para abastecimento humano. Ele ressaltou que a situação mais grave, dentre outras cidades, inclui os municípios de Coreaú, Moraújo, Senador Sá, Uruoca e São Luis do Curu, sendo este um dos que mais preocupam porque se exige a construção de uma bateria de poços profundos e a manutenção de carros-pipas para atendimento das demandas, sobretudo, na área urbana.
Yuri informou que o governo vai requerer, por meio da Procuradoria Geral do Estado (PGE), a dispensa de licitação para perfuração e instalação de poços profundos, em vista da situação emergencial apresentada pela estiagem. “O problema é que são necessários quase 12 meses para a aquisição de máquinas perfuratrizes, o que representa muito tempo diante da emergência do problema. Também contamos com algumas máquinas e entendemos que o prático será a contratação de poços já perfurados e instalados”, afirmou.
Repercussão
O anúncio do prognóstico da quadra chuvosa aumentou as preocupações de prefeitos e lideranças comunitárias no interior. Em Caridade, o líder comunitário Francisco Alves teme a migração de pessoas residentes no campo para as grandes cidades, tendo em vista a falta de água e de comida para a sobrevivência das comunidades. “Que Deus tenha compaixão de nós porque a ação dos homens não atende a tempo”, disse, ontem, em tom de súplica, o diretor de Política Agrícola do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Crateús, Luís Gomes, ao comentar o prognóstico da quadra chuvosa divulgado pela Funceme para 2015.
O prefeito de Paramoti, Samuel Boyadjian lembrou que, em 1915, o Ceará enfrentou uma das suas maiores crises de água da história. Passados 100 anos, a cena se repete. “Nosso município é pobre e, se não vier ajuda dos governos em caso de nova seca, como o previsto, vai ser dramático”, disse.
O prefeito de Itatira, Antônio Almir, lembrou dos danos causados pela estiagem que começou em 2012, quando as chuvas ficaram quase 50% abaixo da média histórica e lamenta que, neste ano, a Funceme prevê uma situação parecida, o que agrava ainda mais a recarga dos açudes.
A secretária geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Ceará (Fetraece), Erivanda França, reafirmou que a situação é de enorme preocupação. “A gente vem de uma sequência de estiagem, de chuvas irregulares”, apontou. “Os pequenos e médios açudes secaram, as cisternas também e a população sofre com a falta de água”. Erivanda França disse que a direção da Fetraece vai solicitar audiência com o governador Camilo Santana para expor a situação de falta de água em várias comunidades rurais. “Infelizmente, as ações do governo não atendem à demanda”, disse a líder da entidade.
“É um rolo compressor. Em 2014, a previsão de chuvas abaixo da média histórica para os meses de fevereiro e abril foi de 40%, agora para 2015 é de 64%”, disse o prefeito de Canindé, Celso Crisóstomo. Ele defende um “orçamento de crise” por parte dos governos Federal e Estadual, além de um grande investimento na perfuração de poços profundos nas comunidades rurais. Celso acredita que, sem chover, ficarão até sem função os carros-pipas, uma vez que aumenta cada vez mais o número de açudes secos.
O prefeito de Canindé também reclamou da qualidade de água existente nos reservatórios, quer as que são tiradas pelos carros-pipas, ou mesmo pelas populações residentes na zona rural do município. O criador João Ferreira de Castro, da comunidade de Barra do Caxitoré, no município de Tejuçuoca, mostra o que restou da água de seu açude. “Isso não serve mais nem para João de Barro fazer sua casa. Vai ser uma desgraça na vida do povo do sertão. A fome e a sede é que vão mandar”, disse.
Adutora
O governo anunciou a perfuração de mais poços profundos, mas o ritmo de trabalho não atende por ano 20% da demanda existente na Secretaria de Recursos Hídricos.
No município de Iracema, as lideranças estão mobilizadas com o objetivo de conseguir uma adutora de engate rápido para levar água do açude Figueiredo. “A partir de março, há risco de faltar água”, disse o secretário de Finanças do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iracema, Valderi Pimenta. “As cisternas estão secando e deveriam ter sido construídas mais cem cisternas calçadão, mas só a metade foi concluída”.
Mais informações:
Secretaria de Recursos Hídricos Centro Administrativo do Cambeba
Av. General Afonso Albuquerque Lima, S/N – Fortaleza
Telefone: (85) 3101.4028
Marcus Peixoto / Sucursais
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
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