O sucesso fez com que o Conpam vislumbre sua aplicabilidade em locais suscetíveis à disertificação
Fortaleza O Projeto Mata Branca poderá ampliar seu raio de ação no Ceará sendo integrado ao Projeto São José III, beneficiando também as comunidades rurais das regiões de Irauçuba e Médio Jaguaribe, além da já contemplada Inhamuns, áreas estas suscetíveis à desertificação.
A Caatinga é um bioma típico do Nordeste brasileiro. O projeto ambiental do Ceará e da Bahia buscou contribui para o desenvolvimento sustentável desse ambiente. Abrangeu 226 comunidades e 2.113 famílias FOTO: CID BARBOSA
Para tanto, o Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam) vem negociando com a Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) a abertura de editais com projetos que envolvam o São José III, mas que sejam voltados ao Mata Branca.
A novidade foi anunciada ontem durante o seminário final do Projeto de Conservação e Gestão Sustentável do Bioma Caatinga, realizado nos Estados da Bahia e Ceará, o Mata Branca. Na ocasião foram avaliados os resultados da iniciativa. O evento foi promovido pelo Conpam reunindo comunidades beneficiadas e instituições parceiras.
O Mata Branca é um projeto dos governos cearense e baiano visando contribuir com a preservação, conservação, uso e gestão sustentável da biodiversidade do bioma Caatinga, melhorando a qualidade de vida de seus habitantes através da introdução de práticas de desenvolvimento sustentável.
De acordo com o presidente do Conpam, Bruno Sarmento de Menezes, por ser um projeto amplo, a ideia do Conselho é dar continuidade à iniciativa, desta vez de forma mais direcionada. “Com o sucesso do projeto pretendemos prosseguir com microprojetos que se identifiquem com a particularidade das comunidades beneficiadas. Para tanto, vamos buscar recursos e novos parceiros”, explica.
Resultados
Durante o evento foram destacados os resultados dos três componentes do projeto, no Ceará: o apoio a instituições e políticas públicas para gestão integrada; a promoção de práticas da gestão integrada dos ecossistemas e o monitoramento e a avaliação das atividades desenvolvidas.
No primeiro item, a iniciativa capacitou membros do poder público municipal e os beneficiados, como agricultores rurais, pelo projeto com cursos como educação ambiental e reaproveitamento de espécies de caatinga.
No segundo componente foram apoiados, técnico e financeiramente, 72 projetos em Tauá, Crateús, Independência, Novo Oriente, Parambu, Catarina, Aiuaba e Quiterianópolis, atendendo 226 comunidades e 2.113 famílias, por meio da adoção de práticas como consumo sustentável, agroecologia, apicultura, manejo de solo e água, reciclagem e recuo de água.
Ainda neste contexto, no Estado foram capacitadas 1.760 pessoas, em 68 municípios do Sertão Central e dos Inhamuns. Quanto as áreas protegidas, foram criadas duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural e três áreas estão sendo finalizadas entre Conpam, Associação Caatinga, com apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Com relação ao último componente foram realizados pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) em sete dos oito municípios vinculados ao projeto, mapeamento do uso e ocupação do solo a partir de imagem por satélite, a fim de caracterizar a forma de uso da Caatinga e a situação de conservação deste bioma.
Foi realizado ainda um trabalho de desenvolvimento de conhecimentos sobre a aplicabilidade do Mata Branca por meio de eventos e seminários tratando de educação ambiental tendo como instrumento de ensino o álbum de figurinhas “Amigos da Mata Branca”, idealizado pela Unidade Gerencial do Projeto.
Para a assessora de projetos especiais do Conpam, Tereza Farias, esta foi uma experiência exitosa. “O projeto chegou como mecanismo de integração de outros projetos nos dois Estados com uma perspectiva regional. E o mais interessante é que, mesmo sendo Estados sem divisa geográfica, conseguiu-se um grande nível de entrosamento”.
Segundo ela, a iniciativa surgiu quando os governos do Ceará e da Bahia, por meio de um estudo, detectaram que o maior potencial do bioma de Caatinga está no Nordeste, sendo a região a detentora de 62% . Foi percebido também que haviam poucos projetos na área ambiental.
Investimento
O Projeto de Conservação e Gestão Sustentável do Bioma Caatinga, Mata Branca, surgiu de um acordo de doação, financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente e Banco Mundial, no valor de US$ 23 milhões, entre eles US$ 13 mi em contrapartida dos Estados em serviços e US$ 10 mi em valor financeiro, sendo 50% para cada Estado, no período de 2007 a 2013.
A especialista ambiental sênior do Banco Mundial, no Brasil, Bernadete Lange, avalia que o investimento foi bem aplicado revelando que este é foi o primeiro Projeto, no Brasil, de investimento específico no Bioma Caatinga. “Investe-se muito em outros projetos como os voltados à Mata Atlântica, por exemplo”.
Para ela o seminário para destacar os resultados do Mata Branca foi um evento relevante. “Ele revelou a integração de esforços de todos os envolvidos, inclusive das comunidades beneficiadas, pessoas estas responsáveis pela conservação da Caatinga.
Entre as comunidades beneficiadas pelo projeto Mata Branca, e presentes ao seminário, está Fidelis, local que abriga quilombolas e indígenas, e situado próximo a Quiterianópolis.
Francisca Eliete Demétrio da Silva é uma quilombola e revela que a iniciativa transformou a sua realidade e de seus pares. “Era tudo muito difícil e a convivência com o projeto mudou tudo, vivemos bem agora. Antes a gente desmatava e agora plantamos. Nós somos em 50 pessoas envolvidas que, com o projeto, construímos muitas coisas, dentre elas uma horta, uma casa de abelha e fizemos até uma cerca com produto de reflorestamento. Hoje sabemos preservar, damos valor à Caatinga”, diz.
O projeto mudou também a vida do indígena Antonio Rodrigues de Oliveira, da etnia Tabajara, e morador também da comunidade de Fidélis. Segundo ele, o Mata Branca fez a diferença na vida de todos que ali vivem. “Hoje está tudo mudado. Era uma vida difícil e agora não. O projeto veio para modificar nossa vida. Vejo que hoje somos mais desenvolvidos e respeitamos a Caatinga, quando se fala em preservação e reflorestamento”.
Mais informações:
Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam)
Rua Osvaldo Cruz, 2366,
Dionísio Torres
Telefone: 3101.1234
DENISE NUNES
REPÓRTER
Do Diário do Nordeste
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