A pequena São Gonçalo do Amarante tem 45 mil habitantes e um Produto Interno Bruto de R$ 660 milhões. Parte da Cidade, o Pecém deve quadruplicar sua população em dez anos, de acordo com estudo do Governo do Estado. Duas das cerca de dez empresas com previsão de instalar-se ali somam investimento de R$ 30 bilhões, 45 vezes toda a riqueza que a cidade produz em um ano.
De tão grandes, os números quase não cabem no município. As praias que, outrora, recebiam principalmente os mais abastados em época de férias, convivem com ocupações irregulares. Os ventos de agosto levam o cheiro da maresia, mas também o da fumaça das queimadas, provocadas por quem busca terrenos para investir ou morar. Além das áreas verdes, a população também é castigada. “A senhora me deixa fazer uma denúncia? A gente só quer um lugar para morar. Eu morava ali debaixo daquela mangueira, mas me juntei com esse grupo para brigar por essa terra aqui”, pede um senhor que ocupava um terreno invadido por manifestantes.
Em alguns pontos, o mar não é para banho, poluído por quem faz dele esgoto. A falta de saneamento também ameaça a qualidade da água que serve à população, maior parte provinda de poços, de acordo com a secretária Michele Matos, moradora da região. Outra denúncia vem de da comerciária Sandra Teidxeira: “Vocês estão fazendo uma reportagem? Pois coloca aí o problema que tem ali onde moro, no Acende Candeia (bairro da sede municipal). Lá não tem água encanada e a água do poço secou. Precisamos do carro pipa da Prefeitura”, pede.
Com mão de obra majoritariamente masculina, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) tende a mudar o perfil demográfico da cidade. “A quantidade de trabalhadores também é uma preocupação, por conta da exploração sexual e das drogas”, diz Rosana Garjulli, que está à frente do Conselho de Altos Estudos da Assembleia, responsável pelo Pacto pelo Pecém.
Até a violência, que não era uma realidade dos moradores, começa a se fazer presente, levando-os a tomar muito mais cuidado ao sair de casa, para evitar que a moto seja furtada.
No hospital é que se pode ser perceber com clareza o quanto a cidade já mudou ,segundo Michele. “De cada dez mulheres que dão entrada em trabalho de parto, seis são adolescentes e quatro têm menos de 13 anos”, afirma
Oportunidades
O momento pelo qual passa São Gonçalo do Amarante é determinante para seu futuro. Afinal, os gigantes que aportam no município podem levar muitas oportunidades.
As empresas oferecem empregos, capacitação e melhorias na renda das famílias. “Essas pessoas vão precisar de mais comida e vão surgir mais supermercados. Vai ter cinema, salão de beleza. Vão circular mais carros, aí terá uma loja de carros. Eles vão rodar mais e gastar mais pneus e vai precisar de loja de pneus”, enumera Marco Chiorboli, presidente da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).
A nova economia requer investimentos em infraestrutura, capacitação e planejamento. De acordo com o urbanista Fausto Nilo, a herança a ser deixada para São Gonçalo do Amarante e Caucaia, que também sofre impactos diretos do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), depende de planejamento urbanístico. Isso pode dar aos municípios “o inferno ou o paraíso”.
Por que
ENTENDA A NOTÍCIA
O Pecém ficou grande demais para São Gonçalo do Amarante. O município teve crescimento de 3% no número de habitantes em dois anos e já sofre com a falta de infraestrutura. A cidade corre contra o tempo para suportar ter sua população quadruplicada em dez anos
Números
45 mil habitantes é a população de São Gonçalo em 2012
180 mil habitantes é a população que a cidade deve ter em dez anos
660 bilhões de reais é o PIB de São Gonçalo do Amarante
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